O fantástico mundo dos aplicativos instantâneos, em rede globalizada, reportagens mil de telejornais, jornais e revistas famosas esbanjam palavras sinônimas para explicar o sofrimento do povo das cidades, dos quadrantes da terra, afetadas pelo vírus químico COVID-19.
O espanto é geral, pois essa é a tragédia das tragédias, trazendo no seu séquito: Angústia, aflição, amargura, desgraça e MORTE. O mundo inteiro, em voz uníssona, diz: A DOR É GRANDE!
Dentre as muitas lições, que essa desgraça pública nos deixa, posso pontuar, além das impressões acima, algumas ilações óbvias: a primeira é que a maior força na face terra, ainda é a força de vontade de homens e mulheres de bem. Grande parte da população mundial mostrou disciplina no cumprimento dos Decretos de Lei, notadamente no quesito quarentena (isolamento). Essa mesma população mostrou que a solidariedade, na forma de relação social unidas por interesses comuns, ainda se faz presente nos corações de muitas pessoas. A desgraça despertou a solidariedade de milhões de pessoas, sobretudo dos que estavam mais perto, presenciando in loco as agruras do próximo.
A segunda é que a cada dia aumenta, nos fortes, nos poderosos e nos espertos, caso de alguns governantes mundiais, governantes que oscilam entre a cretinice e o despotismo, sem escrúpulos, oportunistas das tragédias alheias, a capacidade de manipulação e os meios de escravizar os fracos. Realidade que nos remete a uma urgente necessidade de se estabelecer uma moral capaz, como queria o filósofo Emmanuel Lévinas, de proteger o homem contra o próprio homem.
Outra conclusão,dessa caminhada de morte da COVID-19, deixa evidente que a causa da extinção do mundo passa pela relação do homem com o seu habitat, o fato de que desde os primeiros pais humanos temos sido péssimos administradores do lugar, que, por desígnio, habitamos. Por conseguinte, há lugares, se tomarmos, por exemplo, a realidade do Haiti e da Etiópia, que são verdadeiros infernos.
Mesmo que as estatísticas anunciassem que estamos experimentando um percentual a menos de assassinatos, ou um estupro a menos, bem como a diminuição das guerras e da crueldade do homem, o mundo ainda não seria o melhor lugar de se viver. Parece mesmo, diria Flávio Migliaccio (1934-2020), que “A humanidade não deu certo”.
Outra constatação evidente é o papel da ciência neste flagelo humano. Atualmente, a ciência (inclui-se aí somente aquelas de cunho de investigação empírica, apesar do avanço a passos largos) não atende a demanda de problemas advindos da existência humana, pois nós, simples mortais, continuamos sem respostas para muitas necessidades básicas, cruciais para a sobrevivência humana. Só a guisa de exemplo, estatísticas recentes dizem que 550 milhões de pessoas moram em favelas. Os viciados em drogas são hoje milhões, envolvendo um “comércio” na ordem de 400 bilhões de dólares. Há 100 milhões de crianças de rua nas mega-cidades, espalhadas pelo mundo aguardando um horizonte melhor.
Onde estão os mecanismos científicos avançados, no campo da economia; da política; do direito; do social; da ciência médica, etc., que não encontram solução para os problemas humanos? A realidade dos problemas se torna mais assustadora quando se faz uma análise das tendências para os próximos anos. Não existe o menor sinal de que os problemas serão menores.
Por outro lado, a ciência tecnológica está aí para oferecer todas as vantagens, notadamente, no campo do entretenimento. Ocorre que esse “avanço” da ciência tecnológica não livra o mundo, o de hoje e o de amanhã, das ameaças de destruição total. Não se trata de idéia idiota, não, pois sei da importância que a tecnologia tem, especialmente no perscrutar dos fenômenos que permeiam o planeta terra e, por expansão, todo o sistema cosmológico.
Mas, todo esse fantástico avanço tecnológico somado aos fabulosos progressos da ciência, têm sido insuficientes para debelar causas primárias que afetam e aumentam a cada dia a má sorte dos bilhões de humanos.
Francisco Assis dos Santos (*)
(*) HUAMANISTA. E-MAIL: [email protected]