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ARTIGO – A língua escrita e seus desafios numa escola

A leitura e a escrita constituem conhecimentos dos mais importantes ao ser humano, uma vez que é ao mesmo tempo disciplina a ser aprendida e instrumento para a aprendizagem dos mais variados campos da ciência. A necessidade de aprender a ler e a escrever, no entanto, vai mais além, pois faz parte da cidadania, é direito de todo ser humano, quer seja para dar continuidade aos seus estudos, para articular conteúdos culturais, para melhor se expressar, se divertir entre outras funções.

A incapacidade de ler e escrever nas situações sociais, numa sociedade em que tal capacidade é cada vez mais exigida, além de limitar o acesso a informações, privando a pessoa da aquisição de novos conhecimentos, tira dela o direito de participar de forma ativa e autônoma da vida social, considerando que a cultura escrita se faz presente nos diversos meios da vida humana.

Nessa perspectiva, compreende-se o domínio da leitura e escrita como elemento essencial no processo escolar, cujo desenvolvimento serve de base para a obtenção de novos saberes. As dificuldades de aprendizagem, entretanto, constituem um dos graves problemas que enfrentam os alunos das escolas brasileiras, preocupando educadores, pesquisadores em educação e toda a sociedade. Enquanto a LDB art. 32, inciso I assegura “a formação do cidadão mediante o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura e da escrita e do cálculo”, a realidade educacional aponta crianças e jovens que, por motivos intrínsecos ou extrínsecos à escola, enfrentam dificuldades em ler e escrever, o que na maioria das vezes implica em experiências escolares fracassadas.

Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), de acordo com uma publicação feita pelo INEP mostrando o mapa de analfabetismo no Brasil, nas provas de 2018, são ilustrativos dessa situação: 55% dos alunos da quarta série apresentavam níveis muito críticos no desempenho da leitura e da escrita, ou seja não desenvolveram habilidades mínimas condizentes a quatro anos de escolarização. Em 2019 os dados do SAEB mostram que ao final da quarta série do ensino fundamental apenas 29,12% das crianças tinham aprendido o que é esperado para este estágio. Ou seja, apenas 03 alunos em cada 10. Os dados revelam, ainda, neste mesmo ano, que o analfabetismo funcional atingiu 80% destas crianças. Diante desta realidade nos perguntamos: com tantos avanços na compreensão do processo de aquisição da aprendizagem da leitura e da escrita porque ainda não se resolveu o desafio da alfabetização? Que aspectos estão interferindo no processo de ensino-aprendizagem das séries iniciais e o que está sendo feito para motivar o interesse dos alunos pela leitura? O enfoque deste questionamento está voltado para a questão pedagógica; assim procura-se compreender as causas que conduzem ao fracasso na leitura e na escrita .

É importante observar que existe, em geral, uma confusão dos professores, mas também dos formuladores das políticas educacionais, sobre avaliação como processo. Assim, tem sido comum as escolas fazerem o que se convencionou chamar de “promoção automática”, ao invés de um processo avaliativo que implique no desenvolvimento qualitativo da aprendizagem, por parte dos alunos. A posição dos professores, modo geral, reflete essa confusão, além de revelar o despreparo em relação a um processo avaliativo que contribua, efetivamente, para a melhoria da qualidade do ensino.

Nesse sentido, percebe-se que falta aos educadores o que Paro (2001) considera como essencial: a consciência de que o fracasso escolar não se deve a um fator apenas, mas a um conjunto de fatores internos e externos à escola, e essa inconsciência faz com que os mesmos aceitem a crença do senso comum de que a baixa qualidade do ensino se deve ao pouco esforço ou despreparo do professor, ou ao aluno que tem precárias condições culturais e econômicas.

De acordo com a compreensão que se tem, atualmente, acerca do processo de ensino-aprendizagem, é possível afirmar que a reprovação não resolve o problema dos alunos, com atrasos no processo de aprendizagem de leitura e escrita, principalmente quando se trata de alunos com dificuldades de natureza cognitiva. Mas entende-se que devem ser desenvolvidas estratégias educativas especiais, capazes de possibilitar que esses alunos avancem, de acordo com seu ritmo de aprendizagem, respeitando, assim, o processo individual numa perspectiva de educação inclusiva.

Analisando o fracasso escolar que trata a relação entre linguagem e escola, a partir de uma perspectiva social, Soares (1987) identifica três ideologias presentes no contexto educacional: a) a ideologia do dom – que aponta as diferenças individuais (dom, talento, aptidão e inteligência) como causas do fracasso. Logo, a responsabilidade pelo fracasso do aluno não cabe à escola, mas a falta dessas características no próprio aluno; b) Ideologia da deficiência cultural – segundo a qual as causas estariam no contexto cultural de que o aluno provém, ou seja, alunos provenientes de um meio pobre em estímulos sensório-perceptivos apresentariam déficits afetivos, cognitivos e linguísticos; c) a ideologia das diferenças culturais que admite a existência de subculturas e de uma cultura dominante que por razões socioeconômicas aparece como a cultura legítima e como na escola o aluno é avaliado em relação ao modelo cultural que não é o seu, este aluno fracassa.

As duas primeiras ideologias citadas colocam a responsabilidade pela não aprendizagem para o aluno, ao passo que na última ideologia a responsabilidade cabe à escola, que não sabe lidar com a diversidade cultural e acaba transformando diferença em deficiência cultural.

Assim, o que se espera, em face dessa realidade, é que a escola assuma seu real papel de conduzir os estudantes às tarefas de ler e escrever, igualmente eles sabem conversar com os colegas, tanto no ambiente escolar como fora dele. Que os alunos sejam inseridos no ambiente escolar, de modo igualitário, para superar dificuldades e diferenças que somente a leitura e a escrita irá colocá-los num patamar de iguais.


LIÇÕES DE GRAMÁTICA

“Absolver” / “absorver”

– Por falar em descriminar, um de seus sinônimos que também gera alguma confusão é “absolver”, que quer dizer tirar a culpa, perdoar, etc. Diferentemente de absorver, que é fazer desaparecer um líquido (pensou em fraldas?) ou assimilar algo. É simples:

Os padres ouvem as confissões dos fiéis para absolver seus pecados.

Em uma aula expositiva, nem sempre é fácil absorver todo o conteúdo dado pelo professor.

Alguns tecidos ajudam a absorver melhor o suor na prática de atividades físicas.


(*) Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg tem Pós-Doutorado em Lexicologia e Lexicografia – Université de Montréal – Canadá; Doutorado em Letras Vernáculas – UFRJ; Mestrado em Letras – UFF; Coordenadora Pós-Graduação, Campus Floresta – UFAC; Presidente da Academia Acreana de Letras – AAL; Membro da Intertional Writers and Artist Association – IWA; Embaixadora Internacional da Poesia – CCA.

E-mail: lessaluisa@yahoo.com.br

Fabiano Azevedo: