Francisco Assis dos Santos*
Basta uma simples olhada no panorama mundial, para constatar que o homem do mundo de hoje está embrenhado no vale da sombra da morte. Muito além dum mato sem cachorro. Vivemos uma crise profunda de representação. As forças positivas, diria um pensador contemporâneo, são muito dispersas. Tudo é volátil, a única certeza é a morte. Vivemos a tal biofobia, horror à vida. Somos homicidas. Fomos criados para a vida, mas preferimos a morte. Dos quatro cantos do mundo, ecoa um pessimismo em relação ao futuro. Permeia, no coração da humanidade, a consciência de que a busca do progresso, que se anunciava como vetor da construção de uma utopia de bem-estar e felicidade (viver bem) revelou-se como ameaça.
Nem mesmo a ciência, com seu avanço fenomenal, tem meios para debelar essa situação caótica em que estamos metidos. Alias, as ciências, sem exceção alguma, nada mais são que medidas paliativas, pois que a economia é um desastre, as doutrinas econômicas derrubaram e continuam a derrubando governos, vivem a inflamar os ânimos dos cidadãos comuns; a ciência política com suas teorias “rachadas” não tem solução “políticas” para o Brasil ou para qualquer outra nação do planeta; a sociologia com todas as suas ramificações sociais falhou, os meios urbanos estão aí para provar o que digo, pois as cidades são um verdadeiro caos; a teologia desmoronou, o que restou dos dogmas, especialmente cristão, são grupelhos religiosos e seus pseudos líderes, vendilhões da fé, que vivem saqueando os poucos recursos de pessoas de “boa fé” com a conivência do Estado, é bom que se diga.
A ciência propriamente dita, está na contramão da vida humana, já que as nações dos quadrantes da terra, são detentoras de aparatos bélicos de alta destruição. Desta forma, a vida humana, hoje, é uma efígie do mal. Uma imagem deformada, não é nada atraente.
Afinal de contas, milhares de mulheres e homens, estão morrendo como ratos de porão, outros milhares, de fome; outros, de pestes perniciosas e seus vírus implacáveis; outros milhares, caso recente da Síria, estão sendo exterminados em razão dessas guerras imbecís. Há, para completar, a miséria e a fome que em muitos países afetam milhões de pessoas, Aliás, ninguém sabe, realmente, quantas pessoas morrem de fome a cada ano. Muitos países subdesenvolvidos apresentam estatísticas irregulares e muitas vezes não confiáveis, de modo particular quando concernentes a mortes de crianças. Estatísticas não muito recentes estimam que 12 milhões de recém nascidos morrem todos os anos, por causa dos efeitos da subnutrição nos países em desenvolvimento. Li em algum lugar que “A metade das pessoas que vivem em pobreza absoluta estão no sul da Ásia, principalmente na Índia e Bangladesh. Um sexto delas vive no leste e sudeste da Ásia. Outra sexta parte está no sub Saara africano. O resto divide-se entre a América Latina, norte da África e Oriente Médio. Nestas regiões tropicais ou situadas no hemisfério sul, a que comumente damos a denominação de Terceiro Mundo, calcula as Nações Unidas que pelo menos 100 milhões de crianças vão para a cama faminta, todas as noites”. Além disso, há regiões onde a fome é total, imperativa mesmo, e outras causas indiretas, como doenças e más condições físicas agudas, que prostram milhares de vítimas, visto terem perdido a resistência devido à subnutrição. As mortes ocasionadas por essas condições nem sempre são relatadas pelos membros da família; as vítimas de doenças poderão ser relacionadas entre as que morreram de causas naturais, ou desconhecidas. A maldade cresce de maneira fenomenal. Esse é a efígie do mal.
Quanto as forças positivas, essas são muito dispersas, fragmentadas, perdidas no vácuo da maldade que permeia toda a atmosfera terrena. Todos, quase sem nenhuma exceção, vivem um clima de incerteza e grande ansiedade íntima. Anelam por dias melhores que nunca chegam. Temem o futuro e desconfiam que a situação caótica tende a piorar.
*HUMANISTA E-mail: [email protected]
“A vida humana, hoje, é uma efígie do mal.
Uma imagem deformada”.