O texto de hoje é bastante rico ao falar de três virtudes humanas. O conceito de virtude, tomado como objeto de estudo de ciências como a filosofia e a psicologia, é um conceito multidimensional e complexo, portado de diversas definições. Foram escolhidas para compor as discussões deste texto três virtudes: a coragem, a justiça e a generosidade.
Segundo Chauí (1994 apud D’AUREA-TARDELI, 2011)[1] o conceito de virtude, de uma forma ou de outra, sempre esteve conectado ao ideal humano de boa convivência e do bem comum, acompanhando, historicamente, a evolução do pensamento filosófico desde a antiguidade. Etimologicamente, virtude vem do latim vir, que designa o homem/o varão, daí o adjetivo viril. Virtus é poder e força. Já em grego, virtude é areté que significa qualidade da excelência. Na visão de Kant (2001, p. 49) “ virtude é a força de resolução que o ser humano revela na realização de seu dever”.
Na visão de Kant há uma intrínseca relação entre as virtudes e o dever. As virtudes seriam uma força moral da vontade (das máximas), as quais conduzem o ser humano no cumprimento de seu dever. Virtude revela o valor moral da motivação do agente, mostra que a ação teve como motivo o respeito pelo dever e, por isso, nunca poderá ser contrária a ele.
De todas as virtudes, a coragem é sem dúvida a mais universalmente admirada. A coragem é a virtude dos heróis e quem não admira os heróis? Segundo definição do Dicionário Houaiss (2009), o herói é um ”indivíduo notabilizado por suas realizações, seus feitos guerreiros, coragem, abnegação, magnanimidade”, etc.
A coragem enquanto virtude é força de alma, diante do perigo, é uma força impulsionadora do agir bem. Ainda segundo o Dicionário Houaiss (2009) a coragem é a “qualidade de quem tem grandeza de alma, nobreza de caráter, hombridade […]; determinação no desempenho de uma atividade necessária; zelo, perseverança, tenacidade […]” (p. 548), o que estaria mais de acordo do seu sentido enquanto virtude. E, embora sempre estimada, de um ponto de vista psicológico ou sociológico, a coragem só é verdadeiramente estimável do ponto de vista moral quando se põe, ao menos, em parte, a serviço de outrem. Como virtude, a coragem supõe sempre uma forma de desinteresse, de altruísmo ou de generosidade.
A justiça figura como um dos ideais (valores) mais buscados e pregados pelos seres humanos no decorrer da história. Sua busca universal visa estabelecer uma ordem social a partir da igualdade entre todos, dando a cada o que lhe é de direito e estabelecendo também os deveres para com o outro. No campo da psicologia moral, a justiça se estabelece como um dos principais objetos de estudos, dado o papel da razão em sua construção e manifestação. Há sem dúvida uma grande importância atribuída a este valor – que aqui é tomado como virtude – na gênese da moralidade em crianças, adolescentes e adultos. O Dicionário Houaiss (2009) define justiça como a “qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar o que é direito, justo”.
A justiça é sem dúvida a única, dentre estas virtudes, que pode ser considerada como absolutamente boa, ocupando um lugar de destaque no contexto das demais virtudes, não sendo possível se isentar dela em suas considerações. A justiça sem fazer às vezes de nenhuma virtude, contém em si todas as demais virtudes e falar injustamente de uma delas, ou de várias, seria traí-las e não as compreender em sua totalidade. A justiça não é uma virtude como as outras. Ela é o horizonte de todas e a lei de sua coexistência.
A generosidade é a virtude do dom. O Dicionário Houaiss (2009) define dom como a “ação de passar a outrem a posse ou o usufruto de algo; dádiva, presente dado por alguém […]; aptidão inata para fazer algo, especialmente difícil ou raro; inclinação, talento; poder de realizar algo bom ou ruim; doação […]” (p. 707). Seguindo este mesmo pensamento pode-se qualificar o dom como “ toda prestação de bens ou de serviços efetuada, sem garantia de retribuição”.
Tanto a generosidade como a justiça diz respeito ao modo como nos relacionamos com outrem. Em sua visão a generosidade é mais subjetiva, tendo em si um caráter mais singular, afetivo e espontâneo. Já a justiça, mesmo quando aplicada, guarda em si algo mais objetivo, universal, intelectual e até mesmo mais refletido. A generosidade parece dever mais ao coração ou ao temperamento; a justiça, ao espírito ou à razão. A generosidade age além de qualquer texto, além de qualquer lei, estando unicamente de acordo com as exigências do amor, da moral ou da solidariedade.
A lei justa é boa para todos, inclusive para a pessoa que exerce a justiça, em contrapartida ao ato generoso que em sua concepção favorece quem é por ele contemplado, não quem age de forma generosa. É por ser a generosidade a inteira dedicação a outrem que se diz que ela traduz plenamente o altruísmo.
Segundo La Taille (2002a)[2], “virtudes são traços de caráter, são uma leitura ética da personalidade” (p. 156). As virtudes aparecem como uma coroação da gênese afetiva da moralidade e compõem as imagens de si pelas quais cada ser humano pode julgar sua dignidade.
Tanto a generosidade quanto a justiça dizem respeito ao modo como nos relacionamos com outrem. Em sua visão a generosidade é mais subjetiva, tendo em si um caráter mais singular, afetivo e espontâneo. Já a justiça, mesmo quando aplicada, guarda em si algo mais objetivo, universal, intelectual e até mesmo mais refletido. Entende-se que a generosidade parece dever mais ao coração ou ao temperamento; a justiça, ao espírito ou à razão. A generosidade age além de qualquer texto, além de qualquer lei, estando unicamente de acordo com as exigências do amor, da moral ou da solidariedade.
As virtudes fazem referência às qualidades que uma pessoa possa possuir. Estas qualidades, de certa forma, lhes conferem algum valor, despertando assim a admiração alheia – ser bonito, ser habilidoso com algum instrumento, cantar bem, entre outras, são qualidades admiráveis. Porém, dentro dessas qualidades algumas ocupam lugar especial, pois remetem ao caráter da pessoa, citando como exemplo disso, a coragem, a humildade, a generosidade, a justiça, entre outras.
As virtudes, então, são inerentes ao sentido do humano e relacionam-se às suas ações, atitudes, enfim, modos de ser. Os seres humanos deverão dentro desta perspectiva, ter sempre seu modo de ser voltado para o bem comum, ou seja, o bem da coletividade, no qual o auto interesse deve surgir em segundo plano. Se a felicidade é o fim, o bem é o meio, o caminho da humanização.
LIÇÕES DE GRAMÁTICA
- “Mal”/“mau”
– Por que “gêmeos do mal”, com “L”? É que “mau” com “U” é um adjetivo, enquanto “mal” com “L” pode ser advérbio ou substantivo. Observe:
- A luta entre o bem e o mal nunca acaba.
- Comemos muito mal durante nossa viagem.
- Nas histórias, as madrastas sempre são más, isto é, têm o coração mau.
- Quem é mal-humorado está sempre de mau humor!
- “Bem”/“bom”
– Aqui uma pista: “Mal” é o contrário de “bem” e “mau” o contrário de “bom”, ou seja, “bem” pode ser usado nas mesmas situações em que se usa “mal”, e “bom” naquelas em que a pessoa usaria “mau”. Observe:
- Ficamos de bom humor (ou bem-humorados) depois da festa de aniversário!
- Comer é muito bom, mas infelizmente não faz bem.
[1] D ́AUREA-TARDELI, Denise. O herói na sala de aula: “práticas morais” para utilização de filmes pelo professor de ensino fundamental e médio. 2. ed. Santos: Leopoldianum, 2010. 124 p.
[2] LA TAILLE, Yves de. Para um estudo psicológico das virtudes morais. São Paulo: Universidade de São Paulo. Educação e Pesquisa, 2000, v. 26, n. 2. 109-121 pp. LA TAILLE, Yves de. Para um estudo psicológico das virtudes morais. São Paulo: Universidade de São Paulo. Educação e Pesquisa, 2000, v. 26, n. 2. 109-121 pp.