Nesse incrível mundo da mentira, um dos exemplos mais célebres inseridos nos anais da história das vãs filosofias, é a contradição de auto-referência atribuída ao filósofo e místico grego Epimênides (600 a.C). Diz o Cretense: “Todos os cretenses são mentirosos!” Então, se Epimênides estiver mentindo, a afirmação é verdadeira, já que Epimênides é cretense, porém deveria ser falsa, uma vez que está mentindo. Se Epimênides está dizendo a verdade, a afirmação é falsa.
O mentir ou a mentira postula, em filosofia, um conflito em normas éticas. A pergunta, à luz da ética, é: Mentir não é nem certo nem errado? Mentir é geralmente errado? Mentir às vezes é certo? Mentir sempre é errado? Mentir nunca é certo? Mentir às vezes é certo? Em sendo assim, vamos admitir a hipótese de que todos, neste mundo, sem exceção, sejamos uns grandes mentirosos. Uns porque optam por mentir em prol do bem e outros em prol do mal; assim teríamos uma nova versão à lá Nietzsche: A mentira além do bem e do mal.
No mundo, bolha impermeável, da política partidária, onde se salvam os eminentes estadistas, homens e mulheres de bem, pontifica uma perpétua mentira. A cada nova eleição, as mentiras e as falácias ditas para enganar voltam cada vez mais forte! É uma promiscuidade generalizada, regada a mentiras, entre políticos, partidos políticos e empresários corruptos. Essa prática espúria, nos faz distanciar, cada vez mais, daquela idéia clássica, oriunda do pensamento platônico, de que as noções políticas são permeadas por um elevado senso moral e que os padrões éticos representados na virtude da sabedoria, da coragem, da moderação e da justiça, que deveriam se fazer presentes na política, propriamente dita, e nas suas formas de governo; nos dias atuais, é uma verdadeira utopia, para não dizer de elevado conceito abstrato, isto é: impossível à luz da experiência humana, porquanto política e ética que deveriam andar lado a lado estão, hoje, trilhando caminhos ambíguos, não tem nada a ver uma com a outra.
Exemplo crasso, do que digo, acontece na CPI do /ou da COVID 19. Lá armaram um tablado, para não dizer um “circo”, em que, até que se prove ao contrário, a maioria dos depoentes, no dizer do relator sua Excelência Senador Renan Calheiros, são mentirosos. Aliás, o senhor relator, num caso específico de um depoente, disse que ele mentiu 15 vezes. Assim, não é leviano afirmar, que o Senador Renan é a própria encarnação da detecção de mentiras do Congresso Nacional. Isto é, ele tem a capacidade de perceber e revelar a existência do que está escondido.
Contudo, esse paradoxal mundo da mentira faz parte da democracia, e o bom da democracia é que todos, sem exceções, podem mentir. E, na política, mentir é um “bom negócio”. Entretanto, a mentira que “tem perna curta”, dizem às más línguas: ”tem cauda longa!”
“Esse paradoxal mundo da mentira faz parte da democracia, e o bom da democracia é que todos, sem exceções, podem mentir.”
Francisco Assis dos Santos*
HUMANISTA*. E-mail: [email protected]
“Esse paradoxal mundo da mentira faz parte da democracia, e o bom da democracia é que todos, sem exceções, podem mentir.”