Recebemos uma existência e temos dificuldades de nos apoderarmos dela. Nascemos tão inacabados e vulneráveis, que nossa sobrevivência depende que um outro a deseje e se responsabilize por ela. Por isso, passamos a vida lutando para sermos amados, pois registramos isso como uma necessidade para poder viver.
Primeiro, lutamos para ter o amor de nossos pais, depois, pelas figuras que participam da nossa criação: avós, tios, cuidadores, professores. E seguimos, conforme necessitamos. Na adolescência, seguimos com o mesmo desejo de ser aceito pelos amigos, o grupo, o time. Na fase adulta, a busca pelo reconhecimento do chefe, a busca por um companheiro (a) que nos ” complete”. E nessa busca de sermos aceitos e amados pelos outros, muitas vezes, esquecemos de perguntar a nós mesmos se amamos o que somos, se é isso o que queremos ser, se nossas escolhas correspondem ao que gostaríamos que composse nossa história. Desta forma, é importante que possamos permitir que nem todos nos amem. É necessário que aprendamos a lidar com a frustração de não ser o ideal dos outros e que estes possam falar mal, dar risadinhas, cochicharem nas nossas costas, olhar torto, rejeitar e até nos excluir de suas vidas, pois tentar agradar a todos é perder a referência daquilo que agrada a nós mesmos.
Assim, é muito importante que possamos ter a clareza de que nossa história, nossa biografia, nossa obra, não podem ser escritas pela ideia, ou ideal do outro. Caso contrário, essa existência terá sido perdida. Então, sair da infância, não é acumular anos de vida, mas é compreender que sua sobrevivência não está mais ligada a conquista do outro, mas sim, ao amor e admiração pelas escolhas próprias. E só quando bancamos e responsabilizamos por essas escolhas, independentemente de serem aceitas ou não pelo outro, é que podemos existir diante da vida.
Beth Passos
Jornalista