O senhor não estava sozinho. Eu também estava lá. Aliás, nunca vi a Praça São Pedro tão lotada. Eram bilhões de pessoas do mundo inteiro. Ao meu lado estavam chineses, italianos, espanhóis… brasileiros; milhões de brasileiros, todos abraçados. Que cena linda! Ver o senhor passando pelo meio do povo, dirigindo-se vagarosamente ao adro da Basílica de São Pedro nos encheu de esperança e reavivou a chama da nossa fé. Quando o senhor começou a falar, após a proclamação do Evangelho, aí foi impossível segurar as lágrimas. De repente, o medo deu lugar à coragem e a dúvida foi substituída pela certeza. Certeza de que a tempestade vai passar.
Ainda ecoam em meus ouvidos e em meu coração suas palavras ao dizer que o Senhor “chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho.” Realmente, Santo Padre, o senhor sabe como tocar os nossos corações.
Quando o senhor se aproximou do quadro de Nossa Senhora, já não sentíamos mais o balanço da tempestade, porque estávamos todos envolvidos por uma grande calmaria. E, ao beijar os pés do Senhor pendido na cruz, depois de contemplá-lo em silêncio, o que se seguiu foi uma explosão de alegria, porque como o senhor mesmo disse, abraçar a cruz de Jesus significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar.
Querido Papa Francisco, a adoração a Jesus Eucarístico, seguida da bênção eucarística Urbi et Orbi foi, sem dúvida, um dos momentos mais extraordinários que já vivi em toda a minha vida. Obrigado, Santo Padre!
Obrigado pela sua presença paterna e fraterna entre nós. Obrigado por reavivar a chama da nossa fé. Obrigado por ser o Vigário de Cristo entre nós. Queria poder abraçá-lo, mas a fila era grande. Porém, sinta-se abraçado por todos os que não puderam lhe abraçar nesta tarde.
*Padre Jairo Coelho é vice-reitor da Diocese de Rio Branco.