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Estudo aborda uso e manejo de plantas alimentícias do povo Puyanawa

O conhecimento, o uso e o manejo de plantas alimentícias do povo Puyanawa evidenciam uma agricultura diversa e resiliente, com potencial para garantir a segurança nutricional das famílias indígenas. É o que revela a pesquisa de mestrado da bióloga Luana Fowler, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Agricultura no Trópico Úmido do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com apoio da Embrapa Acre.

O estudo correlacionou o conhecimento científico e tradicional para conhecer os sistemas de produção que constituem a agrobiodiversidade da Terra Indígena Puyanawa, localizada no município de Mâncio Lima, na região do Juruá, interior do Acre.  O objetivo foi descrever as formas de uso e manejo de plantas alimentícias e o quanto esses ecossistemas locais contribuem para a segurança nutricional dos moradores da Terra Indígena (TI).

Foram identificadas 95 espécies alimentícias presentes na dieta do povo Puyanawa. Essas plantas estão distribuídas em 38 famílias botânicas e 69 gêneros, com maior ocorrência de palmeiras, como açaí, buriti e bacaba. Entre os agrossistemas encontrados, Luana destaca os quintais, os roçados, a capoeira e os Sistema Agroflorestais (SAF). “Nos quintais indígenas é realizado o manejo de espécies domesticadas, onde é possível encontrar grande variedade de alimentos, como banana, coco, pupunha, cupuaçu e abacate”, explica Luana.

Segundo a pesquisadora, na Amazônia a maioria das plantas domesticadas é perene, como árvores e palmeiras. Nessa categoria, foi observada a domesticação de 16 espécies, revelando intensa intervenção humana e baixa capacidade de adaptação ecológica, isto é, somente podem sobreviver em paisagens cultivadas, como os quintais. Já os roçados, áreas com até dois hectares, apresentam consórcio de espécies que estão na base da alimentação como macaxeira, inhame, banana e abacaxi.

“Uma variação desse tipo de sistema é o roçado de arado, representado pelo monocultivo de macaxeira. A capoeira, por sua vez, é destinada à recomposição das propriedades do solo. A sabedoria indígena diz que, quando a macaxeira (mandioca) vai ficando fina é hora de abandonar o sistema. Então, esse é o momento de deixar a terra em descanso”, complementa.

Pesquisa de campo

A pesquisa foi realizada entre 2018 e 2020, com viagens à Terra Indígena nos meses de março, abril, julho e agosto de 2019, totalizando 63 dias em campo. Foram entrevistados 81 indígenas de 33 famílias moradoras das duas aldeias que compõem a Terra Indígena.

Para Moacir Haverroth, pesquisador da Embrapa Acre e coorientador do trabalho, o tempo de permanência em campo é determinante para a obtenção de dados sólidos sobre o tema pesquisado. Além de focar as plantas alimentícias, por meio da identificação das unidades de paisagem e da frequência de espécies em cada ambiente, a pesquisa teve o diferencial de acompanhar as refeições familiares para saber quais espécies são utilizadas no dia a dia.

“Os resultados mostram que o número de espécies alimentícias identificadas em campo é maior do que aquelas que efetivamente fazem parte da dieta do povo Puyanawa. O fortalecimento da agricultura local é importante para assegurar uma alimentação rica em nutrientes, que pode trazer benefícios para os indicadores de saúde da população indígena”, destaca Haverroth.

Desde 2018 a Embrapa Acre desenvolve ações de pesquisa e transferência de tecnologias na TI Puyanawa, com o objetivo de fortalecer a produção agrícola nas aldeias. O foco desse trabalho são os cultivos de macaxeira, fruticultura e hortaliças. Também foram realizadas oficinas para adoção de boas práticas na fabricação de farinha, que abastece boa parte do mercado local de Mâncio Lima e possibilita a geração de renda para as famílias.

 

Festival Atsá

A Terra Indígena Puyanawa é formada pelas aldeias Barão e Ipiranga, onde vivem 648 habitantes. A mandioca é o alimento mais cultivado pelas famílias, que chegam a produzir 500 toneladas da raiz por ano. Além de ser matéria prima para a produção de farinha, representa a base da alimentação dos Puyanawa, estando presente nas refeições diárias.

De acordo com Luana, a agricultura tradicional nos roçados é o principal modo de subsistência dos Puyanawa, com a crescente participação no etnoturismo de base comunitária, que promove o fortalecimento e a retomada da cultura ancestral, como as práticas ritualísticas.

O Festival Atsá, evento realizado anualmente pelos Puyanawa, está relacionado à mandioca e seus derivados, como a farinha. “Esse alimento, além de ser fonte de recurso nutricional, constitui a base para o fortalecimento cultural na retomada de hábitos alimentares que foram invisibilizados”, avalia a pesquisadora. (Diva Gonçalves, com colaboração de Breno Caleb / Assessoria de Comunicação da Embrapa Acre)

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