O que levou Lázaro a aterrorizar uma região tão extensa, a obrigar os moradores a abandonarem suas casas e ajudar a encher o bolso de fazendeiros que queriam especular com o valor das terras. Para alguns, a explicação eram os traços de psicopatia que ele apresentava, embora não o conhecessem. Desde o início desta aventura sanguinária penso ser conveniente fingir que não existe uma estrutura financeira, movimentada pela ganância e pela lógica do lucro que bancou cada ato do vilão desta terrível história real.
Vidas humanas e segurança, como sempre, são vistas apenas como variáveis do mercado, que influenciaram o preço das mercadorias. A polícia, como parte de uma estrutura identificada com a manutenção do status quo, praticou uma autentica queima de arquivo. Foi mais prudente matar Lázaro do que capturá-lo vivo. Dispor de uma força desproporcional, capaz de cumprir o mandamento básico de matar somente quando for extremamente inevitável. Decidiram obedecer outro mandamento básico: seguir o dinheiro (“follow the money”), para esclarecer as circunstâncias de mais um crime.
A polícia, para variar, acabou protegendo quem tem dinheiro, e apagou quem não tinha nenhum. Existem muitos Lázaros em garimpos, terras indígenas, áreas rurais, assentamentos, comunidades e outros territórios em disputa. A violência, em todos esses casos, é o elemento legitimador desse aparelho repressivo, que está a serviço do dinheiro. Quem ganha são as incorporadoras, especuladores imobiliários, empreiteiras, grandes proprietários de terras. Quando a árvore esconder a floresta, é sempre bom seguir o dinheiro para compreender de fato como as coisas funcionam.
O Lázaro foi pego. Pronto! Devemos parabenizar a polícia goiana? Vendo as dezenas de fotos de seu corpo morto, inerte, que desocupados insistem em enviar durante o dia inteiro para minhas redes sociais. Não! Senti imensa tristeza em ver aquele ser abatido como um animal.
Cometeu crime bárbaro e estava aterrorizando toda uma região. Colheu o que plantou. Mas em todo esse tempo eu só pensava no desperdício que foi esse rapaz. Sozinho conseguiu despistar mais de 200 policiais. Tiveram que montar um serviço de inteligência com 270 agentes para prendê-lo. Um homem só, conseguiu mobilizar toda a polícia de dois estados.
Imagina se tivesse estudado, poderia estar trabalhando na polícia no serviço de investigação? Não sei o que fez desse jovem um monstro. Não conheço sua história. Não sei se foi problemas familiares ou se simplesmente era um psicopata. Mas existem muitos Lázaros por aí. Pessoas inteligentes, com potencial, dentro da cadeia, na rua mendigando ou tomando tiro da polícia. Comemorar? O que?
Beth Passos
Jornalista