Bernardo Assis deu o que falar com seu Catatau, em Salve-se Quem Puder. O personagem, assim como ele, também é transexual e tem levantado pautas já bem conhecidas na vida pessoal. Antes de entrar na Globo, Bernardo chegou a morar na rua e precisou recorrer a ajuda de Ongs, como a Casa Nem, no Rio de Janeiro, que acolhe LGBTQIA+.
“Reconheço todo meu privilégio de ser um homem branco, mas vim do subúrbio, sai de casa e passei um tempo na rua. É uma luta diária a sobrevivência de uma pessoa trans. Por conta do meu trabalho, hoje consigo ser acolhido por amigos, por colegas. Estou morando em São Paulo. Temos algumas Ongs que ajudam muito a população trans. Fui acolhido pela Casa Nem. Fui acolhido lá diversas vezes”, declara.
Bernardo lamenta o preconceito até dentro da própria comunidade gay contra os homens trans. “Nós não somos acolhidos nem dentro da nossa comunidade. A ideia de ser homem é tão inalcançável, que nós precisamos toda hora reforçar um machismo para tentar alcançar. A gente tem que alcançar um ideal inacançavel. A única coisa que eu não quero fazer é reproduzir esse machismo. Nem por isso deixo de ser homem, perco a minha masculinidade”, relata.
O ator ressalta a importância da representatividade do seu papel na novela das 19h. “Quero ser reconhecido pelo meu trabalho, conquistar novas oportunidades. A gente precisa desconstruir a distinção de pessoas pelo gênero delas. É muito importante termos pessoas aliadas e falarmos sobre esse tema para a massa, como na novela. Que o público possa conhecer cada vez mais narrativas de pessoas trans e nossas vivências sejam mostradas também de maneira positiva. Há esperança de que um dia essa situação mude”, deseja.
Longe de viver em um mundo ideal, Bernardo foi duramente atacado quando protagonizou o primeiro beijo entre um homem trans e uma mulher cis na trama, ao viver um affair com Renatinha (Juliana Alves). “Tenho plena consciência de que é necessário e urgente passar por isso, para que outros artistas não passem por isso. As pessoas não estão preparadas para ver pessoas trans em destaque, sem ser em situação de violência. A gente tem várias notícias diárias de pessoas trans sendo agredidas e mortas e isso não causa mais comoção. Mas se colocam uma pessoa trans em destaque, falando do trabalho, na televisão, incomoda a sociedade. A gente quer falar das nossas carreiras, trabalho, estudo, talento. Queremos estar em todos os lugares, como pessoas normais na sociedade”, sonha.
Mesmo com tanto preconceito, Bernardo não perde a esperança. “Acho que já passei por tanta coisa, senti, vivenciei. A gente morre todos os dias, somos assassinados todos os dias pelo que a gente é. Eu acredito muito no diálogo, na informação. Acredito que a maioria não age nem por maldade. Hoje, me encontro muito no processo de me amar como eu sou. As pessoas dizem muito que a pessoa trans odeia o corpo que habita e a gente acaba acreditando nisso. Mas precisamos apenas passar pelo processo de se amar, de se ver como alguém interessante. Estou nessa fase de me amar, me conhecer melhor”, conta.