Luísa Karlberg lessaluisa@yahoo.com.br
Escuta-se, muitas vezes, alguém se referir a vaidade como algo que Deus condena ou abomina. Mas isso não é verdade, o que Deus condena são almas vazias, ocas, de pouco sentimento cristão. A vaidade tem múltiplos sentidos na bíblia. Quando se fala em vaidade logo se pensa em cabelo, roupas, adornos, joias e etc. Mas quando se analisa o verdadeiro sentido dessa palavra, temos consciência que jamais, em toda a Bíblia, Deus se refere ao fato de alguém se produzir.
A vaidade que Deus abomina é um assunto muito mais abrangente do que certas pessoas querem acreditar. A palavra vaidade passou por um complexo processo de desenvolvimento incluindo as fases de algo vazio, daí para porções e inutilidade, de ludíbrio e de iniquidade.
No Antigo Testamento a palavra vaidade aparece mais de cem vezes e foi traduzida de três palavras hebraicas, a saber: 1. Nadab, que significa oco, vazio. 2. Hebel, que significa inútil. 3. Shaw, que significa ludíbrio ou falsidade. Das cem vezes que aparece a palavra vaidade, jamais, em toda a Bíblia significa se embelezar ou andar bem arrumado, com adornos.
Todos os versículos tanto do Novo quanto do Velho Testamento que se referem à vaidade, estão relacionados à idolatria, falsidade e coisas fúteis. Seguir a vaidade significa seguir a falsidade. Os prazeres passageiros são denunciados na Bíblia como vaidade. A falsa religiosidade também significa vaidade, pois aparenta ser santo por fora, quando na verdade não o é por dentro. Seguir a vaidade, segundo a Bíblia, é seguir coisas enganosas, inúteis, como a idolatria, a autossuficiência, o orgulho, a arrogância e tudo aquilo que tem brilho falso.
À luz do cristianismo, a primeira coisa a observar é que quando a pessoa vê em sua Bíblia a palavra “vaidade”, que não tem o sentido original de hoje, ligada à aparência física Por exemplo, em Salmos 66:18, está escrito: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido”. Aqui temos a palavra hebraica “aven” (que significa problema, impiedade, sofrimento). O sentido aqui é que o salmista não permitiu que o seu coração ficasse cheio de pecados, problemas, erros. Já no texto de Salmos 62:9, lemos: “Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade”. Aqui temos a palavra hebraica “hebel” (que significa vapor, fôlego). O sentido aqui é da pequenez humana, os seres humanos, ricos ou pobres, são como um sopro.
Também a vaidade está totalmente associada a imagem da pessoa narcisista. Segundo a mitologia grega, existia um herói chamado Narciso. Ele foi conhecido principalmente por toda a sua beleza e o orgulho de si próprio. Narciso é ligado a imagem da vaidade por estar constantemente em frente de superfícies que refletissem a sua beleza. Não só isso, mas Narciso também era fortemente desejado por todos, homens e mulheres, que ao vê-lo caiam em tentação e apaixonavam-se perdidamente por ele. Ele também era uma pessoa arrogante, desprezando aqueles que o amavam e o desejavam, inclusive ninfas. Ele foi condenado, segundo a mitologia, a ficar preso olhando para a sua própria imagem refletida na água de um rio.
Por essa mitologia de Narciso associa-se o pecado da vaidade, uma forma de ostentação. Em tempo de redes sociais onde há uma busca de se mostrar melhor para o outro o tempo inteiro, onde colocamos as melhores versões de nós mesmos para as outras pessoas, a ostentação tem ganhado corpo e é cada vez mais normal, principalmente entre jovens. Há uma busca constante de se ter a maior quantidade de coisas, objetos, bens materiais e isso também vale para as emoções e os sentimentos. Quanto mais felizes estamos, quanto mais dias incríveis, quanto mais viagens e momentos inesquecíveis tivermos para postar nas redes sociais, melhor. Queremos contar vantagem em cima de tudo e de todos.
E, por fim, aquela vaidade que conhecemos em nossos tempos, como um cuidado pessoal moderado, equilibrado, de amor próprio (na medida), esse tipo de “vaidade”, não é pecado, não é condenado pela Bíblia. Por exemplo, quando cuidamos da nossa saúde, da nossa aparência, forma de se vestir; mas, claro, com bons propósitos no coração. Isso é algo bom e positivo. Mas quando existe desequilíbrio ai pode facilmente descambar para atitudes de vaidade pecaminosa que vimos nos textos acima, por isso, é sempre importante termos cuidado e equilíbrio.
Existem mandamentos bíblicos que são eternos, e existem recomendações para cada época, como por exemplo: Sair para evangelizar de dois em dois; não carregar dinheiro no bolso; não cumprimentar as pessoas; não viajar com roupas ou sapatos na mala, são recomendações temporárias ordenadas por Jesus. Cuidado para não confundir recomendações temporais com mandamentos permanentes. O apóstolo Pedro recomenda aos crentes a modéstia e ensina no cap. 3 e ver. 3 de sua epístola que o fato de alguém estar bonito ou feio não significa estar santificado, pois a beleza que Deus se agrada é a beleza de caráter. A palavra vaidade passou a significar embelezamento, pelo fato de esconder nossas imperfeições. Um homem bem produzido, limpo, penteado, cabelo cortado, vestido de terno novo com sapatos engraxados é totalmente diferente do mesmo homem cabeludo despenteado vestido só de calção e chinelo. Neste sentido podemos afirmar que todos nós somos vaidosos. Lavamos nossos carros, engraxamos nossos sapatos. Olhamos para o espelho antes de sairmos de casa. Agora dizer que Deus condena esse tipo de vaidade é uma falácia totalmente descabida, inaceitável e sem respaldo bíblico. Temos vaidade aos olhos de Deus, vaidade de amor e nunca de soberba.
DICAS DE GRAMÁTICA
“Tem” e “têm”
Esse erro é bem simples, por isso não é difícil remediá-lo: é só saber que o verbo “ter”, quando conjugado na terceira pessoa do plural (“eles” e “elas”), leva acento circunflexo. Fica assim então:
- Ele tem muito dinheiro.
- Eles têm muito dinheiro.
A mesma regrinha também vale para o verbo “vir”: “ele vem” e “eles vêm”. Só não confunda com “veem” como falamos mais acima, ok?
“Mantém” e “mantêm”
O caso de “manter” é bem parecido com o de “ter” e “vir”, só que aqui, na terceira pessoa do singular (“ele” e “ela”), o verbo já leva um acento agudo, que vai então apenas se transformar em circunflexo no plural:
- Ele mantém suas coisas em ordem.
- Eles mantêm suas coisas em ordem.
O mesmo vale para “contém” e “contêm”!
———————
Luísa Karlberg