É tema de interesse cultural, histórico, antropológico e linguístico conhecer de onde vieram os 6.912 idiomas falados em todo o mundo, dados retirados dos compêndio Ethnologue, considerado o maior inventário de línguas do planeta. O livro, editado desde 1951, é uma espécie de bíblia da linguística, indicando quais são as línguas em uso, onde elas são faladas e quantas pessoas usam o idioma. De acordo com os organizadores desse famoso livro, o total de línguas no planeta pode ser até maior. Estima-se que haja entre 300 e 400 línguas ainda não catalogadas em regiões do Pacífico e da Ásia. Mas a pergunta que fica hoje para nós: De onde vieram esses idiomas?
Descobriram os linguistas que todos esses idiomas descendem de um único tronco, o indo-europeu, ou à grande família das línguas indo-europeias, que podem ser divididas em 5 ramos: 1) o helênico, de onde veio o idioma grego; 2) o românico, que originou o português, o italiano, o francês e uma série de outras línguas denominadas latinas; 3)o germânico, de onde surgiram o inglês e o alemão; 4) o céltico, que deu origem aos idiomas irlandês e gaélico; 5) o ramo eslavo deu origem a outras diversas línguas atualmente faladas na Europa Oriental.
Sob esse olhar, no século XVIII, descobriu-se o parentesco entre o sânscrito e as línguas europeias e no arcabouço nasceu a Linguística Histórica, ciência dedicada a investigar essas similaridades. A tese da origem comum foi proposta em 1786 por Sir William Jones, um jurista inglês cujo passatempo era estudar as culturas orientais. A partir de então, os linguistas europeus passaram realizar duas tarefas: a) primeira: refazer passo a passo a árvore genealógica dessa família, trilhando a história de sua evolução; b) segunda: reconstituir a língua perdida que dera origem a todas: o indo-europeu.
Todavia, essa tarefa de reconstituição não se faz às cegas, ou por ensaio e erro. A pesquisa percorre o caminho aberto pelas leis linguísticas, resultantes de numerosos estudos capazes de apontar como os sons e os sentidos das palavras evoluem no tempo, promovendo a transformação das línguas. Essas leis são estabelecidas a partir de comparações entre palavras. No século passado, por exemplo, o trabalho dos linguistas se apoiou fortemente numa lei formulada em 1822 pelo alemão Jacob Grimm (1785-1863), mais conhecido pelos contos de fadas que escreveu com seu irmão Wilhelm, entre os quais Branca de Neve e os sete anões.
A lei de Grimm foi um passo gigante, porque entre tantas coisas ele disse que uma consoante forte ou sonora (pronunciada fazia vibrar as cordas vocais) tendia a ser substituída por sua equivalente fraca ou surda (pronunciada sem vibração das cordas vocais). O “b” e o /p/constituem um par desse tipo, assim como o /d/ e o /t/. /B/ e “d” são fortes, /p/ e /t/ são fracas, como se pode comprovar, pronunciando-os com a mão na garganta. Dessa forma, os linguistas puderam estabelecer um modelo confiável das relações familiares entre as línguas.
Sobre a localidade do indo-europeu, até os anos 40, os pesquisadores acreditavam que o berço dele estava situado no norte da Alemanha e da Polônia. Essa teoria, sustentada por deduções bastante ingênuas, foi usada nada ingenuamente pelos nazistas para confirmar sua teoria de que a raça tida como pura dos arianos surgira ali mesmo. Muito necessita ser estudado, mas o que se sabe, com certeza, é que as línguas do grupo indo-europeu são faladas por aproximadamente três bilhões de falantes nativos no mundo. O português é um desses idiomas de grande expressão.
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DICAS DE GRAMÁTICA
TRÁS E TRAZ, COMO USAR?
– A palavra ‘trás’ é um advérbio de lugar que indica uma situação posterior, ou seja, após, atrás. Exemplos:
- Crianças devem viajar no banco de trás.
- Os documentos estão guardados por trás do armário.
– A palavra ‘traz’ é a forma conjugada do verbo ‘trazer’, na 2º pessoa do singular do imperativo ou da 3ª pessoa do singular do presente indicativo. Trazer significa transportar, levar ou encaminhar para perto de quem fala, assim como também pode ser sinônimo de vestir, oferecer, atrair, apresentar, herdar, manter, sugerir, etc. Exemplos:
- Traz esse livro aqui, rapaz!
- Não se preocupe, o professor traz todo o material de aula.
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Luísa Galvão Lessa Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Presidente da Academia Acreana de Letras; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro perene da IWA.