Falar sobre o tema “inveja” é tarefa difícil por ser uma falha gritante do ser humano, no meio social. Essa falha que se arrasta há séculos e cada decênio se agrava. A inveja é considerada, pela Igreja Católica, pecado capital, um sentimento intrigante que poucos admitem sentir. Por definição literal, significa, basicamente, a infelicidade ao ver a felicidade do outro.
Os autores clássicos são concordes em afirmar que os invejosos estão condenados a odiar de forma inextinguível, pois o ódio provocado pela ira se apazigua facilmente mediante a reparação, mas o ódio nascido da inveja não se amansa nem admite um pedido de desculpas. Mais ainda, irrita-se com os benefícios recebidos. Todavia, pode-se perguntar em que âmbitos a inveja se desenvolve e qual seu principal intento? A literatura dá algumas respostas:
(…) a inveja é um dos pecados mais estendidos […]. Impera em todo o mundo e mora especialmente nas cortes e palácios, nas casas dos senhores e príncipes, nas universidades e cabidos e ainda, nos conventos de religiosos […] seu objetivo e meta é perseguir aos bons e aos que por suas virtudes são altamente apreciados (GRANADA, 1848, p. 132).
A inveja fez e faz verdadeiros estragos entre os humanos. Pode ser comparada a um câncer silencioso ou a uma úlcera afetiva que corrói o convívio e tira a paz. Seu intuito não é somente possuir o que é do outro, pois, de acordo com Alberoni (1996, p. 55) “a inveja visa tanto o ter quanto o ser, os objetos como a qualidade, os bens como os reconhecimentos.”
Ovídio (2007, p. 39), em sua obra Metamorfosis, discorre sobre a inveja como uma divindade terrível e venenosa, desprezada e odiada pelos deuses. As descrições feitas de seu aspecto e de seu âmbito são muito eloquentes. Diz ele:
A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o Sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas […]. A palidez cobre seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se fixa em parte alguma. Têm os dentes manchados de tártaro, o ventre esverdeado pela bile, a língua úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela visão da dor […]. Assiste com despeito o sucesso dos homens e esse espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesmo, e este é seu suplício.
Verifica-se, no início do Antigo Testamento, um relato dessa afirmação quando Caim, por ira, elimina seu irmão Abel. Nessa situação, considera-se que a inveja possa ter sido um dos pontos pelo qual Caim teria matado Abel, conferidos que foram os elogios de Deus somente a Abel e não a Caim, o qual, por se sentir desvalorizado, elimina seu irmão.
Ainda, no Antigo testamento, existe a história de Moisés que, ao sentir inveja de Josué, diz ser preferível a morte à inveja. Estudiosos, das áreas de atuação mais díspares, já discorreram sobre o fenômeno, mas é difícil chegar a uma definição precisa. Mas creio que a pessoa invejosa, ao sentir inveja de alguém de quem deseja ocupar o lugar, almeja, por consequência, eliminá-la. Não se trata de vê-la como um alvo para admirar e sim querer ter suas coisas e seu posto de trabalho. É querer ser elogiado, por alguém superior a nós e, ao mesmo tempo, ocupar o seu lugar. Por conseguinte, nessa condição, o ponto básico é que não ocorre a eliminação da inveja, pois a pessoa invejosa sempre quer ter acima de si alguém para elogiá-la e, ao mesmo tempo, quer ocupar o lugar desse alguém. O invejoso, ao ver alguém a quem poderia admirar, tende a diminuir essa pessoa. Portanto, ele tenta roubar a luz, a alegria e tudo o que o outro possuir de bom. A inveja, ao não ser resolvida, provoca o ressentimento: o invejoso torce pela queda do outro; negar as próprias limitações com as limitações dos outros não dá vida a ninguém. Inveja, amor e ódio são sentimentos não verbalizados nos mais diversos ambientes, comandam as ações e decidem o destino da sociedade, em geral.
No Antigo Testamento há um relato comprovando essa afirmação na história em que Caim, por ira, elimina seu irmão Abel. Nessa situação, consideramos que a inveja possa ter sido um dos pontos pelo qual Caim teria matado Abel, conferidos que foram os elogios de Deus somente a Abel e não a Caim, o qual, por se sentir desvalorizado, elimina seu irmão. Também no
O senso comum estereotipou que a inveja é um sentimento negativo e que pode ser a causa de fracassos. Sendo assim, esse sentimento é prejulgado pela sociedade e, ainda mais inflamado, quando tratado no meio organizacional. Pessoalmente, avisto diversas pessoas, pertencentes a múltiplas organizações dizer em que a inveja alheia de colegas impactou diretamente no desempenho do exercício da sua função. E junto ao sentimento da inveja percebe-se as justificativas para os eventuais fracassos.
Assim, quando o invejoso percebe que a outra pessoa tem um insucesso – fracassa no trabalho, briga com a mulher ou bate o carro, por exemplo, ele se sente recompensado por isso. E aqui não se fala de maneira figurada: a área ativada no cérebro quando ocorre o schadenfreude (=alegria ao dano – empréstimo da língua alemã) é exatamente a mesma que processa sensações de prazer e alegria.
Para concluir, diria como fez Ovídio (2007, p. 39), em sua obra Metamorfosis, quando apresenta a inveja como uma divindade terrível e venenosa, desprezada e odiada pelos mesmos deuses. As descrições feitas de seu aspecto e de seu âmbito são muito eloquentes:
A inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o Sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas […]. A palidez cobre seu rosto, seu corpo é descarnado, o olhar não se fixa em parte alguma. Têm os dentes manchados de tártaro, o ventre esverdeado pela bile, a língua úmida de veneno. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela visão da dor […]. Assiste com despeito o sucesso dos homens e esse espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesmo, e este é seu suplício.
Em verdade, as qualidades do espírito produzem invejosos; as do coração nos aproxima de amigos. É preciso ter cuidado, a inveja é um sentimento muito forte e que pode nos atrapalhar em muitas situações, seja quando nutrimos esse sentimento por alguém ou quando acontece o contrário. Com ela, tem-se a falsidade e o recalque. Logo é necessário viver em constante atenção para os invejosos não atingirem nossa vida. Que Deus nos livre desse tipo de pessoa. Amém!
DICAS DE GRAMÁTICA
PERDA OU PERCA, PROFESSORA?
– Perda é substantivo + a perda verbo no subjuntivo
A perda de memória é um problema comum (substantivo)
Fiquei irritada com a perda da minha mala (substantivo)
Que eu não perca as esperanças (verbo no presente do subjuntivo)
Não perca a paciência (verbo no presente do subjuntivo)
SEJA BEM VINDO OU SEJA BEM-VINDO?
– Seja bem-vindo é uma exceção à regra do acordo ortográfico que determina que o advérbio mal só requer hífen se a palavra seguinte começar com vogal ou com a letras H.
TINHA ENTREGUE OU TINHA ENTREGADO?
– Entregue é verbo irregular e deve ser usado com ser e estar:
A prova do crime foi entregue à polícia.
A correspondência foi entregue à moradora errada.
Pronto, sua pizza foi entregue.
– Entregado é regular e deve ser usado com ter e haver:
Ele tinha entregado os livros na biblioteca após o prazo.
Havia entregado os documentos à pessoa errada.
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Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg. Pós-Doutorado em Lexicologia e Lexicografia – Université de Montréal – Canadá
Doutorado em Letras Vernáculas – UFRJ. Mestrado em Letras – UFF. Coordenadora Pós-Graduação, Campus Floresta – UFAC
Presidente da Academia Acreana de Letras – AAL. Membro da Intertional Writers and Artist Association – IWA. Embaixadora Internacional da Poesia – CCA.