Para a Cici Di Ísis.
Não. Não é verdade. Sei que me atrasei um pouco. Mas eu não me lembro das mulheres apenas no dia oito de março. Vivo por elas, em sentido bem amplo, é claro.
Por aí, têm dito das mulheres algumas poucas e boas. Eu prefiro dizer uns dentre os muitos sonolentos versos meus, que bem lembram o papel desempenhado nesta vida vivaz por uma dúzia delas, desde a que me deu à luz, àquela que me ensinou as primeiras letras, passando por umas tantas que a mim só fizeram o bem – e bem feito – como a minha sócia no empreendimento de fazer e criar crianças bonitas.
A caminho de perceber a vida na sua plenitude, tenho parado em estações em que o velho trem já não apenas atravessa o pantanal, mas ainda se locomove, mesmo devagarinho, e já pensa, ouve o próprio apito e até dá conselhos que quase me levam ao céu antes de chegada a hora. Em curvas da ferrovia ou em dobras de vetustas esquinas, embalado por maquinista jovial e bela, vejo que a maturidade traz certezas avassaladoras, como aquela segundo a qual há homens cuja grande característica é o desagrado, inclusive para com as mulheres. Uma pena.
É bom lembrar sempre o poetinha da fidelidade, Vinícius de Moraes – como eu, como quase todos aqueles que todos os dias recitam ou cantam versos e melodias dele, como se estivessem ou vivessem eternamente pensando que…
Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida, eu vou te amar, desesperadamente eu sei que vou te amar, […] e cada verso meu será pra te dizer que eu sei que vou te amar por toda a minha vida…
Puxar a cadeira para a dama que ali representa o belo sexo é bem pouco, segundo penso. Abrir a porta do carro para a sua saída fotográfica não significa muito. Ajoelhar-se aos pés dela nunca foi dignificante ou aceitável, mesmo para os que delas pedem as desculpas e perdões mais legítimos ou esdrúxulos. Bom mesmo é ser fiel, como o poetinha, porque ser fiel é ser livre para viver só para o seu amor, sem nenhuma outra preocupação, por mais que os olhos e o pescoço teimem em acompanhar a curva de qualquer estrada sinuosa que passa bem aqui.
O poetinha aconselha o aprendizado das artes da cozinha, preferencialmente, da melhor forma, mesmo com pouco talento, mas através daqueles cursos de arte culinária que transmitem as mágicas e os segredos que misturam ingredientes e temperos e têm como resultado aquelas poções maravilhosas dignas dos alquimistas de outra época.
Dar flores empresta lirismo à alma feminina. Joias de certo preço, perfumes suaves e roupas íntimas podem dizer mais que um poema manjado recitado pela alma arredia de um homem insensível e levemente rude. E o que mais…
Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia – para viver um grande amor.
Os homens mais inteligentes têm a certeza da existência do amor verdadeiro – com A maior – e não se encarregam de ensinar os seus filhos machos a mentirem desde a mais tenra idade com a finalidade única de enganar, de início, apenas às mulheres e, depois, à humanidade inteira nada santa e em tudo pecaminosa desde a fase mais embrionária do pecado original. Adão teria pensamentos desse quilate? Não duvide, minha senhora. Há um simbolismo danado de piegas, mas o certo é que ele foi, sim, apenas o primeiro pecador e não o único mentiroso.
Viajemos nós, então, para as Sagradas Escrituras ou para as Sacadas Estruturas, como bem vós entenderdes. Em verdade vos digo que Adão foi extremamente contraditório quando o pau quebrou. Ao primeiro olhar inquisidor do Altíssimo, sem nenhuma pergunta ainda, ele afrouxou e foi logo dizendo:
– A mulher que me deste por esposa, foi ela quem me deu o fruto da árvore e eu comi. – Está no Gênesis.
Ele delata Eva e, por extensão, também joga culpa em Deus:
– Senhor! Eu não te pedi nada. Estava até dormindo. – Gênesis, 3:12.
Adão joga a responsabilidade em Deus que havia criado a primeira mulher, a causa da sua improbidade. Ele foi malandro, sutil, incoerente e irresponsável. Cara de pau!
Fica aí registrado o primeiro momento da história em que observamos o quanto o homem é frouxo e a mulher muito mais sincera.
Como se desse crédito ao argumento de Adão, Deus se volta para Eva e lhe faz indagação perspicaz, tipo delegado de polícia dos bons:
– Que é isto que fizeste? – (Caprichemos no tom. Trata-se de Deus!)
De Eva, o Divino ouviu toda a sinceridade:
– Senhor! A serpente me enganou e eu comi.
A serpente era o diabo matreiro, escorregadio, ardiloso, sacana; e Eva, humana, com todos os defeitos, é claro, caiu na presepada.
Datam daí, senhoras, os méritos da mulher.
E que lambança essa do Adão, hein! Por conta dele, ainda hoje carregamos toda a culpa do mundo simbolizada pelo pecado original. Deus poderia ter sido mais brando, certamente, não fosse o primeiro homem um delator sórdido. Bem pior é que nós continuamos jogando toda a treta na mulher até hoje. Há ainda os imbecis que culpam as consortes até pelo fato de estas terem concebido. Outros se enroscam em camas fétidas extraconjugais e por aí dizem que a culpa é da casta esposa porque ela não quer dar em casa.
Dia desses, então, aniversário. Resolvi mandar flores. Ela gostou, apesar de não estar nos melhores dias, aqueles em que as tensões pré-isso-pré-aquilo-pré-aquilo-outro ficam mais rígidas, em vista das peculiaridades femininas. Experiência ímpar. Repetirei outras vezes. Rosas brancas.
Em viagem por aí, um amigo me disse que a sua cara metade gosta mais de cheques ou de recibos de depósitos bancários. Não liguei. Não acredito. É pura bazófia. Intriga dos que não sabem ou ainda não descobriram ou disseram a que vieram cá para o reino delas e, por acaso, nosso também, com amor e carinho desse sempre, sempre teu…
Não satisfeito, fui à cata da alma feminina, da essência. Queria vê-la por dentro, não como o cirurgião, mas como o humanista apaixonado que se interessa por todas as belezas que fluem do humano. O método pedia que buscasse depoimentos bem diferentes uns dos outros, notadamente nas aparências, isto porque jamais colocarei numa pergunta uma vírgula sequer que ao menos queira ventilar a idade do belo sexo, até por uma questão de etiqueta social.
De uma romântica de quatro ponto zero em número de primaveras, a querida Mel Santos, anotei que o homem que compartilha as decisões conjugais, os compreensivos, aqueles que se fazem agradáveis e tratam a mulher com cortesia, já quase não existem, mas ainda existem, embora escondidos nos desvãos dos relacionamentos mais verdadeiros e eternamente duradouros.
De uma modernista modernosa, Susan Sarandon, de dois ponto nove, ouvi que, para agradar as mulheres, não é necessário a invenção de firulas, nem há fórmulas secretas. Basta ao homem ser inteligente o suficiente para perceber que no amor nunca sobra nada, mas sempre falta alguma coisa.
É realista e maduro o depoimento de Pâmela Castro, apesar dos verdes dezoito anos. Segundo ela, na vida, nada é completo. Nunca haverá o homem perfeito. Você terá uma pessoa normal, que te fará bem, mas que te magoará; que te fará rir e que te fará chorar. Todavia, apesar das diferenças e brigas, o amor haverá de permanecer. Nós, mulheres, não buscamos o homem perfeito e sim o amor verdadeiro.
Captei, então, a alma de três belas mulheres que, pelo visto, não sabem apenas dizer sim, como quer o Vinícius. Elas podem ficar magoadas e retrucarão prontamente.
De tudo, é preciso ver que o amor feminino deve ser conservado aceso pelo tato do homem amado. Se assim não for, não será por insuficiência dela, mas por incompetência do indivíduo nada arrojado que um dia decidiu por cortejá-la.
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*Escritor. Membro da Academia Acreana de Letras, Cadeira 27. Autor de O INVERNO DOS ANJOS DO SOL POENTE e DOIS RAIOS DE SOL E MEIO PALMO DE LUA, romances, disponíveis pelo https://www.facebook.com/claudio.porfiro e na plataforma do Clube de Autores.