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ARTIGO – O gato subiu na escada

Eram 10h15 e eu esperava meu analisando das 10h, distraída no sofá do quarto, meu consultório nos últimos meses. Se passam 10 minutos, é bem provável que uma mensagem apareça com o pedido de desculpas pelo atraso. Oi Rô, ainda dá tempo? Se passam 15, é quase certo que se trata de um esquecimento – entre muitas aspas –, um despertador que não tocou, ou qualquer coisa sobre a qual falaremos no próximo encontro. Eu costumo seguir lá sentadinha. Pra mim a sessão acontece sempre, apesar da ausência, ou mesmo por causa dela, tanto para o analista quanto para o analisando.

Ocorre que a campainha tocou. E eu, que vinha ignorando qualquer toque desde o começo da pandemia, começo a achar indelicado não responder ao chamado do zelador que raramente escolhe vir até a porta. Ele, que não é besta nem nada, também deve preferir a distância de nossas conversas ao interfone. E já que não havia uma chamada em curso, atendi.

Estavam na porta o Sr. Jair e a dona Luciene, mas não só. No ombro da dona Luciene, a responsável pela limpeza do prédio, repousava, com cara de “o que é que está acontecendo aqui?” um gatinho preto.

Ao que eu respondi na certeza de quem não pensou nem por um segundo:

Rapaz, não sei não. Fui procurar o Pantera com o Pantera 2 no colo. Não achei. Mas o gatinho era tão levezinho, sei lá. Tinha a mesma manchinha branca no peito, mas não parecia à vontade no meu colo. Voltei.

Devolvi no mesmo ombro da dona Luciene. Foi só dar meia volta para sentir o olhar de “o que é que está acontecendo aqui?” do Pantera que assistiu à cena de camarote na janela da sala. Um jeito assim novidadeiro de começar uma segunda. Que coisa. Boa semana queridos.

Ps: era o gatinho do 23, eles mudaram sábado agora.

Ps2: O contrato do apartamento ainda não saiu, acredita?


* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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