Toda a história de Rio Branco é muito original. A frase é do historiador Marcus Vinícius ao começar a contar um pouco da história da segunda capital mais antiga da Amazônia. Rio Branco comemora neste sábado, 28 de novembro, mais um aniversário. São 137 anos de fundação.
Antes de se tornar a capital do Acre, Rio Branco foi um seringal, o chamado Volta da Empreza. “Rio Branco foi fundado para ser um seringal, seringal Volta da Empreza. Só que Neutel Maia, o cearense que fundou esse seringal no 2º Distrito, percebeu que nem as terras eram apropriadas porque eram alagadas, como ele também não tinha o jeito de seringalista. Então, ele decidiu fundar uma casa comercial, a Casa Nemaia e Cia, em 1984”.
Com a abertura do primeiro comércio, o local deixou de ser um espaço privado e passou a ser um espaço público. “A partir dessa formação da sede do seringal em uma casa comercial, outros comerciantes começaram a comprar estabelecimentos próximos e a estabelecer seus comércios. Então, o seringal Volta da Empreza se transforma no Povoado Volta da Empreza, que tem um caráter de ponto comercial”.
E foi esse povoado que formou, à beira do Rio Acre, a primeira rua da cidade, que atualmente é o Calçadão da Gameleira. O local foi palco de diversos movimentos de guerra entre bolivianos e acreanos.
Inclusive, poucas pessoas sabem, mas o fundador do seringal, Neutel Maia ficou do lado dos bolivianos durante os conflitos na Revolução Acreana.
“Ele tinha negócios com os bolivianos. Por isso, Galvez, inclusive, mandou prender Neutel Maia uma época. Muitos anos depois, Neutel Maia foi embora bravo com a cidade por que não aceitava a maneira como ele era tratado aqui, com certo descaso e ironia. O próprio fundador da cidade foi embora amaldiçoando a cidade, dizem até que ele foi embora dando uma banana para Rio Branco. Por ironia do destino, ele acabou morrendo atropelado no Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco”, contou o historiador.
Com o final da revolução e a anexação do Acre ao Brasil, o Acre passou a categoria de Território Federal e foi dividido em três departamentos. “Para a capital do departamento do Alto Acre, foi escolhida o Volta da Empreza, que passou a se chamar, em 1904, de Vila Rio Branco”.
Até então, a cidade ficava restrita ao 2 Distrito. E em 1908, o novo prefeito do departamento decidiu criar uma nova cidade do outro lado do rio e fundou Penápolis, o que hoje é conhecido como 1º Distrito. “Até a pouco tempo Penápolis aparecia no Facebook como se fosse o nome de Rio Branco”.
Mesmo com a fundação de Penápolis, o comércio continuava concentrado no 2º Distrito. Então, o prefeito decidiu unificar as duas cidades e criar a Cidade Empreza, mas o nome não foi bem aceito pela população. Dois anos mais tarde, a Cidade Empreza virou, definitivamente, Rio Branco.
Em 1920, com o fim dos departamentos e a unificação do território acreano, Rio Branco foi escolhida como capital. Sena Madureira chegou a ser objeto de intensa mobilização federal para que sediasse os departamentos.
“Tinha-se a expectativa de que a capital do território unificado fosse Sena Madureira, mas o peso econômico e político de Rio Branco falou mais forte. Rio Branco é a capital do Território Federal e depois do Estado do Acre desde sempre. Sena Madureira nunca foi capital do Acre”, explica.
Primeiro transporte público de Rio Branco
De lá pra cá, a capital acreana passou por diversas transformações, como o período das “colônias-bairros” e de “invasões-bairros”. Outro fato curioso é o primeiro transporte público da cidade. As catraias, pequenas embarcações, eram utilizadas pela população para trafegar de um lado para o outro da cidade.
“Só nos anos 40 vai ter o primeiro ônibus a circular pelas ruas da cidade. Nosso primeiro transporte público foram os barcos. Houve uma época que os sírio libaneses dominavam o comércio do 2º Distrito a tal ponto que o povo dizia que o lado de lá não era Brasil, era Beirute, que era preciso passaporte para atravessar a rua. Sempre teve essa disputa entre 1º e 2º Distrito”, acrescentou Vinícius.
Mas foi só a partir de 1999 que iniciaram as obras estruturantes, que melhoraram as vias e o acesso aos bairros. Grandes obras como Parque da Maternidade deram uma “nova cara” para Rio Branco.
Comenda Volta da Empreza
Para comemorar mais um ano de aniversário, a prefeitura de Rio Branco realiza, neste sábado, 28, a cerimônia de entrega da Comenda Volta da Empreza. A solenidade será realizada a partir das 18h, no Hotel Terra Verde.
Este ano, a prefeita Socorro Neri entrega a honraria à Francisca Gabriel, conhecida como Madrinha Chica, ao padre Massimo Lombardi, à procuradora Patrícia Rêgo, ao empresário Ricardo Leite, ao Grão-mestre Fernando Zamora e ao ex-prefeito Marcus Alexandre.
Acreano de coração, padre Massimo é homenageado
Em 1973, desembarcava em Rio Branco o padre Massimo Lombardi. O italiano, que completou este ano 50 anos de sacerdócio, é reconhecido pela postura ecumênica que agrega todas as religiões. Sua entrega e dedicação ao mais pobres também é uma das suas marcas.
“Ao longo desses 46 anos, vivi encontrando muita amizade e muito apoio nas pessoas. Considero as pessoas acreanas, sobretudo de Rio Branco, maravilhosas. Na medida do possível, também colaborei com o desenvolvimento das pessoas que encontrei ao longo desses anos. Me sinto feliz por ter sido escolhido para receber a comenda Volta de Empreza”.