X

“Só os fortes sobrevivem no Acre”. Edvaldo Souza recorda início da carreira e diz não ter saudades da política

Edvaldo Souza

Aos 62 anos, Edvaldo se descreve como uma “pessoa normal” e um brincalhão dentro de casa. Casado há 41 anos, é pai de dois filhos e avô de um neto

Ao ligar a TV Gazeta, no horário no almoço, não é preciso nem ver as imagens… Basta ouvir o vozeirão marcante e inconfundível para saber que é o Edvaldo Souza, apresentando o Gazeta Alerta, programa que ele comanda há quase 20 anos, no Acre. Nascido em Rio Branco, Edvaldo se formou em tecnólogo de Agricultura, Engenharia Agronômica e em Direito, passou pela política como deputado estadual, mas é no jornalismo que ele permanece até hoje, e é esta a profissão que ele declara amar. “Faço televisão porque gosto de fazer e ainda ganho por isso!”, brinca.

Como toda figura pública, Edvaldo Souza coleciona admiradores, fãs de verdade, principalmente entre crianças e idosos, alguns opositores também (faz parte) e gera curiosidade pela imagem que apresenta ao público: a daquele homem incisivo, que “fala na cara”, aparentemente bravo e até irritado, muitas vezes, indignado com as situações que noticia. Mas, quem é Edvaldo Souza por trás das câmeras? Uma “pessoa normal” e um “brincalhão” dentro de casa, descreve-se ele. Alguém que gosta de ler, assistir filme, tomar uma cervejinha e que ama a família, que ele faz questão de proteger da exposição e sobre a qual ele faz questão de destacar: está casado há 41 anos e possui dois filhos, um médico e um advogado, e um neto.

O início de sua trajetória não foi fácil, nem diferente de tantos acreanos de origem humilde. Junto com três irmãos, cresceu no bairro Bosque e fez o Ensino Fundamental e Médio em escolas públicas. O pai era servente em uma escola, e a mãe foi dona de casa a maior parte de sua vida. Após terminar o Ensino Médio, ele realizou o curso de tecnólogo em Agricultura, na Ufac, e seguiu para o Amazonas, onde viveu por cerca de cinco anos. Foi lá onde ele teve o primeiro contato com a Comunicação, em 1982.

A empresa onde ele trabalhava oferecia um curso de Comunicação, com foco em pautas rurais, e tinha um programa de Rádio na mesma editoria. Por cerca de três anos, Edvaldo lembra que apresentou o programa junto com um amigo do trabalho. De volta ao Acre, em “tempos bicudos”, ele conta que passou por dificuldades, mas conseguiu seguir na Rádio, passando pela Rádio Transamazônica, no Quinari, pela Rádio Difusora, em um noticiário junto com Pedro Paulo Campos Pereira, pela Rádio Gazeta FM, até ser diretor geral da Rádio Alvorada.

“O Rádio é a grande escola, é o Rádio que te dá a celeridade do raciocínio, te dá o improviso, faz com que você saia dos apertos… Só não dá dinheiro, dos veículos é o que menos dá dinheiro. Mas, foi a escola para que eu chegasse até a televisão”, relembra o jornalista, que, após anos como radialista, foi contratado como editor chefe na TV 5.

Foi durante um período de férias do também jornalista Roberto Vaz, que Edvaldo Souza apresentou um programa de TV pela primeira vez, era o “Bom dia Cidade”. Tempos depois, seu nome foi citado entre os possíveis apresentadores de um novo programa policial que a TV Gazeta iria estrear, o Gazeta Alerta. Edvaldo recorda que foi chamado para gravar alguns programas pilotos, e o início foi mais rápido do que ele imaginava.

Edvaldo Souza comanda, há 20 anos, o Gazeta Alerta, o programa de TV de maior audiência no Acre

“Acho que a gente só fez dois pilotos, foi muito rápido, mas, como tinha que colocar no ar, disseram: ‘Olha, a gente vai colocar no ar, você vai pegando experiência no estilo do programa, vai lendo, vai adequando… E, até hoje, a gente está no ar com o Gazeta Alerta, com 87% de audiência no horário. Um fenômeno, tratando-se de televisão, de Acre. Um programa que todo mundo pensa que é muito fácil de se fazer, mas é complicado, pensam que é feito na marra, mas não é. Tem uma editoria especial para ele, dá trabalho”, declara Souza.

Atualmente, com quase 1h30 de duração e considerado um programa para o “povão”, o Gazeta Alerta traz pautas policiais e denuncia problemas públicos da cidade. O trabalho constante com tantas notícias polêmicas gerou em Edvaldo o interesse por outra formação e o fez iniciar o curso de Direito, aos 45 anos de idade.

“Te prepara para não falar bobagem! (…) Embora não exerça a profissão, conheci bastante de lei, principalmente, o Direito Penal, por causa do programa que apresento. Você tem que passar informação correta, tem que ter uma análise do que você vê corretamente”, ensina o apresentador.

Mesmo sem a formação acadêmica em Jornalismo, Edvaldo destaca a relevância da profissão, o respeito pela área em que atua e reforça a responsabilidade do ofício. “Acho que todos nós, principalmente, os jornalistas, temos que ter um arcabouço de conhecimento e, para isso, tem que ler, tem que ouvir rádio, assistir televisão, ler bom livros, para ter conhecimento, cultura, porque você é um formador de opinião. Tem uma responsabilidade muito grande com a comunidade e com o público. O Jornalismo é uma atividade de produção intelectual”, defende.

Famoso pelas duras críticas que faz durante o programa, ele cita Armando Nogueira e defende que é possível criticar sem ofender, e elogiar sem bajular. “Tem que se manter o respeito. Ao fazer a crítica, faz a crítica ao homem público. Pra que entrar na vida particular do cidadão? A vida pessoal de ninguém me interessa, agora, enquanto homem público, gestor de recursos públicos, ele deve explicações à comunidade. A crítica deve ser feita com respeito”, afirma.

Edvaldo na tribuna da Aleac. Ele foi eleito deputado estadual, em 2010, com o maior número de votos, à época

O passado político e o futuro da calmaria

Mais que famoso, Edvaldo Souza pode ser definido como popular, quesito que acaba sendo importante para quem pretende disputar uma vaga na política. Mas, foi de forma despretensiosa que ele acabou eleito deputado estadual, em 2010, pelo PSDC, como o candidato mais votado à época, com 4.646 votos. Em 2014, ele chegou a tentar novamente, mas não foi reeleito.

“Sabe aquelas coisas que aparecem na tua vida e dizem: ‘Olha, isso vai dar certo’? E deu certo. Mas, é um período do qual eu não tenho saudades, um período em que tive muita aporrinhação. Na política, em geral, com as devidas exceções, (…) tem uma maioria que olha para o próprio umbigo e fica muito difícil trabalhar”, avalia.

Hoje, aos 62 anos, ele destaca o mandato como uma boa experiência de vida, mas diz que não sabe se repetiria mais uma vez. Edvaldo se considera uma pessoa caseira e comenta que este é o clima que está buscando, cada vez mais.

“Acho até que não tenho mais idade para isso, eu estou mais a fim de uma calmaria, de uma vida tranquila. (…) Está tranquilo do jeito que está. Faço meu trabalho e depois vou curtir o neto, bater um bom papo, assistir um filme, estou nesse momento da minha vida”, afirma.

Opiniões fortes

Com mais de 30 anos na Comunicação, passando pelo Rádio e atuando na TV, com formação acadêmica em diferentes áreas, além da experiência como deputado estadual, não poderíamos deixar de questionar como Edvaldo Souza avalia a situação do nosso Estado hoje. Ele recordou o início difícil e destacou as dificuldades de vida no Acre.

“Nunca tive facilidades, a gente que vem de origem humilde tem que passar por várias dificuldades para atingir nossos objetivos, não pode ser fraco. Eu sempre digo: só os fortes sobrevivem no Acre, tudo aqui é mais difícil, tudo é mais complicado, se você for pobre então, nem se fala”, declara ele.

O jornalista destaca as questões geográfica e de logística como pontos que contribuem para tais dificuldades. O preço das passagens aéreas e os empecilhos para iniciar empreendimentos são alguns dos exemplos que ele cita.

“Sempre diziam que, quando asfaltassem a BR-364, tudo ia melhorar. Coisa nenhuma! ‘Ah, vamos fazer uma Estrada para o Pacífico, vai ser um polo de importação e exportação!’ Exportação do quê? De pó, de cocaína? Tem que ter serenidade, mas tem que ter seriedade”, alfineta.

Edvaldo critica ainda a carga tributária, que não há alívio para o investidor, além da falta de produção e tipos de renda.

“O que nós produzimos? Nosso produtor produz para se manter, sustentar a família e, nessa área, tem muitos problemas (…) Qual grande indústria temos no Acre? Primeiro que, para ter indústria, temos que ter um baita de um parque energético. Como vamos montar uma super indústria em um lugar que falta energia quase todo dia? O Acre é um estado complicado”, conclui.

Confira a entrevista na íntegra:

Categories: Geral NOTÍCIAS
Daniel Scarcello: