Olha eu por aqui de novo. Andava meio que sumido desse espaço, mas a efervescência do debate no dia a dia nos traz de volta aqui. Nesse sentido, hoje quero comentar sobre o cenário político desses últimos 10 meses de governo Gladson Cameli. Não podemos nos furtar de comentar, debater, elogiar, criticar, afinal, um governo tem seus erros e acertos.
Para quem acompanha a política do Acre sabe como tem sido esses 10 meses. Não existe monotonia. Todo dia, ou mesmo a cada hora, um cenário novo se aponta. O que leva à sensação de instabilidade de decisões. Parece a música do Raul Seixas, Metamorfose Ambulante. “Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes”. Ou seja, há mudanças a todo momento. Falta sintonia em alguns aspectos.
A administração pública tem pilares balizadores para nortear o gestor. Mas, o que parece é que há dois tipos de decisões sendo tomadas no governo. A política e a administrativa. Enquanto, se as duas não sentarem e afinarem para uma somente, o governo viverá essa efervescência de idas e vindas. Foi assim no caso do jatinho. Não ia contratar, não precisava, e acabou contratando. O mesmo se deu com os comissionados. Não se queria tantos cargos comissionados e depois ampliou para mais 400 cargos.
Depois, o governo se revoltou com os deputados da base aliada e mandou exonerar todos os indicados e culpa a lei de responsabilidade fiscal e o limite de gastos para tal medida. Dias depois, volta a dialogar com a base, reconduz o primeiro líder ao posto na Aleac e aos poucos vai tornando sem efeito todos os decretos de exoneração. E o discurso da LRF ficou para trás.
Por último, o governo envia para a Assembleia a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A matéria tramita, o presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, deputado Chico Viga (PHS) vai à exaustão de tanto dialogar com a base governista, os poderes e a equipe da Sefaz. Aprova-se a proposta. O governo veta pontos do texto, os parlamentares derrubam os vetos. Insatisfeito, o Executivo envia outra proposta ao Parlamento para que seja mantida a redação da LDO enviada por ele.
Ou seja, o Palácio Rio Branco pegou tudo que a Assembleia tinha discutido e jogou na lata do lixo. Tipo quando a gente é criança e o coleguinha de classe vem e rasga teu desenho mais bonito e feito com muito cuidado. O que resultou: atrito entre os poderes.
Não adianta o governador Gladson Cameli dizer que almoçou com o desembargador Francisco Djalma, presidente do TJ-AC, que a comida estava ótima. Há uma tensão aí nas entrelinhas. O Judiciário não gostou da mudança feita na LDO e na quebra de acordo antes firmada com todos os poderes.
O erro era para ter sido identificado lá atrás. Prometera uma coisa que não pode ser cumprida. Teve que ser refeita. E deu nisso. A manifestação dos servidores do TJ-AC ontem, 30, deixou isso bem claro. O governo terá que estar atento para evitar de cometer novos equívocos e assim comprometer o andamento da gestão.
(*) José Pinheiro é jornalista, graduado pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e atua na imprensa acreana desde 2012.