O presidente Jair Bolsonaro voltou a estimular nesta sexta-feira (28) que a população se arme, no momento em que ele mesmo promove uma crise institucional entre os Poderes.
“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado”, disse ele a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
“Eu sei que custa caro. Daí tem um idiota que diz ‘ah, tem que comprar feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”, declarou.
Bolsonaro tem feito declarações golpistas e sugerido que as eleições de 2022 podem não ocorrer, caso seja mantido o sistema de votação com as urnas eletrônicas.
Ele ainda convocou a população para atos pró-governo no feriado de Sete de Setembro, e disse no último dia 4 que pode usar “antídoto” fora das “quatro linhas da Constituição”.
Os principais alvos das críticas de Bolsonaro são os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
As Forças Armadas estão no centro da crise institucional entre os Poderes no governo Bolsonaro.
O presidente promoveu no último dia 10 um desfile de tanques em frente ao Palácio do Planalto horas antes de a Câmara rejeitar proposta de voto impresso, ato lido como tentativa de intimidar o Congresso.
Além disso, o ministro da Defesa, Braga Netto, defendeu a discussão sobre a mudança no sistema de votação, ampliando a crise.
O presidente Bolsonaro defende armar a população. Em 2019, ele sancionou lei que ampliou a permissão de posse de arma a toda extensão de uma propriedade rural.
As medidas de flexibilização no acesso às armas fizeram com que o Brasil atingisse, em dezembro de 2020, a marca de 2.077.126 armas legais particulares, 1 para cada 100 brasileiros, como mostrou a Folha.
Os dados fazem parte do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que compilou os números de registros de armas nos sistemas do Exército e da Polícia Federal.
A conta inclui armas legais registradas por cidadãos, por atiradores desportivos, caçadores e colecionadores e armas registradas em nome de empresas, além das armas de uso pessoal de policiais, bombeiros e militares. Não foram contabilizadas as armas que pertencem a instituições do poder público, que somam 359,8 mil.
Comparados aos de anos anteriores, os números apontam para uma escalada no acesso e na circulação de armas particulares no Brasil nos últimos anos.
No Sinarm, sistema de registro de armas da Polícia Federal, o número de armas registradas dobrou entre 2017 e 2020. Eram 638 mil registros de armas ativos em 2017, número que cresceu para pouco mais de 1 milhão em 2019 e atingiu a marca de 1,2 milhão em 2020.