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ARTIGO – O meio ambiente e Francisco

Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser comemorado todo dia 5 de junho. Essa data, que foi escolhida para coincidir com a data de realização dessa conferência, que teve como objetivo principal, chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis.

Já em nossos dias, quando se fala de ecologia e de cuidado como meio ambiente, Amazônia, a figura de São Francisco é sempre lembrada e acenada. Mas é sempre bom ressaltar que a ação ecológica que se inspira no Irmão de Assis precisa ir além de atividades pontuais como reciclar materiais, plantar árvores e flores, bem como lutar pela preservação de determinadas espécies ameaçadas.  É preciso mudar o jeito de viver e conviver, de olhar e de se relacionar. Urge denunciar um modelo econômico e social que privilegia poucos em detrimento de graves impactos sociais e ecológicos.

A revolucionária Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que nestes dias completou cinco anos, acolhe e recolhe as intuições do Pobrezinho e as grandes inquietações dos homens e mulheres do nosso tempo e desta Casa Comum, acenando que tudo está interligado e que as grandes questões sociais estão profundamente relacionadas às interpelações ecológicas. Uma ecologia integral, que exige um processo comum de conversão de mentalidade e de ações cotidianas.

Com isto, neste dia 5 de junho, é sempre bom lembrarmos dele de modo especial, daquele que também soube como ninguém, louvar e bendizer ao Senhor por todas as suas criaturas: nosso pai São Francisco de Assis. E ele, compôs o Cântico das criaturas, já próximo de sua morte. E foi até no fim da vida, queria ver o mundo inteiro num estado de exaltação e louvor a Deus.

Foi no outono de 1225, enfraquecido pelos estigmas (chagas) e enfermidades, ele se retirou para São Damião. Quase cego, sozinho numa cabana de palha, em estado febril e atormentado pelos ratos, deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a criação.

A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta em julho de 1226, no palácio episcopal de Assis, para pôr fim a uma desavença entre o bispo e o prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir a guerra civil. A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta no começo de outubro de 1226, dias antes de seu falecimento dia 3.

Na tradição ocidental Francisco de Assis é visto como uma figura exemplar de grande irradiação. Com fina percepção sentia o laço de fraternidade e de sonoridade que nos une a todos os seres. Ternamente chama a todos de irmãos e irmãs: o sol, a lua, as formigas e o lobo de Gubbio. As coisas tem coração. Ele sentia seu pulsar e nutria veneração e respeito por todo ser, por menor que fosse. Nas hortas, também as ervas daninhas tinham o seu lugar, pois do seu jeito elas louvam o Criador.

O coração de Francisco significa um estilo de vida, a expressão genial do cuidado, uma prática de confraternização e um renovado encantamento pelo mundo. “Recriar esse coração nas pessoas e resgatar a cordialidade nas relações poderá suscitar no mundo atual o mesmo fascínio pela sinfonia do universo e o mesmo cuidado com irmã e mãe Terra como foi paradigamaticamente vivido por São Francisco.”

Rezemos neste dia, a oração Cânticos das Criaturas, feita por São Francisco de Assis, para que possamos além de rezar/orar, mas vivermos e compreendermos melhor toda a questão ambiental que exige de todos nós e de modo urgente:

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,

Teus são o louvor, a glória, a honra

E toda a benção.

Só a ti, Altíssimo, são devidos;

E homem algum é digno

De te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,

Com todas as tuas criaturas,

Especialmente o senhor Irmão Sol,

Que clareia o dia

E com sua luz nos alumia.

 

E ele é belo e radiante

Com grande esplendor:

De ti, Altíssimo é a imagem.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Lua e as Estrelas,

Que no céu formaste claras

E preciosas e belas.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Vento,

Pelo ar, ou nublado

Ou sereno, e todo o tempo

Pela qual às tuas criaturas dás sustento.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Água,

Que é mui útil e humilde

E preciosa e casta.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Fogo

Pelo qual iluminas a noite

E ele é belo e jucundo

E vigoroso e forte.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a mãe Terra

Que nos sustenta e governa,

E produz frutos diversos

E coloridas flores e ervas.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelos que perdoam por teu amor,

E suportam enfermidades e tribulações.

 

Bem aventurados os que sustentam a paz,

Que por ti, Altíssimo, serão coroados.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a Morte corporal,

Da qual homem algum pode escapar.

 

Ai dos que morrerem em pecado mortal!

Felizes os que ela achar

Conformes á tua santíssima vontade,

Porque a morte segunda não lhes fará mal!

 

Louvai e bendizei a meu Senhor,

E dai-lhe graças,

E servi-o com grande humildade

E assim, com o Francisco de Roma em sua inovadora Laudato Si’, é oportuno olhar para Francisco de Assis neste tempo de aquecimento global, a era dos descartáveis, a exclusão social gritante e outros tantos efeitos do des-cuidado humano com a Mãe-Terra, Casa Comum. Deixemo-nos impactar pelo seu atualíssimo testemunho para sermos, também nós, profetas da vida e defensores da criação, num modo radicalmente novo de viver e conviver com os irmãos e irmãs que partilham conosco esse habitat comum ainda tão belo e encantador.

Paz e Bem.


Adaptado conforme: https://www.cnbb.org.br/francisco-de-roma-francisco-de-assis-e-a-laudato-si-um-brado-pela-nossa-irma-a-mae-terra/ e https://franciscanos.org.br/carisma/simbolos/o-cantico-das-criaturas#gsc.tab=0


* Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida-Quintandinha-Petrópolis-RJ
Colaborador do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana
Secular-OFS, na Diocese de Rio Branco-AC
Encontro todo 3º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 09h00 (atividades suspensas).
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