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ARTIGO – Fracasso brasileiro no exame PISA

Hoje falamos do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que  é um estudo comparativo internacional realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esse exame Pisa oferece informações sobre o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países, vinculando dados sobre seus backgrounds e suas atitudes em relação à aprendizagem, e também aos principais fatores que moldam essa aprendizagem, dentro e fora da escola.

Os resultados do Pisa permitem que cada país avalie os conhecimentos e as habilidades de seus estudantes, em comparação com os de outros países. Também, que o país aprenda com as políticas e práticas aplicadas em outros lugares e formule suas políticas e programas educacionais visando à melhora da qualidade e da equidade dos resultados de aprendizagem.

O Inep é o órgão responsável pelo planejamento e a operacionalização da avaliação no Brasil, o que envolve representar o país perante a OCDE, coordenar a tradução dos instrumentos de avaliação, coordenar a aplicação desses instrumentos nas escolas amostradas e a coleta das respostas dos participantes, coordenar a codificação dessas respostas, analisar os resultados e elaborar o relatório nacional.

O Pisa avalia três domínios – leitura, matemática e ciências – em todas as edições ou ciclos. A cada edição, é avaliado um domínio principal, o que significa que os estudantes respondem a um maior número de itens no teste dessa área do conhecimento e que os questionários se concentram na coleta de informações relacionadas à aprendizagem nesse domínio. A pesquisa também avalia domínios chamados inovadores, como Resolução de Problemas, Letramento Financeiro e Competência Global.

Como reflexo das dificuldades enfrentadas em virtude da pandemia de COVID-19, os países-membros e associados da OCDE decidiram adiar a avaliação do Pisa 2021 para 2022 e do Pisa 2024 para 2025. O Pisa 2022 já se encontra em preparação e o domínio principal da edição será matemática. A nova Matriz de Referência (ou Quadro Conceitual) de Matemática foi lançada oficialmente em 14 de outubro, na Universidade de Oxford, coincidindo com o lançamento da versão eletrônica interativa, atualmente disponível em nove idiomas, incluindo português de Portugal.

O Brasil está muito mal nesse cenário. Vejamos: em termos gerais, os resultados divulgados na última edição, 2018, apontam que o país está praticamente estagnado em todas as áreas. Em leitura, apenas metade dos alunos atingiu ao menos o nível 2 de proficiência (a média da OCDE foi de 77%), o que quer dizer que os outros 50% não conseguem identificar a ideia principal de um texto de extensão moderada, encontrar informações solicitadas e refletir sobre o propósito do conteúdo e sua forma. Uma parcela ínfima (2%) conquistou o nível de proficiência 5 e 6 (média da OCDE: 9%). Os jovens que chegam aos estágios mais altos têm competência para ler com textos mais longos, lidar com conceitos abstratos ou contra intuitivos e estabelecer distinção entre fato e opinião.

Em 2018, a prova do Pisa foi aplicada em 79 países e economias e mobilizou em torno de 600 mil jovens. Eles responderam a perguntas de múltipla escolha e também a questões relacionadas ao ambiente da escola e à vida pessoal. Dessa parte do relatório, destacou-se novamente a dificuldade enfrentada pelos professores brasileiros para acalmar os alunos e iniciar efetivamente a aula; 41% dos alunos reportaram essa condição, e eles apresentaram um desempenho inferior (19 pontos a menos) em leitura em comparação com aqueles que não vivenciam esse tipo de situação. Em relação à média da OCDE, os brasileiros também estão sofrendo mais bullying: 29% disseram passar por isso algumas vezes no mês, contra 23% da média dos países desenvolvidos.

Em termos de ranking de desempenho, a primeira edição do programa, em 2000, revelou a Finlândia como a grande potência mundial em educação. Especialistas têm desenvolvido estudos sobre o desempenho dos países nórdicos e outros casos notáveis para compreender os elementos que possibilitaram esses resultados. Em 2018, por exemplo, chamou atenção a colocação da China em 1º lugar nas três categorias examinadas pelo PISA: leitura, matemática e ciências. No entanto, de maneira geral, os pesquisadores veem como ineficientes as tentativas de replicar práticas de países que obtêm bons desempenhos.

O Pisa 2018 revela que os estudantes brasileiros estão dois anos e meio abaixo dos países da OCDE em relação ao nível de escolarização de proficiência em leitura.  As escolas particulares e federais estão acima da média da OCDE, sendo a pontuação de 510 e 503, respectivamente, contra 487 pontos.

Divulgados no quarto trimestre de 2019, os resultados não são muito animadores para o Brasil: entre 58º e 60º lugar em leitura, entre 66º e 68º em ciências e entre 72º e 74º em matemática. A variação existe por conta margem de erro adotada pela pesquisa. A nota geral do Brasil está entre as mais baixas do mundo nas três áreas avaliadas, leitura, matemática e ciências. Quase metade dos estudantes não chega nem ao nível básico em nenhuma delas.

O quê deve ser feito para melhorar esse quadro caótico? Investimentos em educação: professores; escolas; tecnologias. E mais, instituir a leitura como disciplina obrigatória. Quem não sabe ler não consegue caminhar bem em nenhuma direção da vida.


LIÇÕES DE GRAMÁTICA

“Precisa-se” / “Precisam-se”

Incorreto: Precisam-se de estagiários.
Correto: 
Precisa-se de estagiários.
Por quê?
 Nesse caso, a partícula “se” tem a função de tornar o sujeito indeterminado. Quando isso ocorre, o verbo permanece no singular.

“Há dois anos” / “Há dois anos atrás”

Incorreto: Há dois anos atrás, iniciei meu mestrado.
Correto: 
Há duas formas corretas: “Há dois anos, iniciei meu mestrado” ou “Dois anos atrás, iniciei meu mestrado.”
Por quê? 
É redundante dizer “Há dois anos atrás”.

* Luísa Galvão Lessa Karlberg, IWA  É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro perene da International Writers end Artists Association – IWA; Pesquisadora do CNPq; Embaixadora Internacional da Embaixada da Poesia.

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