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Sucessão

No próximo dia 17, a HBO lança a terceira temporada de Succession. Ganhadora do Emmy de melhor série dramática de 2020, Succession acompanha o dia a dia do conglomerado de mídia da família Roy. E como toda boa narrativa, para além da trama central da sucessão nos negócios, estamos também diante de um tanto de outras camadas da história de cada um dos personagens e, claro, da relação  entre eles.

Voltei a assisti-la para chegar ao dia 17 com tudo fresco na memória. E, no paralelo, estou acompanhando Scenes from a marriage, da mesma HBO. Saio de ambas sempre cheia de desconforto. A segunda é uma refilmagem/homenagem do clássico de Ingmar Bergman de 1973. São gêneros diferentes, climas diferentes, mas o que está posto nas duas histórias é a relação. A terceira coisa que se constrói a partir de um vínculo. Entre Jonathan e Mira, casal de Scenes from a marriage mais do que o encontro, o desencontro. Esse desencontro tem forma, cheiro, peso, voz, ocupa um espaço danado. Entre Kendall e Logan, pai e filho de Succession, a projeção, o recalque, a formação reativa e quase toda a coleção dos mecanismos de defesa descritos pela psicanálise. É a isso que assistimos. Jonathan, Mira, Kendall e Logan são só veículos que nos ajudam a ver de fora o que há dentro de nós.

O desconforto vem a partir do reconhecimento. O estranho familiar de que nos fala Freud. No primeiro episódio de Scenes from a marriage, diante de uma pesquisa, Jonathan responde sobre o sucesso de seu casamento com uma outra pergunta: “Qual sua definição para o termo sucesso?”. Está lançada a dica. Não há sucesso absoluto como nós o enxergamos nas gramas vizinhas. Nos posts do instagram alheios, nos vínculos alheios. Sucesso é viver o emaranhado da vida, que o encontro e também o desencontro nos propõem.

Li esses dias, pesquisando sobre a série, que a ideia da refilmagem é de Daniel Bergman, filho de Ingmar. E embora eu mesma tenha usado a palavra homenagem, o refazer o que foi feito pelo pai é, em si, atualização do outro. “Faço atual” pode ser uma tentativa de “faço melhor”, não? Ou está mais para “faço o mesmo novamente”? Kendall repete à exaustão, se dirigindo ao pai, “estou do lado do novo”; “estou do lado do novo” ou “sou você de novo”?  A repetição, não é? Não bastasse a nossa a dos nossos. Assistam. Há desconfortos que valem a pena. Boa semana queridos.

Roberta D´Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu e escreve semanalmente para A Gazeta do Acre e outros 17 veículos no Brasil, Estados Unidos e Canadá.

 

 

 

 

 

 

paula: