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ARTIGO – Alteridade e Resiliência

O governador do Estado do Acre, Gladson Cameli, em recente pronunciamento, através dos meios de comunicação, estimulou o povo acreano ao cumprimento do protocolo de segurança contra a Covid-19. Do discurso, eu destaco esta afirmação: “É hora de pensar menos no eu e mais em nós”.

Esta assertiva do governador traz em seu contexto um princípio ético de alteridade, pois o significado da palavra alteridade possui o sentido de colocar-se no lugar do outro numa relação interpessoal. É a “face do outro” que se impõe com sua irredutível alteridade, que me envolve e  me põe em questão, torna-me imediatamente responsável pelo meu próximo. Que me remete, de forma inexorável, à caridade com preocupação de justiça, especialmente justiça social, diria Emmanuel Lévinas (l905-l995).

Essa alteridade, à luz dessa mortandade por atacado, nos leva a fazer um exame de consciência, bem como pensar a partir do pressuposto de que o outro é detentor dos mesmos direitos que eu almejo para minha vida particular. Enquanto pessoa humana e pessoa cívica, tem também os seus direitos enquanto pessoa social inserida no processo econômico e cultural. Essa alteridade está centrada no equilíbrio entre o interesse individual e o interesse coletivo.

Este ideal de alteridade permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade, não apenas pelo estreitamento das relações interpessoais, quanto pelo fato de compartilharem uma causa comum. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como co-habitantes da mesma possibilidade e necessidade.

Além desse sentimento de enxergar o próximo como a nós mesmos, a gente daqui e dali, vai ter que interiorizar um sentimento de resiliência, resistência ao choque que a pandemia impôs, e continua impondo, a todos nós seres humanos. Essa resistência não é tão somente para a nossa gente sofrida, nação brasileira, que vive  debaixo da influência da miséria, da pobreza e da marginalização que atinge setores imensos da população; gente que convive com a morte brutal de seus semelhantes e a  banalização dos latrocínios diários, como se essa realidade fizesse parte do contexto moderno. Essa resiliência, serve também, para a elite política brasileira e todos os governantes deste país ou, como queiram, para todo o sistema dominante.

Essa resiliência é, como li alhures, a capacidade  de se recuperar  de situações  em crise e aprender  com ela. É ter a mente flexível e o pensamento otimista, com metas claras e a certeza de que tudo passa.  Sim, tudo passa  já dizia o Apóstolo João. Tudo se acha em estado de fluxo contínuo, secunda Heráclito de Éfeso (545-485 a.C).

Essa é a nossa esperança!


“Este ideal de alteridade permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade”

Francisco Assis dos Santos é humanista.

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

A Gazeta do Acre: