Pesquisa realizada pelo curso de Psicologia da Ufac com a finalidade de entender aspectos psicossociais relacionados a atitudes sobre a pandemia de Covid-19 ouviu mais de 550 pessoas em todas as regiões do país por meio de formulário online desde abril.
O projeto de pesquisa intitulado “Aspectos psicossociais no contexto da pandemia de coronavírus (Covid-19) no Brasil” está em processo de análise de dados, mas já possui um artigo submetido a uma revista científica.
Nesta análise parcial algumas constatações já foram produzidas e podem ser destacadas duas delas: uma referente à crença na eficácia do isolamento social; e outra vinculada à percepção de custos econômicos relacionados à prevenção da Covid-19.
Em relação à crença na eficácia do isolamento social, foi evidenciado que o posicionamento político-ideológico (contínuo esquerda-direita) é relevante na postura dos participantes. As pessoas que se aproximam mais a posicionamentos ditos de “direita” tendem a acreditar menos na eficácia do isolamento social. Por sua vez, as pessoas mais próximas ao campo da “esquerda” demonstram tendência a acreditar mais em tal eficácia.
No que diz respeito à percepção de custos econômicos relacionados à prevenção da Covid-19, um conjunto de variáveis psicopolíticas se mostrou relevante, em especial: traços autoritários.
Houve uma forte relação entre pessoas que demonstraram traços autoritários (submissão autoritária; agressão autoritária; convencionalismo; e pensamento supersticioso) e uma maior preocupação com custos econômicos ligados à prevenção do coronavírus. Também houve importante vínculo entre traços autoritários e apoio aos pronunciamentos do presidente Jair Bolsonaro.
“Muitas vezes acreditamos que nossas escolhas são pautadas por análises racionais e individuais. Supostamente nossas atitudes seriam fruto do conhecimento objetivo da realidade. No entanto, o que os dados preliminares – em consonância com várias outras pesquisas – demonstram é que há muitas outras variáveis compondo a formação de nossas atitudes. A crença na eficácia do isolamento social se relaciona ao grupo político ao qual o sujeito se identifica. Podemos entender que ela não é apenas uma escolha individual baseada em sua racionalidade, mas que a forma como se vê a realidade é permeada também pelo grupo social ao qual a pessoa se filia”, explica o professor Leandro Rosa.
Ou seja, por mais que as decisões sejam tomadas pelas pessoas enquanto indivíduos, as identidades sociais constituem a maneira como elas pensam e sentem a realidade.
Também no que se refere à percepção dos custos econômicos da prevenção da Covid-19, a pesquisa mostra que não é apenas a racionalidade e o conhecimento objetivo da realidade que compõem a posição dos participantes. Os traços autoritários – ou a ausência deles – contribuem na maneira com que a pessoa percebe e entende a realidade.
“Cabe destacar que os traços autoritários constituem e são constituídos pelas identidades políticas que mediam nosso contato com o mundo. Novamente o sujeito toma sua decisão, no entanto é uma ilusão imaginar que tal postura é fruto de uma relação direta com a realidade”, diz o professor Marcelo Xavier de Oliveira.
A posição de cada pessoa relacionada a esse tema é permeada por diversas variáveis psicossociais e, como mencionado, entre elas se destacaram os traços autoritários. Assim, aponta professor Gustavo Henrique Carretero, em casos como este parece pouco eficaz tentar produzir mudanças de posição apenas por meio de argumentos lógicos e dados objetivos, pois a percepção é composta também por elementos psicopolíticos que podem ser imunes a esses estímulos.
“É importante destacar que nenhum de nós está imune a essa produção psicossocial de percepção da realidade e que há inúmeras outras variáveis de diversas ordens e dimensões que compõem nossos comportamentos”, destaca a professora Patrícia da Silva.
Por fim, os pesquisadores destacam que tais dados, ainda que preliminares, apontam, junto a outras pesquisas, para a necessidade de reconhecer e melhor compreendermos os aspectos psicossociais que compõem nossos processos de percepção e formação de atitudes.
“Em momentos de crise sanitária e social como o atual, tal necessidade se torna urgente pela sua capacidade de contribuir para a redução de mortes causadas pela Covid-19. Diante da pandemia, o ‘vírus da desinformação’ deve ser combatido, mas junto a isso devemos produzir formas de proteção contra a polarização política e o autoritarismo que colocam em risco nossa democracia e nossas vidas”, avalia Leandro Rosa.
Responsáveis pela pesquisa
A equipe que realiza a pesquisa é formada por Gustavo Henrique Carretero, Leandro Amorim Rosa, Marcelo Xavier de Oliveira e Patrícia da Silva, professores do curso de Psicologia da Universidade Federal do Acre (UFAC). (Assessoria)