“Nossa casa queima literalmente. A Amazônia, o pulmão do nosso planeta que produz 20% de nosso oxigênio, está queimada”, escreveu o presidente francês Emmanuel Macron, via Twitter no dia 22 de agosto de 2019. Tal declaração provocou rapidamente repercussões internacionais em larga escala, atraindo a atenção de atores famosos como Leonardo Dicaprio, Madonna e o futebolista Cristiano Ronaldo que pediram pela preservação desta floresta que garante o oxigênio que respiramos.
Mas será que em meio a grande popularização das Fake News ou notícias falsas pela internet, a Amazônia é realmente o Pulmão do Mundo e vamos ter problemas de respirar se for desmatada?
Vamos começar analisando a real função de um pulmão, para nós, os seres vivos. Este órgão oxigena o nosso sangue com o ar que respiramos e elimina o dióxido de carbono do nosso corpo para a atmosfera através das trocas gasosas, garantindo-nos a vida.
Na direção contrária desta troca de gases, as plantas, por meio da fotossíntese, captam o dióxido de carbono da atmosfera e liberam oxigênio para o ar. Por isso, pensar em grandes áreas de floresta, como no caso da Amazônia, como aquela que nos fornece o oxigênio que respiramos e capta o dióxido de carbono que liberamos, como os pulmões do mundo seria no mínimo uma analogia invertida, e no máximo uma licença poética.
Então eis que lhes apresentamos o Plot Twist, ou reviravolta, de toda esta história: a Amazônia não é o pulmão do mundo. A verdade é que não existe um pulmão do mundo.
Para entendermos melhor esta afirmação precisamos relembrar da velha máxima do químico francês Antoine Lavoisier: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo apenas se transforma”.
A grande confusão gerada no senso comum é a falta de diferenciação entre a respiração das plantas, onde estas assim como nós respiram o oxigênio do ar e expiram dióxido de carbono, e o processo de fotossíntese, onde as plantas produzem seu alimento e oxigênio. É interessante que quase todo o oxigênio gerado pela floresta amazônica é consumido por ela mesmo. Isto implica dizer que as plantas são duplamente autossuficientes, produzindo seu próprio alimento e seu próprio oxigênio para respirar. Mas então, de onde vem o oxigênio que nós e todos os outros animais respiramos? E por que este ainda não acabou?
A resposta para esta pergunta é também o motivo de afirmamos que não existe um pulmão do mundo, mas sim, um estoque gigantesco de oxigênio na atmosfera. Aproximadamente 21% de todo o ar que existe na atmosfera é oxigênio, isto equivale a aproximadamente 18 milhões de gigatoneladas, disponível para respirarmos à vontade. A forma que o nosso planeta acumulou este oxigênio durante milhões de anos atrás foi sedimentando (enterrando) a matéria orgânica de plantas mortas terrestres e marinhas, possibilitando assim o acúmulo do oxigênio no ar que hoje respiramos.
Então, se temos tanto oxigênio disponível a ponto de não dependermos das florestas, não devemos nos preocupar em perdê-las? Isto seria um erro enorme. É necessário compreender que a Amazônia tem um papel essencial na regulação térmica do nosso planeta e das chuvas na América do Sul. Além disto, a destruição das florestas resultaria em um desastre para a biodiversidade do planeta e para uma futura economia baseada nesta biodiversidade.
Queimar a floresta Amazônica aumentaria a crescente quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, proveniente da queima daquela matéria orgânica que há milhões de anos atrás fora sedimentada para nos dar o oxigênio e que hoje conhecemos como petróleo e carvão mineral, que queima em nossos carros e indústrias e é reinserida na atmosfera.
Sendo assim, a Amazônia não é o “Pulmão do Mundo”, mas tem sua importância e deve ser preservada para as atuais e futuras gerações.
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(*) Artur Neto Fidelis Duarte – Engenheiro Florestal, Pós-Graduando em Ciências Florestais da Universidade Federal do Acre (Ufac).
(*) Raimunda Gomes Taveira – Engenheira Florestal, Pós-Graduanda em Ciências Florestais da Ufac.
(*) Renato Silva de Lima – Engenheiro Florestal, Pós-Graduando em Ciências Florestais da Ufac.
(*) Edelin Jean Milien – Engenheiro Agrônomo, Pós-Graduando em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Ufac.
(*) Irving Foster Brown – Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente de Pós-Graduação e Pesquisador do Parque Zoobotânico da Ufac.