Um caso de leishmaniose tegumentar foi identificado nesta quinta-feira, 19, no bairro Universitário, em Rio Branco. Apesar de o Acre registrar, anualmente, cerca de mil casos da doença – transmitida pela picada de insetos – sua detecção em zona urbana não é comum, o que acende o alerta para a Saúde estadual, quanto ao risco de disseminação da doença nos centros urbanos.
O paciente é um estudante de Direito, de 21 anos e, de acordo com informações da mãe, a servidora pública Maísa Furtado, a família não se deslocou até a zona rural, no entanto, acredita que o caso pode ter relação com a área de mata da Universidade Federal do Acre (Ufac), que é relativamente próxima à casa da família.
“Nós estamos na pandemia e tem dois anos, praticamente, que esse menino não sai de casa. Ele apareceu com umas manchas na perna e um linfonodo (caroço) abaixo da coxa, aí fiquei preocupada, achando que era só um abcesso, mas ele tomou remédio, antibióticos, e não sumiu. Começou a doer, ele a ‘puxar da perna'”, conta Maísa Furtado, mãe do paciente.
Maísa acrescenta ainda que o jovem chegou a ter recomendação para cirurgia de remoção do linfonodo, mas, após a negativa do cirurgião, ela continuou investigando e, ao perceber que as feridas no filho aumentaram, retornou à Unidade de Saúde e após um novo teste foi confirmado que se tratava de leishmaniose.
“Aí eu fui no pronto-atendimento e disseram que era um linfonodo, que tinha que ser removido com cirurgia, mas o cirurgião disse que não faria sem antes passar por uma biopsia, depois nos passaram para um infectologista para saber a causa e fui com o doutor Tião Viana, ele pediu vários exames (…) quando eu vi as feridas dele aumentarem e avermelharem, eu suspeitei que fosse leishmaniose, porque já haviam me falado de outros casos no Universitário, então eu procurei a Urap Hidalgo de Lima e lá, fizemos o teste e deu positivo”, relata. Após a confirmação das suspeitas, o estudante inicia agora um novo tratamento sob os cuidados do médico infectologista Tião Viana.
De acordo com a coordenadora estadual do Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar, Carmelinda Gonçalves, outro caso já foi registrado na área de floresta da Ufac.
“Na zona urbana, a gente não tem registros de casos, somente no peri-urbano, por exemplo, no Irineu Serra há um bom tempo. E um outro caso foi registrado no perímetro peri-urbano atrás da Ufac, mas a gente percebe sempre que é onde tem vegetação, seja ela primária ou secundária. É uma doença ocupacional rural. As pessoas se adentram na mata, e acabam pegando, mas na zona urbana mesmo, você não contrai leishmaniose”, destacou Carmelinda.
O Acre é uma região considerada endêmica para a leishmaniose e, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, de janeiro a julho de 2021 foram contabilizados 644 casos, na zona rural. Após notificado o caso no bairro Universitário, a Sesacre deve iniciar um inquérito epidemiológico.
Desequilíbrio ambiental
Especialistas consultados pela reportagem apontam que o caso pode ter relação com o aumento das queimadas no Estado, o que gera desequilíbrio no ecossistema como um todo. Desta forma, a detecção da leishmaniose tegumentar em zona urbana, representa um grande risco, pois pode significar a adaptação dos mosquitos hospedeiros ao ambiente urbano.
Durante o verão amazônico a prática das queimadas ainda é frequente no Acre. Dados do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma) apontam que 234 focos ativos de incêndio foram registrados no Estado, de janeiro até 18 de julho deste ano. Houve um aumento de 6% dos casos com relação ao ano passado, pois o registro foi de 220 casos, de janeiro até 19 de julho de 2020.
Em 2008, o Estado teve um forte aumento nos casos da leishmaniose tegumentar com a contribuição das queimadas na região de Xapuri, situação que pode ocorrer novamente no Estado, caso não sejam adotadas medidas preventivas. Portanto, é necessário que a população fique atenta a qualquer sintoma e procurar a Unidade de Saúde mais próxima, em caso de suspeitas da doença.
Sintomas
A doença é caracterizada por lesões na pele e/ou mucosas, que podem ser únicas ou não, espalhadas pelo corpo ou ainda em um único local. São como úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso, geralmente indolor. As lesões mucosas são mais frequentes no nariz, boca e garganta. Quando atingem o nariz, podem causar entupimentos, sangramentos, coriza, aparecimento de crostas e feridas.
A pessoa que contrai a doença pode sentir ainda dor ao engolir, rouquidão e tosse.
Diagnóstico
O diagnóstico da Leishmaniose Tegumentar (LT) é feito por métodos parasitológicos. Essa confirmação laboratorial é fundamental, tendo em vista o número de doenças que fazem diagnóstico diferencial com a LT – como, por exemplo, sífilis, hanseníase e tuberculose.
A utilização de métodos de diagnóstico laboratorial é importante não apenas para a confirmação dos achados clínicos, mas também pode fornecer informações epidemiológicas – por meio da identificação da espécie circulante -, fundamentais para o direcionamento das medidas a serem adotadas para o controle do agravo.
Como a Leishmaniose Tegumentar (LT) é transmitida?
Os vetores da Leishmaniose Tegumentar (LT) são insetos conhecidos popularmente, dependendo da localização geográfica, como mosquito palha, tatuquira, birigui, entre outros. A transmissão da Leishmaniose Tegumentar (LT) ocorre pela picada de fêmeas infectadas desses insetos. São numerosos os registros de infecção em animais domésticos. Entretanto, não há evidências científicas que comprovem o papel desses animais como reservatórios das espécies de leishmanias, sendo considerados hospedeiros acidentais da doença. No homem, o período de incubação, tempo que os sintomas começam a aparecer desde a infecção, é de, em média, 2 a 3 meses, podendo apresentar períodos mais curtos, de 2 semanas, e mais longos, de 2 anos.
Hospedeiros
A interação reservatório-parasito é considerada um sistema complexo, na medida em que é multifatorial, imprevisível e dinâmica, formando uma unidade biológica que pode estar em constante mudança, em função das alterações do meio ambiente. São considerados reservatórios da LT as espécies de animais que garantam a circulação de leishmanias na natureza, dentro de um recorte de tempo e espaço.
Infecções por leishmanias que causam a LT foram descritas em várias espécies de animais silvestres, sinantrópicos e domésticos (canídeos, felídeos e equídeos). Com relação a esse último, seu papel na manutenção do parasito no meio ambiente ainda não foi definitivamente esclarecido.
Fonte: Ministério da Saúde
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