Os impactos da pandemia da Covid-19 são imensos na área da saúde. A dedicação de médicos, enfermeiros, assistentes e demais profissionais tem recebido elogios mundo afora. O novo coronavírus traz ainda um outro grande desafio. Precisamos atender essa avalanche de pacientes que são infectados diariamente, aumentando a demanda tanto do sistema público de saúde como da rede particular. Porém, as pessoas continuam adoecendo de câncer, diabetes, problemas cardíacos, entre outras enfermidades.
Nesse momento, abandonar o acompanhamento de qualquer doença pode aumentar ainda mais os riscos. A atenção ao paciente com câncer também é uma situação de emergência e, na maioria dos casos, um tratamento não pode esperar três meses para ter sequência. A cura do tumor tem melhores resultados na fase inicial da doença. Adiar o diagnóstico, uma cirurgia ou até mesmo a quimioterapia pode levar a um quadro de evolução do câncer e reduzir suas chances de cura.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) inclusive já se manifestaram sobre o assunto e apontam que o acompanhamento não deve ser interrompido. Raro alguns casos, que devem ser avaliados pelos médicos responsáveis pelos pacientes.
O risco do câncer progredir, ou o paciente vir a falecer de um câncer, é bem maior do que a pessoa morrer pelo novo coronavírus. O índice de letalidade da Covid-19 varia de 6% a 10% na população com idade superior a 80 anos de idade. Por outro lado, é de 99% o índice de letalidade de câncer de pulmão para qualquer idade caso o diagnóstico e o tratamento não sejam seguidos adequadamente.
Isso não quer dizer que esses pacientes devam suspender o isolamento social. Muito pelo contrário. Eles devem reforçar as medidas preventivas. A SBOC recomenda que as pessoas com qualquer sintoma de gripe, e também aquelas que tiveram contato com terceiro na mesma condição ou com diagnóstico confirmado de Covid-19, devem manter distância dos pacientes com câncer.
As consultas também não devem ser abandonadas sem uma recomendação do especialista. Para superar essa dificuldade, o CFM (Conselho Federal de Medicina) já aprovou medidas que permitem consultas por WhatsApp, Skype, entre outros instrumentos digitais. Cabe ao médico apontar qual a melhor escolha nesses casos. Tenho ainda recomendado aos familiares de pacientes com câncer que utilizem máscaras para evitar a transmissão da Covid-19, mesmo que não apresentem sintomas.
Estamos na batalha diária de reduzir o avanço dessa pandemia. Tenho certeza que vamos superar esse momento mantendo os cuidados de todos aqueles que precisam do nosso trabalho. A saúde é uma prioridade nesse momento.
(*) Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal).