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O sentido da vida

                           

Há tanta gente que vive à procura do “sentido da vida” e nunca tem a exata resposta. Isso porque o sentido da vida constitui um questionamento filosófico acerca do propósito e significado da existência humana e do viver no mundo habitado por pessoas, todas diferentes umas das outras. E essa reflexão de hoje lembra a afirmação do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, em harmonia com a máxima do clássico indiano Bhagavad Gita (cap III, v.35), que diz assim:“Mais vale cumprir o próprio harma, ainda que de forma imperfeita, do que cumprir de maneira perfeita o dever de outrem”.

Eu sei que muita gente se martiriza por aquilo que não alcança na vida. E, por esse caminho de suplício, acredita que o ‘sentido da vida’ reside em ter casa luxuosa, namorado, dinheiro no banco e no bolso, casa de praia, carros novos na garagem, iate, casa na praia, no campo, muitos amigos, participar de festas etc. Mas eu acredito que o segredo da felicidade não está nos bens materiais ou nas pessoas. Está na alma de cada um de nós, naquilo que somos. É no encontro consigo mesmo que se dá essa comunhão. Não pertencemos a ninguém e também não somos donos de ninguém. As pessoas se dão, se amam, se respeitam, fazem trocas.

Por isso tudo não podemos agir como se a vida fosse um tribunal. O melhor que se faz é deixar de ser “juiz” de si e dos outros e passar a ouvir a voz do coração. Também sinto que o importante, na vida, é ter consciência que não somos seres perfeitos. Se assim olhamos, então por que procurar e exigir a perfeição no outro quando não a temos dentro de nós? Cada pessoa deve viver com aquilo que carrega dentro de si, com autenticidade, firmeza, compromisso, lealdade. Não adiante viver na mentira, enganar, fingir que ama, sair pelo mundo a demolir sentimentos, pessoas, famílias. Outro lado importante no ‘sentido da vida’ é a pessoa assumir os próprios sentimentos. Isso é ato de coragem, nunca de covardia.

Nunca se deve dizer SIM para agradar alguém. O SIM, deve vir do coração, dos sentimentos que se tem, da convicção daquilo que se deseja. Cada pessoa deve lutar por seus sonhos, embora eles pareçam distantes. Diz o escritor Richard Bach que “longe é um lugar que não existe”. Com determinação e coragem a gente viaja o mundo. E encontra os sonhos mais longínquos. Ainda, eu acredito que não se deve contar receios pessoais aos outros. Eles não estão dentro de nós, não conhecem nossa alma nem sempre nos guardam no coração com o carinho desejado. Logo sairão dizendo coisas não ditas, distorcendo as nossas emoções. E essas emoções são tão pessoais que somente a própria pessoa sabe o sentido e valor delas. Então é prudente confiar em critérios próprios.

Por tudo que aqui escrevo e ainda pelo que não digo, viver é uma experiência fantástica. Por isso não se deve permitir que alguém fira esse bem sagrado que é a nossa vida, o nosso coração, o nosso jeito de sentir o mundo e as pessoas. O mundo tem muitas coisas boas a oferecer para quem tem a ousadia de buscar e a sabedoria para ler aquilo que muitas vezes fica diante de nós apenas uma vez. Isso tudo conduz ao comportamento de agir sempre com verdade para ler a vida com os olhos do coração, um caminho, sem dúvida, chamado felicidade.

Quando falo dos “olhos do coração’, refiro-me ao Amor como base da vida. Pois eu sei que há pessoas que se anulam em nome de falsas verdades, falso amor, e acabam sozinhas, na escuridão. Há quem invista tudo nos outros e depois não tem uma mão para apertar, um corpo para abraçar, um coração a pulsar junto ao seu e um “Amor para chamar de meu”, como diz o Rei Roberto Carlos. E todas as pessoas precisam de carinho, afeto, diálogo, troca, cumplicidade, respeito, amizade. Entendo que o primeiro ‘sentido da vida’ é senti-la, o segundo, vivê-la e o terceiro: conseguir realizar continuamente os dois. Esse é o caminho feliz!

A vida guarda a sabedoria do equilíbrio que cada um deve ter diante do outro e da vida. Dizem ser a luta indispensável para realizar as metas da alma, ou seja, a felicidade não exige luta, requer amor e respeito a si. E essa felicidade é feita de pequenas pérolas que a pessoa cultiva a cada dia, a cada hora, a cada segundo, usando as armas que carrega no interior do coração

 

DICAS DE GRAMÁTICA

Uso de “TÃO POUCO” ou “TAMPOUCO”, professora?

– TÃO POUCO – é o mesmo que “muito pouco”, como no exemplo “Ganho tão pouco que não dá nem pro cafezinho”.

– TAMPOUCO é o mesmo que “também não”, como no exemplo “Não comi a salada tampouco a sobremesa”.

Uso de “TODO” ou “TODO O”, como é?

– TODO indica “qualquer”, como na frase “Todo homem gosta de futebol”; ou é o mesmo que “muito”, como no exemplo “Fiquei todo molhando andando na chuva”.

– TODO O significa “inteiro” ou “total”, e pode ser observado no exemplo “Todo o jantar foi servido e consumido”.

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Luísa Galvão Lessa  Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Presidente da Academia Acreana de Letras e Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro perene da IWA.

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