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Luto, a dor de quem fica

(Foto: Sérgio Vale)

Na coluna Devaneios da semana passada, abordamos um tema por demais inquietante, debates que circundaram a problematização da arte/sublimação/ilusório/fantasia, que, de certa forma, produz um inconsciente coletivo, uma superestrutura alicerçada em alguns preceitos reais de se pensar a vida. Estamos evidenciando mudanças significativas na produção artística de hoje, possibilitando-nos viver em contextos mais representativos da realidade vivida.

Nesta semana, a “devanete” que vos fala traz outro assunto com o qual, todos os dias, convivemos, mas que, ao mesmo tempo, todos nós não gostamos de pensar e nem ao menos devanear…a finitude. Em minhas elucubrações, sempre avalio que só sabemos que existe a vida cotidiana porque temos a certeza (incontestável) da morte, e sempre me questiono sobre os tabus que circundam esse tão periclitante tema.

Entretanto, sobre a morte, acho que podemos pensar de várias formas. Hoje, quero me ater ao que a finitude de um ser representa para quem fica: o luto. Viver o luto para não viver desmotivado (a) com a falta daquele ser que partiu. Tão racional, tão bem elaborado, porém, na prática, é difícil… Exige coragem, exige FÉ, pede-nos determinação e TEMPO.

Tempo este que, numa sociedade acelerada como a que vivemos, torna-se uma condicionante por demais desaforada. Exigimos pressa, produtividade, publicação em tempo real, vida em “tempo real”… E acabamos nos esquecendo que a vida tem bastidores, e esses precisam ser, cuidadosamente, elaborados, para que possa haver uma vida real minimamente saudável.

Esses “bastidores” aos quais me refiro são esses momentos em que a vida nos convida para sairmos dos holofotes e vivermos o que, de fato, é preciso ser visto na nossa existência. A certeza de que, em mais ou menos dias, incontestavelmente, iremos nos deparar com a morte. Mas, dói demais quando essa dor é vivida pela perda de um ente querido.

Podemos dizer que o luto é um dos piores estados emocionais apresentados, e um processo que se inicia a partir da perda de um ente querido, também podendo ser evidenciado com igual intensidade quando se perde um vínculo afetivo, trabalho, ou contato com alguma experiência que estava acostumado.

A psiquiatra Elisabeth Kúbler-Ross (1926-2004), em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, obra que nasce da sua experiência com pacientes terminais de câncer e aids, observando as reações emocionais de pacientes terminais, constata e nos traz cinco estágios para a superação da morte ou do luto. São eles: negação, raiva, barganha/negociação, depressão e aceitação. Passar por esses estágios nos indica que precisamos de tempo, então, por favor, me poupe com conselhos de vizinhos quando dizem: – Calma, você tem que superar. Com o velório ainda acontecendo. (P.S. Nada contra vizinhos, foi só um exemplo (risos)).

Brincadeiras à parte, é conflitante a ideia de que precisamos passar pelas situações da vida como que “robôs”, aperta um botão e upa lá lá lá, está resolvido o problema. Amados leitores, não é assim…

Cada indivíduo neste planeta -ainda não sabemos se existe vida em outros – tem o próprio tempo de viver o luto, e a literatura fala de um processo que dura mais ou menos dois anos. Após isso, podemos considerá-lo patológico.

Daí a importância de viver o luto, sentir o luto e, claro, se for o caso, procurar ajuda psicológica, psiquiátrica, e/ou buscar espaços de acolhimento e carinho, de modo que se permita dizer, em alto e bom som, do quão vulnerável ficamos diante da vida quando perdemos aquele ser amado.

Porém, aconselho que não deixe que essa perda o imobilize para estar na vida, vivo para àqueles que ficaram… Busque seu centro e encontrará leveza, como diz o meu admirado Bert Hellinger, em seu livro “No Centro Sentimos Leveza”. A vivência do luto talvez seja uma excelente oportunidade para nos autoconhecermos ou, ao menos, iniciarmos essa “linda viagem”, com novos significados e significantes.

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