As noções políticas de Platão (428-348 a.C) estão permeadas por um elevado senso moral. A política, para ele, é a conduta ideal do Estado, tal como a ética é a conduta ideal do indivíduo. Assim, muitas das idéias políticas de Platão derivam-se de suas idéias sobre a ética. Boa parte do impacto dessa ética platônica visava combater o relativismo de certos sofistas dos seus dias. Platão estabeleceu a natureza da virtude ética contra o relativismo dos seguidores de Protágoras (490-415 a.C), por exemplo: “o homem é a medida de todas as coisas”.
Na ética de Platão, as virtudes básicas em prol das classes sociais (política), projeto ideal de sociedade, mostrado em “A República”, seriam desenvolvidas pelo homem com o perfil de: produtores (provedor de bens econômicos); guardiães (militares encarregados da defesa e; governantes (cidadãos letrados; pensadores). Na sua visão, essas virtudes se somariam a outras, do mesmo modo obrigatórias em qualquer bom Estado, que são: a coragem, o autocontrole e a justiça.
Na minha ótica estrábica, os conceitos éticos e morais defendidos por Platão são ainda necessários nos dias de hoje, notadamente aos que exercem a primazia de legislar os destinos dos povos, pois que estão firmados em virtudes essenciais à conduta humana.
Infelizmente, na contramão desse conceito clássico de política, da ética platônica, está a política partidária brasileira.
No Brasil, a política partidária está estreitamente ligada ao poder. Faz tudo para chegar ao “poder”, pois têm sede de poder. Essa sede pelo poder público leva homens e mulheres a graus e atitudes extremamente egoístas e desonestas. Não interessam os meios, pois os fins justificam os meios, numa busca desenfreada pelo poder e realização pessoal (prazer) desmedidos, nem que para isso tenha que esfolar, trair antigos comparsas de paliçadas políticas.
De forma aviltante, essa política partidária tupiniquim, quase sem exceção, com linha “ideológica” extremamente pragmática, pois que seus mais dignos representantes, loucos por poder e protegidos pela memória curta do povão, fazem acordos espúrios e parcerias promíscuas como as que estamos testemunhando na presente hora, agravando essa situação caótica e desonesta, fomentando rivalidade entre as siglas. É uma corrida louca na busca desenfreada pela glória, uma vez que são presas fáceis dos “detentores do poder “.
Sendo assim, não há dúvida, a atividade política partidária, com raríssimas exceções, está desmoralizada. Não há outro vocábulo mais adequado, pois que desmoralização é o termo que melhor se adéqua ao atual momento da vida pública brasileira. Corrupção, entre outras definições, é: podridão, devassidão, depravação, perversão, suborno e peita. Além ou aquém disso, temos a farsa e cinismo, perpassando a idéia, digo lorota, própria do Brasil, que o bom da democracia é que todos, indistintamente podem mentir.
No sentido figurado, a maioria dos que fazem política partidária, nos níveis do que já foi dito aqui, deveriam chamar-se “Hermes”. Um dos deuses olímpicos da mitologia grega que tinha, dentre seus vários atributos, o de patrono dos ladrões, além de ser GUIA das almas penadas para o reino dos infernos (Hades).
* Francisco Assis dos Santos é HUMANISTA. E-mail: [email protected]