A capacidade de se expressar livremente é o mecanismo por meio do qual o ser humano mantém a sociedade funcionando.
É em decorrência da liberdade de expressão e da capacidade de articular ideias que as pessoas conseguem apontar problemas, explicá-los, solucioná-los e tentar chegar a um consenso.
A capacidade de se expressar de maneira complexa e argumentada constitui um traço distintivamente humano, o qual é em grande medida responsável pelo nosso progresso civilizatório.
No entanto, por ser capaz de pensar e de se expressar, o ser humano sempre poderá soar ofensivo a terceiros.
É aí que entra em cena o politicamente correto.
Para o politicamente correto, um debate aberto e sem censura, além de ofensivo para as minorias, é também subversivo, inflamatório e gerador de discórdias, devendo por isso ser restringido e até mesmo punido. Mas isso atenta contra a lógica básica.
Para começar, o debate aberto é algo que, por definição, estimula a análise crítica e impede a uniformidade (e a hegemonia) intelectual. O debate aberto e sem censura evita a predominância do chamado “pensamento de manada”, garantindo assim uma voz exatamente para os grupos mais marginalizados e excluídos, os quais, em tese, são o alvo da preocupação do politicamente correto.
Ainda mais importante: se o indivíduo não mais tiver a liberdade de falar o que pensa, ele não mais será capaz de pensar.
Por isso, como bem disse o psicólogo Jordan Peterson, a liberdade de expressão é suprema e está acima do “direito” de alguém de não se sentir ofendido. Com efeito, não existe isso de “o direito de não ser ofendido” simplesmente porque, caso isso realmente fosse impingido, levaria à extinção do próprio pensamento: o ser humano, por ser capaz de pensar, sempre poderá soar ofensivo a alguém.
Querer proibir a expressão do pensamento por seu “potencial ofensivo” significa proibir o próprio ato de pensar.
O livre intercâmbio de informações e ideias é crucial para o progresso de uma sociedade livre. Por isso, toda a forma de “polícia do pensamento” deve ser abolida.
Ao defender a censura de ideias consideradas “ofensivas”, o politicamente correto se transforma em uma ferramenta que restringe o debate de ideias e, consequentemente, a própria evolução da civilização.
Beth Passos é jornalista
E-mail: cacau4949@hotmail.com