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Mas por quê?

Minha filha mais nova tem prova de português hoje. “Nossa, pensei que era de matemática. Matemática é só amanhã”. Não estudou nem para uma nem para a outra durante o fim de semana. “Eita, esqueci!”. Sei. Pois está agora mesmo sentadinha na sala explicando – para os gatos – a diferença entre o “por que” separado e o “porque junto” o com acento e o sem acento. “Basta trocar por motivo Mia, entendeu?”. Não sei se a Mia entendeu, mas me agradou muitíssimo o assunto escolhido para a prova. Além dos porquês – junto com acento aqui, confere produção? –, é preciso ter na ponta da língua a hora certa de usar o mais e o mas.

Não é poético? Quase um manual de argumentação para a vida. Um convite ao diálogo. A cada frase que ela vem construindo para instruir seus alunos felinos, cresce minha esperança no futuro.

Lembro de me perguntar, durante os anos de escola, em mais de uma ocasião: por que dedicar tanto tempo de minha vida a esse ou aquele assunto? Nunca vou precisar dele! Nos enganamos com uma facilidade tão grande, não é? Mais do que uma lição de português, esta é uma lição de escuta. E se tivessemos a aprendido todos… Já imaginou se todo mundo conseguisse perguntar e, de fato, parar para ouvir as respostas? E se a gente se dedicasse a construir argumentos e contra-argumentos sem medo de usar o mas? Que rico seria se assustar menos – ou não se assustar nada – com novas ideias, com outras pessoas, experiências diferentes das nossas? Uma vida cheia de adição, cheia de mais.  Não seria lindo?

Estou aqui só esperando o que a prova de matemática terá a nos dizer? Eu tenho um palpite, e vocês? Boa semana queridos.

 

ROBERTA D’ALBUQUERQUE

 

 

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