Certamente você já passou pela experiência de ao caminhar pelas ruas de Rio Branco se pegar pensando “poxa, mas hoje tá um calorão’’, principalmente durante os horários mais quentes, entre as dez e as duas horas da tarde. Isso é o que podemos entender como conforto térmico, ou no caso, desconforto. O conforto térmico, em poucas palavras, nada mais é do que “uma condição mental que expressa satisfação com as condições térmicas do ambiente”. Assim, pessoas quando sentem calor procuram formas de diminuir este desconforto, levando ao gasto de centenas de reais por mês com eletricidade com o uso de ar-condicionado em casa, isso para aqueles que podem pagar, os que não podem sofrem.
As cidades se constituem em uma paisagem térmica, ou seja, determinadas áreas são mais quentes e outras são menos quentes. Isso ocorre em virtude da capacidade das diferentes superfícies em “absorver” energia solar, ou seja, o asfalto, o teto das casas e prédios tende a apresentar maior temperatura do que uma área vegetada ou um açude por exemplo. E é justamente por isso que se formam as chamadas “ilhas de calor urbano”, regiões em que a temperatura tende a ser mais elevada do que no seu entorno.
Então precisamos nos perguntar, será que podemos de alguma maneira modificar essas ilhas de calor urbano? Tal situação está diretamente relacionada ao fato de que as cidades estão cada vez mais populosas, e consequentemente expandindo os limites da sua área urbana, que aliado a problemas de planejamento e gestão urbana tem contribuído para a intensificação das ilhas de calor.
Mas então o que podemos fazer para remediar essa situação? Usualmente se fala muito acerca do potencial da arborização urbana como uma medida mitigadora, mas será que plantar árvores resolverá todos os nossos problemas? Para responder a esta pergunta, precisamos entender o contexto no qual a cidade de Rio Branco está inserida. Para isso faça você mesmo o seguinte experimento: ao sair de casa para trabalhar observe durante o seu trajeto quantas árvores você encontrará ao longo da sua rua, ou até mesmo do seu bairro. Certamente serão poucas, e as que forem encontradas provavelmente serão dentro de quintais. Rio Branco, possui apenas 4,6 árvores por quilômetro linear de calçada, número mais de vinte vezes inferior ao recomendado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (100 árvores por quilômetro linear de calçada).
Quando consideramos o ranking das cidades que apresentam o maior número de árvores ou de áreas verdes próximas de edificações/residências nos deparamos com uma situação curiosa e preocupante para as capitais amazônicas, Manaus (AM) e Belém (PA), possuem apenas 25% e 22%, respectivamente, enquanto, Rio Branco (AC), ocupa a lanterna do ranking, com cerca de 14%. Para efeitos de comparação, Campo Grande – MS, que é considerado a cidade mais verde do Brasil, possui cerca de 96% das suas edificações próximas a pelo menos uma árvore.
Considerando esse cenário, precisamos garantir a execução do Plano Municipal de Arborização Urbana, com isso, podemos reduzir o calor da cidade, pois, árvores, além de garantirem sombra transpiram e consequentemente transformam o calor sensível em calor latente, reduzindo a temperatura local. Existem custos sim, folhas e galhos caem, as árvores podem danificar calçadas e redes elétricas, mas em cidades ao redor do planeta, especialmente nos trópicos, os benefícios são muito maiores que esses custos. A manutenção bem feita minimiza estes custos. Basta andar nas ruas arborizadas de Belém ao meio-dia para sentir a diferença drástica de não ter o sol batendo na cabeça como alguém que tem que andar nas ruas da Cidade do Povo aqui em Rio Branco.
E as temperaturas mais frias do passado já eram. Temperaturas elevadas e ondas de calor extremo vêm ocorrendo com mais frequência e intensidade em áreas urbanas nas últimas décadas, a continuação desta tendência vai complicar a vida urbana. Portanto, precisamos executar o plano municipal de arborização urbana o quanto antes, pois, árvores levam tempo para crescer. Precisamos nos planejar hoje para aumentar a resiliência térmica das cidades do Acre. Em uma projeção recente sobre o clima, modelos indicam que para o ano de 2070 as temperaturas médias poderão ficar acima dos 29°C em praticamente toda a região Amazônica. Para efeitos de comparação, hoje, somente o deserto do Saara apresenta tais condições inóspitas.
Para encerrar, vamos voltar a pergunta que se faz no título desse artigo, seriam as árvores o “ar-condicionado” gratuito para toda a cidade? A resposta é que nada é sem custo. Plantar árvores é uma atividade que requer investimento, além dos custos com podas etc. O que precisamos pesar na balança é que o custo de não arborizar hoje vai crescer, pois nos próximos anos e décadas a qualidade de vida das pessoas será diretamente impactada, e aqueles que estão em condição de vulnerabilidade socioeconômica sofrerão mais, intensificando dessa forma as (in)justiças ambientais que já se encontram fortemente estabelecidas nas cidades.
(*) Julio Roberto da Rocha Almeida – Engenheiro Florestal, Pós-Graduando em Ciências Florestais da Universidade Federal do Acre (UFAC).
(**) Foster Brown – Pesquisador do Centro de Pesquisa de Clima Woodwell, Docente de Pós Graduação e Pesquisador do Parque Zoobotânico da UFAC.