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ARTIGO – Fé no café

Ando aqui no meio de uma negociação chatíssima de venda de um imóvel. A primeira razão de classificá-la como tal é o simples fato de que eu quero vender por um preço e, até agora, todo mundo que quis comprar, quer comprar por outro. Óbvio. Por isso mesmo que se chama negociação. Na teoria, até que gosto dessa parte. É quase como um desses debates: réplica e tréplica pra tudo que é lado. Mas chata mesmo é a distância entre o meu número e os números que têm aparecido. Ô rapaz.

Faz umas seis semanas que um dos interessados chegou com uma proposta que não deu raiva – milagre – e, vai pra lá, vai pra cá, chegamos a um acordo. Seis semanas. E daí que a imobiliária escreveu um contrato de compromisso de compra e venda. Um compromisso por si já deveria ter valor de contrato, certo? Se eu digo que vou te vender X por Y e você me diz que vai comprar o mesmo X pelo mesmo Y, tá feito, não?

Não. Há seis semanas esse danado passeia entre o advogado da imobiliária e o do comprador, que a essa altura, nem sei se chamo de comprador, de interessado em comprar ou de chato de galocha. Tudo isso para contar que minha atitude racional em relação a essa negociação já caiu por terra e retomou as forças umas vinte vezes. Sexta passada eu apelei. Escrevi o nome do corretor e do chato em um pedacinho de papel, dobrei pequenininho e coloquei no pote do pó de café.

Nem sei de onde lembrei dessa simpatia. Desde então, toda vez que vou passar o café, acho graça. Que coisa sem jeito. Hoje cedo recebi uma ligação da imobiliária dizendo que o contrato está na meu e-mail. Eu vou assinar assim que acabar esse texto. Parece que os advogados finalmente entraram em um acordo. Fiquei pensando em como nossas formações de compromisso conosco e com os nossos, embora silenciosas e não documentadas se parecem com esta. Há negociação, há desejo, há X, há Y. Há jeito e falta de jeito, há número e até crenças injustificáveis. Prevalece o tempo necessário para que tudo tome lugar. Parece que vai sair hoje. E se sair, essa será uma boa semana. Tomara que seja para vocês também. Conto na próxima.


* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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