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ARTIGO – Extremismo

Enquanto a igreja Católica Apostólica Romana, quer ser depositária da Palavra, não joga luz sobre suas dificuldades internas institucionais, não conseguirá atuar de forma clara e definitiva, nas demandas da humanidade, cada vez mais, confusa e dividida quanto às referências de valorização da vida como bem divino.

A maior parte dos escândalos envolvendo a instituição diz respeito a desvios de dinheiro, a disputas por poder e abusos ou transgressões sexuais, oportunas ou inoportunas que desafiam constantemente os votos de “pobreza, obediência e castidade.”

Talvez a essência desses desvios esteja na extrema hierarquização, no machismo radical e na transformação de uma proposta missionária em fé burocrática.

Historicamente, em muitos momentos a igreja católica esteve atrelada ao poder político e econômico em disfunção à proposta primordial de Cristo que, ao contrário, esteve indiscutivelmente ao lado dos oprimidos e marginalizados. Inclusive das mulheres que tiveram papel fundamental em sua missão terrena. Mas não é o que acontece desde sua passagem dentre nós.

Ao tocar em pontos nevrálgicos como o homossexualismo, tão comum nos bastidores dos conventos e ao afastar grandes cabeças da instituição por corrupção, Francisco se esforça para reaproximar a igreja dos ideais de Cristo confrontantes com a realidade de um mundo que se transforma numa velocidade alucinante, deixando para trás o que deveria ser a base da convivência humanitária: o respeito, o amor e a compaixão.

Mas, os moralistas, conservadores e ultraconservadores, que – naturalmente – são os mesmos protagonistas dos desvios da filosofia pura de Cristo, o execram a ponto de Francisco precisar ter um esquema de segurança para proteger sua própria vida. Esses moralistas conservadores são aqueles agentes da igreja que a usam como uma ponte para o poder político, status social e acúmulo de patrimônio. No livro “Sex and the Vatican – uma viagem secreta ao reino dos castos” o jornalista Carmelo Abbate revela que “O fenômeno da sexualidade na Igreja Católica, segundo o autor, é gigantesco e complexo. Fazem parte deste mundo os padres gays que optam por uma vida dupla; os sacerdotes que se relacionam com mulheres clandestinamente; e mesmo os filhos desses relacionamentos, que são abortados, escondidos ou privados de um pai pela vida inteira, para que se evite escândalos.” Já conheci alguns.

Não tenho a menor dúvida que, após o pontificado de Francisco, a igreja Católica será tomada por uma onda conservadora sem precedentes. Mesmo assim, desfrutemos de Francisco que é para nós, um alento neste mundo de hipocrisias e desumanidades. Algo de seu legado irá ficar. Que a nossa fé permaneça.

Beth Passos 

Jornalista 

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