“Só posso dizer isso pra ti”. É frase que se repete aos montes nos áudios que troco com Yantita, minha amiga de quem já falei algumas vezes nesse espaço. Esses dias, cheguei ao limite de lhe contar um sonho longuíssimo e cheio de detalhes, que só são úteis em um processo de análise, e além de escutá-lo, ela ainda o comentou. Comentou porque tem informações, paciência e interesse o suficiente para me ouvir. Se isso não é prova de amizade, não sei o que é não.
Rimos horrores, quando, noutra conversa, mandei pra ela a versão de Sufoco da trilha sonora de Manhãs de Setembro (Amazon Prime Video) e tive a cara de pau de lhe confessar que amo essa versão porque ao final da música alguém solta um “viva Roberta”. Yanita, não tenho dúvidas, está disposta a “suportar os meus absurdos”. Os dela? Pode mandar, claro. Têm cama forrada e toalha felpuda na minha casa interna. Há coisas que só dizemos aos nossos. E há coisas que só conseguimos escutar – nos comover, entender, repensar -, de verdade, nesse tipo de interlocução entregue.
Tenho ouvido com gosto uma interlocução de amigas no podcast Taradas por Letras de Letrux e Leilah Accioly. Embora não as conheça, aproveito o quentinho no coração que a amizade, mesmo a dos outros, nos entrega. A ideia do podcast é bem boa. A cada episódio, elas escolhem uma música e analisam, um por um, os versinhos dela. No meio das análises, entram histórias das duas, experiências da adolescência, o filtro com que cada uma vê o mundo. Tão bonito, minha gente, tão entregue.
Num dos primeiros programas, Letrux trouxe uma música dos Paralamas do Sucesso que eu tinha gravada numa fita K7, ainda nos anos de Garanhuns. Nunca prestei a atenção que a letra merecia. Foi uma surpresa entender o porquê da gravação na minha fitinha. A posteriori (viva Lacan e viva a Roberta de 12 anos também, por que não?).
Em outro, falaram de Perfeição da Legião Urbana, mais uma frequente nos ouvidos de uma Roberta, agora já com uns 15, agora já em um CD. E era lindo esse encarte. Foi um comentário rápido, não era a música principal do episódio, mas foi o suficiente para me comover. Uma revisita de sensação, ao mesmo tempo conhecida e novidadeira. Uma revisita que me encontrou com pressa, desejo de verdade e de liberdade. Boa semana, queridos. Escutem essas meninas, se cerquem de belezura, de poesia, de música e de amigos. Mesmo que a esperança esteja dispersa.
Roberta D´Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu e escreve semanalmente para A Gazeta do Acre e outros 17 veículos no Brasil, Estados Unidos e Canadá.