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A BUSCA DA FELICIDADE

A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade. É ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar dinheiro, gastar dinheiro, fazer amigos, brigar, casar, separar, ter filhos e depois protegê-los. A busca da felicidade nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas. Porém, a cada uma dessas vitórias surge uma nova necessidade. Assim, muitas vezes, o ser humano caminha numa busca incessante, num círculo, numa eterna procura.

É fato que todas as pessoas desejam ser felizes. Agora são poucas aquelas que procuram motivos e se esforçam para alcançar a felicidade. Pouca gente percebe que a felicidade está na medida de harmonia que o ser humano pode manifestar a si mesmo, aos outros e ao ambiente no qual vive. Muitas pessoas fazem diversos cursos, leem livros de autoajuda ou esotéricos e não se dão conta de que a procura da felicidade é, antes de tudo, uma jornada ao mundo interior, ao encontro consigo. Não é dinheiro ou prazer, antes uma viagem ao mundo interior na descoberta da própria alma, do encontro do “eu”.

Estudar é bom, traz maiores conhecimentos, mas não é suficiente para trazer a felicidade. Quando alguém se propõe a fazer algo é preciso aprender e colocar em prática o que foi ensinado pela vida. Enquanto não se utiliza as ferramentas transmitidas pela vida, apreendidas pelo amor ou pela dor, a pessoa vai continuar a rodar em círculos, tentando encontrar a felicidade fora do seu eu, reclamando da vida, dos outros, do mundo, quando a culpa é toda pessoal.

E, nessa direção, há tanta gente fazendo um esforço grandioso para demonstrar felicidade aos outros e sofrendo por dentro uma dor de ansiedade, busca acelerada, no sofrimento de procura. A felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade. Por isso, a busca pela felicidade deixa tanta gente estressada, insatisfeita, triste, infeliz, mal-humorada.

Curioso é que sendo a felicidade o sonho humano mais acalentado, o assunto sempre foi desprezado pelos cientistas. Somente na última década um número cada vez maior deles — alguns influenciados pelas ideias de religiosos e filósofos — tem se esforçado para decifrar os segredos da felicidade. A ideia é finalmente desmascarar esse truque da natureza. Entender o que nos torna mais ou menos felizes e qual é a forma ideal de lidar com a ansiedade que essa busca infinita causa ao ser humano.

O psicólogo americano Martin Seligman (2002), da Universidade da Pensilvânia, concluiu que felicidade é, na verdade, a soma de três coisas diferentes: prazer, engajamento e significado. O prazer é aquela sensação que costuma tomar nossos corpos quando dançamos uma música boa, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo, namoramos ou comemos chocolate. Um jeito fácil de reconhecer se alguém está tendo prazer é procurar em seu rosto por um sorriso e por olhos brilhantes. Já engajamento é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e a vida. Uma pessoa engajada está absorvida pelo que faz, participa ativamente da vida dando sentido aquilo que faz. E, finalmente, significado é a sensação de que a nossa vida faz parte de algo maior, um mundo complexo e grandioso que se deve compreender.

A vantagem da ciência em concentrar a felicidade em três aspectos é facilitar os objetivos do viver humano. Há pessoas que buscam somente o prazer, outras o engajamento, e outras o significado ou sentido da vida. Juntar as três coisas é fundamental para encontrar a resposta do que seja a felicidade e sentir, plenamente, o sentido do viver.

Ainda, segundo o cientista Martin Seligman (2001), um dos maiores erros das sociedades ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade em apenas um dos três pilares, esquecendo os outros. E geralmente as pessoas escolhem o mais fraco pilar: o prazer. Depois que o encontram vem o vazio, o frio, o abandono, a ansiedade, a tristeza, a melancolia, o desengano, a pouca fé, o esmorecimento, a perda de coragem para lutar, seguir adiante. Vem a fragilidade que conduz à acomodação de seguir um dia após o outro, sem nada fazer por si, desejando que alguém lhe faça tudo, que Deus opere o milagre.

Mihaly Csikszentmihalyi (2002), pesquisador da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, estuda um fenômeno cerebral chamado “fluxo”, que ocorre quando o engajamento numa atividade torna-se tão intenso que dá aquela sensação boa de estar completamente absorto, a ponto de a pessoa esquecer-se do mundo, perder a noção do tempo. Ou seja, é um estado de alegria quase perfeita. Isso é bom, é felicidade.

O pesquisador americano Richard Davidson (a felicidade está de volta, 2000), da Universidade de Wisconsin, observou, em laboratório, que as pessoas em estado de fluxo ativam uma região do cérebro chamada córtex pré-frontal esquerdo, o que pode ter uma série de efeitos no organismo, inclusive um melhor funcionamento do sistema imunológico. Ao longo de um estudo realizado na Holanda, pessoas que entraram em fluxo tiveram seu risco de morte reduzido em 50%, por reagirem melhor a doenças.

Quanto ao terceiro pilar da felicidade, o significado, o jeito tradicional de conquistá-lo é, segundo estudiosos, via religião. Há milênios, a humanidade encontra alento na crença de que cada ser humano faz parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que pessoas religiosas consideram-se, na média, mais felizes que as não religiosas. Elas também têm menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos. A crença de que Deus observa seus filhos, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael McCullough (1996), da Universidade de Miami, é um conforto, uma garantia de que, no final, as injustiças serão corrigidas e todos os esforços reconhecidos.

Para concluir, por agora, há uma regra da qual especialista nenhum discorda: ter amigos (e nem precisam ser muitos) ajuda a ser feliz. Amigos contam pontos nos três critérios: trazem, ao mesmo tempo, prazer, engajamento e significado para nossas vidas. E amigos podem ser os filhos, a esposa, o esposo, os familiares e aqueles que entraram no coração por ganhar nosso respeito, nossa confiança, nosso carinho e amor.

DICAS DE GRAMÁTICA

 

QUEBROU O ÓCULOS ou QUEBROU OS ÓSCULOS?

Quebrou os óculos, concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

VENDEU UM GRAMA DE OURO ou VENDEU UMA GRAMA DE OURO?

Vendeu um grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, a grama (= erva, capim) etc.

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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Presidente da Academia Acreana de Letras; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreano; Pesquisadora DCR do CNPq/FAPAC.

 

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