Vereadora de Rio Branco, em primeiro mandato, eleita com a maior quantidade de votos à Câmara de Rio Branco, nas últimas eleições, a médica Michelle Melo, do PDT, é uma das duas mulheres que ocupam uma das dezessete cadeiras daquela Casa legislativa. Desde o começo da legislatura, tem levantado pautas importantes e mexido em verdadeiras “casas de caba” da administração municipal, se consolidando, então, uma das opositoras mais ferrenhas do prefeito Tião Bocalom, no parlamento.
Depois de relatar, ainda nas sessões remotas, as denúncias de assédio sexual contra o secretário municipal de Saúde, Frank Lima, a vereadora protocolou, nesta semana, na Câmara, o requerimento para abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo, com o apoio da maioria dos vereadores. A promessa é abrir a “caixa preta” do sistema para dar respostas à população “e não apenas fazer mídia”, segundo enfatizou ela.
Sobre política e eleições, Michelle Melo, ao ser indagada, não esconde pretensões ambiciosas. Em 2002, ela não descarta concorrer novamente como candidata, inclusive ao Senado, e revela ao site A Gazeta do Acre a aspiração de ser prefeita da Capital. “Se a gente tivesse na prefeitura, a gente poderia estar fazendo acontecer. Então, essa sementinha está nascendo e vamos ver o que Deus tem preparado para nós.”, disse, com entusiasmo.
A seguir a entrevista completa:
O que motivou a proposição da abertura da CPI do Transporte Coletivo?
Escutar, até como cidadã, grandes promessas de campanha de que o transporte público de Rio Branco realmente melhoraria e ver que, em oito meses, a Prefeitura de Rio Branco não deu nenhum passo para realmente melhorar a qualidade do transporte…E ter recebido inúmeras denúncias de que há sim indícios de que as coisas não estão sendo feita dentro da legalidade, dentro da forma correta, prejudicando tantos os trabalhadores, quanto os usuários.
A senhora concorda, então, que existe uma “caixa preta” no sistema de transporte público de Rio Branco?
Pelas denúncias que recebemos, pelas conversas que nós fizemos, há sim indícios de que há muita coisa nos bastidores, muita coisa que não há luz sobre elas, o que está atrapalhando o transporte público de Rio Branco.
Essa proposta do prefeito Tião Bocalom de reduzir o preço da passagem de ônibus e subsidiar as empresas de ônibus, resolve o problema, na sua opinião ?
Eu não acredito que resolva, e é uma das teclas em que estamos batendo, porque esse projeto ainda não chegou na Câmara e há meses estamos debatendo, é que esse dinheiro que vai para as empresas deveria ser também garantia dos pagamentos dos salários atrasados dos trabalhadores. Até agora, ninguém demonstrou como esse dinheiro vai chegar até os trabalhadores realmente. Então, eu não acredito que solucione absolutamente nada.
Seja como presidente, ou como relatora da CPI, quando for instalada, a senhora vai mesmo a fundo nessa questão?
Sim, sim. Conversei com a bancada do PDT, dialogamos a respeito disso, e nos comprometemos, independente de Michelle estar na presidência ou na relatoria, que eles também iriam a fundo, então, nós iremos a fundo nesse assunto.
A população, então, pode esperar resultado? Não é só uma CPI de mídia?
Não tinha como a gente abrir uma CPI de mídia. Quando falei em CPI, recebi várias ligações de pessoas alegando que eu não deveria abrir CPI, pelo fato de inúmeras acharem ser perigoso, mas essa CPI vem para gente fazer o tem que ser feito, exatamente entregar à população o que ela precisa. Essa política de mídia e de promessas tem que acabar. A gente tem que agir.
A senhora tem mexido em várias “casas de caba”, digamos assim, nessa gestão. Uma delas são as denúncias de assédio sexual contra o secretário municipal de saúde, Frank Lima. Como a senhora está vendo o desenrolar dessa situação?
Essas denúncias chegaram até mim, até a mídia e eu venho acompanhando como médica, como vereadora essas vítimas, testemunhas e deixei bem claro meu posicionamento de que a Justiça fizesse seu trabalho. Então, o Ministério Público recebeu a denúncia, foi aberto uma processo administrativo para apurar, e eu estou acompanhando.
Como a senhora vê o fato de o prefeito Tião Bocalom ter demitido a corregedora que estava à frente das investigações no âmbito da administração?
Na minha opinião, a tentativa é de finalizar o processo administrativo para que ele não conclua sua finalidade, que é mostrar a verdade. Então, eu acredito que o que ele fez, até pelo que eu escutei do próprio prefeito Tião Bocalom, na rádio, ele exonerou a dra. Janice porque, porque o PAD [Processo Administrativo Disciplinar] não poderia ser instaurado contra o secretário Frank Lima. Até onde eu conheço e até onde minha assessoria jurídica me demonstra, é inaceitável pensar que o Frank Lima é uma pessoa que não pode ser tocada e que pode fazer o que quer e o que bem entende. Uma vez que ele está na administração pública, ele está na hierarquia, no organograma da administração pública, e ele deve sim se submeter a todas regras e normas da administração pública. Então, eu achei um verdadeiro absurdo o prefeito vir a público falar que a exoneração da dra. Janice aconteceu porque ela não foi profissional, e ela tem sido sim bastante profissional, instalando uma comissão independente, que eu espero que continue independente, porque, não duvide, acredito que tentarão mudar os atores da comissão para que essa comissão não sirva, de fato, à verdade. O que eles querem enquanto gestão é dizer para todos que o Frank Lima não fez nada.
Inclusive o prefeito declarou que o secretário está passando por essa situação porque está coibindo fraudes e corrupção na Secretaria Municipal de Saúde. O que a senhora diria a esse respeito?
Eu, inclusive, fiz um requerimento na Câmara pedindo o documento do Tribunal de Contas que o Frank Lima alega ter recebido para, então, pensar que haveria corrupção dentro da Secretaria. Ele tem 30 dias, já se passaram 15 dias do prazo para entrega e, até agora, não vimos a cor desse documento. Eu acredito que são desculpas de uma sociedade que tende a defender esses atos e não respeita, de fato, os direitos e a igualdade das mulheres.
Até por ser uma profissional da área, a senhora também tem atuado nas questões da saúde, falado sobre a precarização do atendimento à população e cobrado melhorias, tendo apresentado um Projeto de Lei para agendamento de consultas, que já foi até sancionado. E agora, a lei está sendo cumprida?
O projeto foi sancionado e virou lei. Temos um período de 120 dias de prazo, desde que a lei foi criada, até a execução dessa lei. Faltam 30 dias para o prefeito Tião Bocalom cumprir o que está escrito na lei, que é garantir o agendamento de todos os serviços que são prestados no posto através de telefone ou aplicativo. Hoje, continua como estava, extremamente precário. Você tem que ir para a fila da madrugada para conseguir uma consulta e, dificilmente, você consegue. Todos os dias, eu recebo denúncias da falta de humanização, da arrogância de alguns gestores e hoje recebi denúncia de que faltam os insumos para realização dos exames em várias unidades, ou seja, vários exames da atenção básica não estão sendo realizados.
A senhora tem feito um mandato atuante. Pretende concluir os quatro anos ou Michelle Melo é um projeto para alçar novo voo já no ano que vem?
Nós começamos com a ideia de entrar na política e foi com esse intuito de mostrar uma política mais atuante, uma política verdadeira e correta com a população. Foi para isso que entramos na política e, graças a Deus, tem dado certo, tem sido um mandato relevante, que a população tem acreditado, tem conversado, inclusive, comigo como política, como mandatária e tem até solicitado que a gente alce novos voos em 2022. Eu estou à disposição da política acreana, para fazer o bem para a população acreana, e se, de fato, o projeto é a gente alçar novos voos em 2022, para fazer mais pelo povo daqui, a gente está aqui com a coragem e a vontade de fazer dar certo.
No PDT, seu partido, Michelle Melo vai para a chapa de estadual ou federal?
O PDT ainda não se posicionou sobre isso. Saiu uma matéria de que meu nome estava sendo contado para majoritário, ao Senado, e eu estou esperando o presidente estadual do partido, o deputado Luiz Tchê, chegar porque ele não estava presente nas conversas, aí eu vou descobrir essa curiosidade.
A senhora prefere mesmo mandatos no parlamento, ou o Executivo seria uma aspiração?
Com certeza. Quando a gente está brigando para que as coisas aconteçam, de forma propositiva, não fazemos críticas superficiais, mas sempre trazemos embasamento e também apresentamos solução. Eu sempre apresento uma solução. Eu gostaria que nós tivéssemos uma prefeitura que visse isso: os problema que nós apontamos e as soluções que nós apontamos. Mas, como não vê, você fica naquele espírito, naquela garra de dizer: talvez, se a gente tivesse na prefeitura, a gente poderia estar fazendo acontecer. Então, essa sementinha tá nascendo e vamos ver o que Deus tem preparado para nós.