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Um show de força, resistência e empoderamento em busca de novos palcos

“Pretas: da escravidão à resistência” teve uma única apresentação em setembro, na Usina de Arte João Donato (Foto: Deyse Cruz Noronha)

Uma ideia de 2018 que só pode ser concretizada há poucos dias, em apresentação única, agora, busca por novos palcos para compartilhar as verdades de mulheres negras ou melhor, mulheres pretas. O show cênico musical “Pretas: da escravidão à resistência”, da acreana Narjara Saab, teve estreia em 4 de setembro e a expectativa é de poder levar o projeto para mais pessoas.

Com quatro mulheres em cena, o show utiliza a música e a encenação para abordar questões de machismo, gordofobia, objetificação e violência contra a mulher com recorte para a incidência no cotidiano de mulheres  pretas. Além de fazer um resgate histórico do Brasil com relação as mulheres, o roteiro foi escrito a partir de situações vividas pelo próprio elenco.

Narjara explica que a ideia surgiu de um incômodo sobre a forma como as dores das mulheres pretas são abordadas no nosso país. Após ouvir os relatos das colegas de cena ela foi costurando as histórias com as músicas. “Pretas é profundo justamente por ser desprovido de grandes recursos cênicos. Nele o que importa é a mensagem que ser quer transmitir. É um show onde a grande estrela é a Verdade”, comenta.

“A repercussão da estreia foi incrível”, comemora Narjara. (Foto: Deyse Cruz Noronha )

Junto com Narjara, estão em cena as artistas Maya Dourado, Kétila Flor e Mara Mattero. Para realizar o show, a equipe conta ainda com seis músicos que executam as trilhas ao vivo, além de iluminador, produção e apoio técnico. O que faz com que o trabalho demande um custo específico, que só foi possível com o projeto aprovado no Edital de Arte do Fundo Municipal de Cultura. Entretanto, o grupo só conseguiu realizar uma apresentação.

“A repercussão da estreia foi incrível. Pessoas se reconhecendo nas falas, muita comoção e emoção. Todos queriam saber quando haveria novamente uma apresentação e essa é com certeza a maior expectativa do elenco.  Levar o Pretas a mais pessoas”, comemora Narjara.

A atriz Kétila Flor acredita que o trabalho também deve chegar ao público das escolas. “Fui uma criança negra que teve diversos atravessamentos por questões raciais no percurso escolar e sei que o Pretas é, como digo durante o show, uma fagulha de esperança para meninas e mulheres negras que estão nesse espaço. Por isso desejo vida longa a esse espetáculo, e que ele possa acender uma chama de vida que seja nas pessoas negras que o assistirem”, declara.

Para além de quem o público vê em cena, “Pretas” contou com a produção de Carol di Deus e a direção cênica de Sandra Buh. Profissional da arte há mais de 35 anos, Sandra afirma que o trabalho dialoga com tudo o que lhe move na arte.

“Vivemos em um país em que o preconceito, a intolerância e a discriminação são reais, sendo necessário abordar diariamente o assunto para que as pessoas possam compreender a importância de se combater tais atos. Narjara Saab ao escrever o texto, selecionar as músicas, aborda de maneira poética realidades cruéis que as mulheres pretas vivem diariamente, mas sem romantizar ou atacar pessoas”, afirma a diretora.

Este foi , aliás, um dos desafios da idealizadora do projeto, pois todas as temáticas tratadas em cena são fortes, mas também fazem parte da cultura patriarcal que construiu a estrutura social do nosso país.

“Não é fácil encampar essas temáticas  pois pode gerar tanto o entendimento quanto a resistência.  No entanto o que percebemos foi que a mensagem do Pretas chegou limpa e clara para a plateia . Brancos, pretos e todes que estavam lá foram unânimes em dizer do impacto que foi deparar-se com essas temáticas e reconhecer-se ou vítima ou agente opressor”, afirma Narjara.

“Uma fagulha de esperança para meninas e mulheres negras que estão nesse espaço”, comenta Kétila Flor. (Foto: Deyse Cruz Noronha)

“Pretas: da escravidão à resistência” está em busca de novos palcos e oportunidades de apresentação.

Ficha técnica:

Elenco:  Narjara Saab, Mara Mattero, Maya e Kétila Flor/ Direção musical e sonorização: James Fernandes/ Músicos: James Fernandes, Denilson Carneiro, José Luíz, João Gabriel, Marcone Potta e Maurício/ Iluminação: Ivan de Castela/ Direção cênica: Sandra Buh/ Produção: Carol di Deus/ Costureira: Nazaré/ Apoio técnico: Camila Simão

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Daniel Scarcello: