Quando nos deparamos com uma nova informação sobre um assunto ao qual nos interessamos, nossa primeira reação é acreditar. No entanto, as ‘verdades’ ali contidas podem, por vezes, não condizer com a realidade e ainda causar danos a nós ou a pessoas queridas quando compartilhamos. Pensando nisso, precisamos sempre questionar as informações que nos chegam, para não cairmos nas armadilhas e sermos mais uma ferramenta para quem busca disseminar fake news.
As fake news, foram catalisada nos últimos anos, em especial a partir de 2016 com as eleições norte-americanas. Seu pico no Brasil deu-se com a pandemia da COVID-19, que ceifa milhares de vidas brasileiras diariamente. Mas afinal, o que são fake news? Como se apresentam? Como identificar, se proteger e proteger os outros?
O que são fake News? A explosão de fake news tem nos atingido utilizando como principal via as redes sociais. Por serem democráticas e de rápida disseminação esse meio tem fornecido um ambiente atrativo para manipulação popular.
O objetivo primeiro é manipular a opinião do receptor sobre determinado assunto. As fake news tem o poder de grande alcance nas redes sociais e possuem como foco manipular, através de informações falsas, rumores e teorias da conspiração e buscam causar dano intencional ou gerar lucroi.
Como se apresentam? As fake news se apresentam com uma vestimenta de informação, por vezes trazendo falsos especialistas e em muitos casos disseminadas por autoridades políticas, que usam de sua influência para fazer com que o receptor aceite facilmente.
No contexto brasileiro temos presenciado desde 2020 ao presente a utilização intensa das fake news, causando danos irreversíveis a população. Muita disseminação é acionada de forma iludida, na crença de estar contribuindo para um bem. Mas quando não se filtra, a credibilidade do que se está compartilhando, o resultado pode ser inverso, atribuindo força as fake News, podendo gerar inclusive desconfiança na ciência. E a ciência – a geração de conhecimentos confiáveis – é indispensável para a solução de pequenos e grandes problemas que afligem a humanidadeii.
Como podemos identificar se uma informação é verdadeira ou falsa? Antes de sair compartilhando é necessário checar se a fonte existe e se é consistente. Se está citando um especialista, pesquise se ele existe e quem é. Na maioria das vezes o especialista e o órgão vinculado as fakes news nem existe. Isso já mostra que não possui credibilidade, logo, não deve ser compartilhada.
Dado seu potencial destrutivo, é necessário ensinar a sociedade e nos educar a construir escudos de proteção contra as fakes news. Esses escudos ganham amplificação social e se catalisam quando inseridos no contexto escolar, dado seu alcance e papel social.
A escola deve estimular a criticidade, pois as pessoas não costumam questionar a credibilidade de uma informação a menos que se choquem com aquilo que acreditam (seus conceitos pré-estabelecidos). As pessoas preferem informações que confirmem suas crenças à aquelas que contrariamiii.
Aplicando antídotos contra as fake Newsiv. Cumprindo nosso papel cidadão ao nos deparar com uma fake news é importante mostrar que se trata de uma informação falsa. Isso deve ser feito de forma sutil, mas direta, como por exemplo dizer: não é verdade, ou não se deixe enganar! Nunca utilize linguagem dramática ou pejorativa. Mostre porque ela é falsa sem explicações complexas demais, pois tendemos a aceitar aquilo que é mais fácil de assimilar.
Apresente os mecanismos que foram utilizados para manipular e em seguida mostre a informação verdadeira. Se a explicação for complexa, gráficos ou vídeos bem concisos podem ser grandes aliados, pois fornecem pequena margem de manobra.
Não entre em contenda ou repita a fake news, isso fará com que ela ganhe força.. Na arte da guerra de Sun Tzu, o livro mais antigo, sábio e talvez mais importante de estratégia militarv, nos diz que o mais importante em uma guerra é a vitória e não a persistência, então não se prolongue com discussões que serão infrutíferas. O simples fato de gerar uma dúvida sobre a credibilidade da falsa informação irá diminuir seu potencial de disseminação e destruição.
Para não fortalecer as fakes news, podemos incentivar mecanismos de rastreamento. Buscar discrepâncias com aquilo que está sendo dito por especialistas reconhecidos, fortalecendo uma corrente de fontes confiáveis.
A alfabetização individual de mídias dever ser incorporada no currículo formal em nossas escolas. Para que crianças, adolescentes e adultos aprendam a aplicar antídotos contra as fake News, pois estas podem mascarar interesses obscuros quando buscam tirar a capacidade de criticidade e decisão livre do povo.
A educação é a arma mais eficiente para esclarecer, empoderar o povo e combater as desigualdades. Aliada a ciência e utilizada em benefício coletivo tem proporcionado aos diferentes povos, avanços importantes, como o exemplo da produção de vacinas contra a COVID-19 em tempo recorde, nos trazendo a esperança da retomada do novo normal. Aliás, esse é o único tratamento precoce comprovado até o presente pela ciência contra o coronavírus.
Ainda, não podemos esquecer que nossos políticos honradamente foram eleitos para nos representar, mas o cargo provisório não os torna cientistas ou especialistas em ciências.
Jair de Souza Costa
Diretor da Escola Estadual de Ensino Médio Dom Henrique Ruth, Cruzeiro do Sul – AC. Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Acre – UFAC. Pedagogo licenciado pela UFAC.
Dr. Irving Foster Brown
Pesquisador do Centro de Pesquisa em Clima Woodwell, Estados Unidos da América. Docente de Pós-Graduação e Pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre – UFAC.
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iBente, Kalsnes. Fake News. Department of Communication, Kristiania University College https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190228613.013.809 Published online: 26 September 2018.
iiPopper, Karl. Filosofia e Problemas/ Anthony O’Hear (Org); tradução de Luiz Paulo Rouanet . – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997. – (UNESP/Cambridge).
iiiLazer, D. M.J.; et. al. The science of fake News. 9 March 2018. vol 359 issue 6380. DOI: 10.1126/science.aao2998.
ivCook, J., Lewandowsky, S. (2011), The Debunking Handbook. St. Lucia, Australia: University of Queensland. November 5. ISBN 978-0-646-56812-6. [http://sks.to/debunk]; Lewandowsky, S.; et. al. The Debunking Handbook 2020. Available at https://sks.to/db2020. DOI: 10.17910/b7.1182
vDa Silva Bueno, André. A arte da guerra: os treze capítulos originais/ Sun Tzu; adaptação e tradução de André da Silva Bueno. – São Paulo: Jardim dos Livros, 2011.