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Número de casos de coronavírus no Acre já pode passar dos 500, estima diretor do Laboratorio Charles Mérieux

O Acre diagnosticou 25 casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19) até agora. Mas esta, assim como ocorre em todos os lugares por onde o vírus se espalha, não expressa a verdadeira força da pandemia. Convictamente, o diretor do laboratório Charles Mérieux, Andreas Stocker, afirmou que o Estado já deve ter passado dos 500 casos da doença.

Andreas Stocker explicou que não há novas confirmações de casos porque testes agora são feitos só em casos de emergência. Estamos cegos quanto à doença (FOTO DIVULGAÇÃO)

Os números oficiais estancaram nos vinte e pouco casos porque, de acordo com Stocker, os reagentes dos testes estão escassos aqui. “Estamos usando o resto do estoque só para casos de emergência. É por isso que os números não aumentam. No momento estamos cegos porque não temos mais kits de extração de RDA e não podemos fazer nossa análise”, explicou.

A Sesacre informou que um avião do Ministério da Saúde chegou a Rio Branco na noite de ontem, 27, com novo lote de kits para os exames, mas não revelou a quantidade. Disse apenas que era um “carregamento”. O diretor do laboratório foi mais específico e relatou que estava no aguardo de materiais para 100 novos testes do Ministério da Saúde. E que viriam outros 500 novos testes na próxima quarta, dia 01/4, adquiridos de uma empresa da Bahia.

A boa notícia dada por Stocker é a afirmação de que a Sesacre liberou verbas para a realização de mais de 5 mil análises nos próximos 3 meses.

O diretor também reforçou o alerta para a população não quebrar o isolamento social. Caso contrário, ele frisou que a doença pode provocar um colapso no sistema de Saúde acreana em questão de duas ou três semanas.

“O que posso falar apenas a toda a população é: não comecem a se sentir seguros. O vírus está aqui, está se espalhando. E em uma ou duas semanas vamos ver que está explodindo o número de infecções no Estado. Vamos estar perdidos. Todo mundo vai para a UPA, e não temos capacidade para todos. A única chance que temos é a sociedade trabalhar junto, ficar em isolamento social”, complementou.

Se o isolamento for quebrado, diretor alerta que casos vão sair do controle e sistema de saúde não terá capacidade para tantos pacientes. Pode entrar em colapso (FOTO SECOM ACRE)

Sobre a previsão estimada de mais de 500 infectados no Acre, ele explica melhor:

“Pesquisas internacionais apontam que, de 10 pessoas, 7 a 8 são assintomáticos, não sabem que estão infectados, mas transmitem a doença. Isso é um grande problema. Tenho certeza que agora temos no mínimo 500 pessoas no Estado infectadas que não sabemos. Encontramos os primeiros casos há cerca de 12 dias e esses já infectaram outras pessoas. O tempo de incubação normal é de 3 a 5 dias, 14 dias são os casos extremos. Em 12 dias, já se tem a quarta geração. Portanto, de uma pessoa, estima-se que 30 fiquem infectados”.

Andreas Stocker recorda como foi a chegada do vírus aqui. Quando o risco era iminente, o laboratório começou a se preparar para fazer a análise dos exames. Após a primeira confirmação, que ocorreu no dia 17 deste mês, os trabalhos no Charles Mérieux não pararam. Tinham materiais para cerca de 500 exames, e já foi usado a metade. Por isso, o fluxo de exames passou a ser priorizado, agora, para os casos de emergência.

Laboratório pode receber materiais para fazer 5 mil testes nos próximos 3 meses, e está se preparando para dar conta desse ritmo (FOTO ACERVO SECOM ACRE)

Por fim, o diretor deu a orientação para redobrar os cuidados em banheiros, local onde mais há risco de infecção. Explicou que o isolamento pode ser feito em família, que uma pessoa de cada casa deve ir fazer compras quando necessário (e este deve tomar as medidas pessoais de lavar as mãos sempre e ficar a distância de 2 metros de outras pessoas), e que se pode praticar atividades esportivas sem contato físico direto ou próximo. Ele avaliou a situação de países como os EUA e a Inglaterra, que subestimaram medidas simples como essas e hoje vivem um cenário fora de controle da pandemia, apontando que o Brasil não deve tomar esse rumo.

“O ponto onde podemos virar o jogo e conseguirmos ter um futuro melhor do que em outros países é agora. Se as pessoas quebrarem o isolamento dos 7 dias, vamos ter, em 3 semanas, uma catástrofe que ninguém está esperando. E será tarde demais. Todos estão sofrendo sem dinheiro, presos em casa, mas não temos outra chance. Mas o que o vírus vai fazer será pior”.  

Fabiano Azevedo: