Venho ouvindo há algum tempo a mesma indicação de amigos, analisandos, família. This is us, tem que assistir. Tudo que vem com esse ´tem que´ já me põe resistente. Eu gosto de pensar que não tenho que nada. Depois, o negócio tem 5 temporadas, 18 episódios para cada uma. E a vida está corrida. E falta concentração. E nunca atendi tanto e por tantas horas como agora. E mil coisas.
Ocorre que, na outra semana, tive uma amigdalite com febre e os acessórios que lhe acompanham. Tinha cara de Covid, me deu um medo danado. Eu fiquei isolada em casa, era a semana de receber as meninas de volta dos 15 dias de férias na casa do pai. Não vieram até o resultado do teste – negativo – chegar.
Sem corrida, sem ginástica, sem nenhuma ida ao supermercado, do quarto onde atendo para o sofá da sala, uma falta de ânimo sem tamanho, entendi que, talvez, fosse o momento de experimentar a série. No fim da primeira temporada, escrevi a uma das amigas que havia feito a recomendação. Ela confessou que desistiu lá pelo quinto episódio. Todo mundo muito perfeito, Rô. Não aguento não. Eu achei graça. Lá pelo quinto episódio dos nossos encontros da vida, qualquer que seja a natureza do encontro, dá pra segurar uma perfeiçãozinha ainda, não dá? Mas aí a vida vai vivendo e o caldo vai engrossando, como – por favor – tem que ser.
Assim se deu na história que assisti aqui, agarradinha nas minhas pastilhas de Flogoral. Ô se engrossou. Cada desdobramento da narrativa revelava novas dobras. A cada personagem que chegava um pouquinho mais perto da câmera, novos nós. Claro que recomendo a série com muito gosto. Já vou na quinta temporada. Mas recomendo – ainda com mais gosto – esse desdobrar, esse reforço de foco, a parada do corpo, quando já não é possível manter o ritmo, o sofá, a entrega ao medo, ao complexo, à paciência e ao Flogoral – alívio – simbólico. Boa semana queridos.
(*) Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…