Conversei na última sexta-feira com um primo de quem sou muito próxima. Há tempos não nos falávamos ao telefone. Morei com ele durante um ano, meus treze anos, os oito dele. E embora tivéssemos, já àquela altura, laços estreitos, os estreitamos ainda mais durante o período em que dividimos o mesmo teto. Ele é dentista e conduz com a companheira duas ou três clínicas que empregam outros vários profissionais em Recife.
O assunto era – adivinha – as restrições causadas pela pandemia. E foi dele que saiu a frase que dá título a este texto. Sua fala dizia respeito às contas que terão que ser pagas ainda que todos os consultórios estejam fechados. Os salário serão mantidos, como tem que ser. Mas e todo o mais que mantém uma estrutura deste tamanho? Contou que tinha passado o dia sentado ao telefone. Falou com a operadora de celular e internet, com os donos dos imóveis alugados onde funcionam seus
negócios, com os fornecedores…
Eu fiquei comovida, sabia? Porque todas as vezes em que ele repetiu a frase, repetiu-se em mim a lembrança de que estar disposto a negociar é das coisas mais potentes do mundo. Claro que, aqui, me refiro às negociações internas que fazemos conosco e às externas que fazemos com os nossos.
As de meu primo são também bonitas. Simplesmente não pagar seria um caminho, mas ele escolhe combinar, abrir o problema, sustentar suas responsabilidades. É grande. Mas fico pensando no tanto de renegociações profundas que serão necessárias durante esse período e – principalmente – quando ele passar.
Será novo, será intenso. Tomara que seja. Tomara que estejamos dispostos a nos repensar, e rever as expectativas, a colocar em perspectiva os significados todos. Quem somos hoje? Que personagens montamos para nós mesmos? Que parte deles ficará e de que parte abriremos mão. Está aberta a temporada de negociação. Vamos? Boa semana queridos.