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‘Eu preciso estar perto de quem faz sentido estar perto’, diz Eliane Sinhasique, em despedida do Acre

Sinhasique cresceu no Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto e, atualmente, é secretária de Empreendedorismo e Turismo do Acre (Foto: A Gazeta do Acre)

“Aquela pequena era arrochada, fazia mesmo, tocava o terror na terra e dava conta de tudo o que ela se comprometia.” É assim, com o bom humor e a garra que lhe são característicos, que Eliane Sinhasique diz como quer ser lembrada pelos acreanos. De malas prontas, com destino ao Ceará, após um pedido inusitado de demissão da Secretaria de Estado de Empreendedorismo e Turismo (SEET), Eliane é a convidada da semana para estrelar a série #GentedoAcre.

Que Eliane Sinhasique é uma mulher de opiniões fortes, ideias e projetos, muita gente já deve saber. Afinal, ela esteve com a “boca no microfone”, por muitos anos, à frente dos principais veículos de Comunicação do Estado. Mais do que isso, como cidadã e, depois, política, nunca deixou de se posicionar sobre os temas relevantes para o desenvolvimento da sociedade acreana.

O que, talvez, alguns não saibam é que a hoje jornalista, radialista, escritora, empreendedora, política (entre tantas outras versões de Eliane Sinhasique) nasceu em Guaíra, no Paraná, e chegou ao Acre quando tinha sete anos. Aqui, cresceu no Projeto de Assentamento Dirigido Pedro Peixoto (PAD Peixoto), em Plácido de Castro, e chegou a lugares os quais muita gente seria incapaz de imaginar.

Filha de agricultores, saiu da comunidade rural onde vivia, ainda na adolescência, em busca de novas oportunidades na Capital, Rio Branco, onde fez o supletivo para concluir o primeiro e o segundo grau. Entrou na universidade aos 24 anos, foi mãe solteira, largou o curso… Trabalhou mais… Casou, teve o segundo filho, divorciou. Voltou para a universidade aos 32 anos e, a partir daí, como ela mesmo gosta de dizer, ninguém mais a segurou! Construiu uma bonita e inspiradora trajetória de muitos desafios, trabalho, derrotas e, claro, inúmeras vitórias.

Com 51 anos, mãe de dois filhos, “herdeira de Deus”, como ela se auto define, Sinhasique segue escrevendo, dia após dia, a própria história. E se prepara para, em breve, iniciar mais um capítulo completamente diferente (Foto: Arquivo pessoal)

Eloquente, determinada, sem perder de vista seus sonhos, a impressão que dá é que ela se desdobra, diariamente, em mil, o que faz com que as pessoas se perguntem de onde vem tanta motivação e energia. “Do amor e dos desafios”, ela responde.

“Quando alguém diz que não dá pra fazer, eu digo ‘dá’! E me auto-desafio a fazer. Dinheiro não me motiva, mas amor e vontade de fazer transformação na vida das pessoas, na minha vida, no ambiente que estou, é o que me motiva a ser ligada no 220”, afirma.

Nesta entrevista, ela fala sobre os motivos pessoais que levaram à decisão de sair do governo e a ir embora do Acre; as conquistas à frente da SEET; os aprendizados e decepções com a política e os planos para o futuro. Confira os principais trechos e o vídeo completo:

Política

“Sou a mulher mais votada em Rio Branco, de 2012 para cá”, destaca Sinhasique (Foto: Arquivo pessoal)

Eliane Sinhasique concorreu a um cargo eletivo, pela primeira vez, em 1998, como candidata a deputada estadual pelo extinto PFL (Partido da Frente Liberal, atual DEM) e obteve 321 votos, não sendo eleita. Quartoze anos depois, em 2012, já no MDB (antigo PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro), candidatou-se a vereadora e foi eleita com 2.827 votos, a mais votada naquela eleição.

Dois anos depois, em 2014, candidatou-se novamente a deputada estadual e venceu as eleições com mais de quatro mil votos. Em 2016, disputou a Prefeitura de Rio Branco e, em 2018, tentou a reeleição para a Assembleia Legislativa do Acre. “Sou a mulher mais votada em Rio Branco, de 2012 para cá”, destaca ela, que, este ano, filiou-se ao Podemos.

Eliane sai da política acreana em um de seus melhores momentos, apesar dos desafios do cenário atual. Foi com “incredulidade”, diz ela, que o governador Gladson Cameli recebeu o seu anúncio de desligamento da  equipe, no entanto, Gladson apoiou a atual secretária e disse que só vai exonerá-la no momento que ela quiser.

“Eu disse ‘olha, quero falar contigo, porque eu vou sair do governo’, e ele disse ‘vai não!’, e eu disse ‘não só do governo, mas do Acre’ (risos). Expliquei os meus motivos e ficou combinado que eu sairia na hora que eu quisesse, e que a exoneração só sairia, no dia que eu, de fato, oficializasse o meu pedido, até para que eu tivesse tempo de organizar a secretaria e outras coisas (…), ele recebeu a minha informação com incredulidade, mas a decisão já estava tomada”, conta Sinhasique.

Sinhasique diz que Gladson Cameli reagiu com incredulidade ao receber a notícia de sua saída do governo (Foto: Arquivo)

Com os olhos marejados, Eliane explica o motivo de sua saída. A irmã foi diagnosticada, há alguns anos, com uma doença nervosa degenerativa, a Charcot-Marie-Tooth, enfermidade que gera fraqueza muscular, diminuição da massa muscular, diminuição da sensibilidade, dedos em martelo e arcos elevados. Agora, Eliane sente que é o momento certo para dar uma pausa e estar mais perto da família.

“Hoje, no Acre, só estamos eu, meu filho e um outro irmão, e eu tenho me sentido muito sozinha, porque já perdi meus pais, e as pessoas que realmente importam pra mim estão muito longe daqui. Não foi uma decisão fácil, foi muito amadurecida e muito pensada, porque, querendo ou não, tudo o que eu sou, tudo o que eu construí foi no Estado do Acre (…), mas eu preciso estar perto de quem faz sentido estar perto”.

Da política, Eliane diz que tira inúmeros ensinamentos, mas, o maior deles é que a politica é instrumento fundamental para a transformação da sociedade, principalmente por ser capaz de salvar vidas.

“A política abre portas e faz com que a gente possa fazer a transformação, salvar vidas, inclusive. Às vezes [com] uma ligação de um deputado para o diretor de um hospital, a gente evita que uma criança morra na barriga da mãe, e isso me toca muito, porque aconteceu comigo algumas vezes. Nisso você pensa ‘o mandato foi muito importante porque eu consegui salvar vidas’ (…) [O aprendizado] conhecer os seres humanos. Na gestão pública, eu estou uma mestre, estou literalmente uma mestre na gestão pública, aprendi como funciona, as burocracias, de que forma a gente pode executar as políticas públicas (…), então eu levo na bagagem muito aprendizado”.

Decepções na política? “Muitas!”, reconhece ela. Perseguições, maus tratos, machismo, desconsideração. “Mas eu prefiro ficar com as coisa boas, porque se a gente carregar decepção, a gente acaba cultivando mágoas, rancor, sentimentos negativos. Então, perdoo quem eu tinha que perdoar, relevo o que tinha que relevar. A minha bagagem tem que ser leve e de conhecimento”, ensina.

Legado na Secretaria de Empreendedorismo e Turismo

Sinhasique destaca também que, mesmo com baixo orçamento e pessoal, ela e sua equipe conseguiram desenvolver inúmeras atividades, especialmente na promoção do turismo local. Prestes a entregar o comando da Seet, ela deixa vários projetos encaminhados, como o Projeto Piloto Acre Estado da Biojóia, que visa fortalecer o trabalho do artesanato local.

“Eu me sinto realizada diante daquilo que eu tinha a minha disposição. Nós realmente conseguimos dar uma amplitude muito boa, espero que o próximo secretário ou secretária dê continuidade ao trabalho que a gente fez junto às comunidades. Vamos deixar assinada ordem de serviço para a primeira etapa da Discovery Acreana, deixar assinado o Plano de Turismo Indígena, contratado o site e o aplicativo do Acre, que são dois veículos importantíssimos para divulgação do Estado”, relata, entre muitas outras conquistas à frente da Secretaria.

Projetos futuros

Faltando pouco tempo para iniciar uma nova fase de sua vida, agora no aconchego familiar, o que as pessoas mais querem saber é o que Eliane Sinhasique fará da vida, agora que se afastará da política.

Ela respondeu a nossa equipe. Quer saber qual será a primeira coisa que Eliane fará ao se afastar do governo e deixar seu estado do coração? Descubra no vídeo abaixo, com a íntegra da entrevista.

“Fala, pequena!”

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Agnes Cavalcante: