Há dois anos, quando Taís Araújo resolveu, ela mesma, agenciar sua carreira, deu uma amostra da maneira como quer levar sua vida pessoal e profissional. A atriz, que é capa da primeira edição da ForbesLife Fashion ao lado do marido, Lázaro Ramos, quer retomar sua porção apresentadora, é head de produtos sociais da Ong Gerando Falcões e trabalha para as 18 marcas que a elegeram como garota-propaganda, como Italac, Banco BV e L’Oréal. Para essa última, Taís acaba de estampar a campanha StandUp, rodada em diversos países, e que pretende disseminar um treinamento anti-assédio desenvolvido em parceria com a ONG americana Hollaback!.
“No passado, muitas vezes não entendíamos o que era assédio porque a sociedade naturalizava muito isso. Eu mesma passei por momentos que hoje reconheço como assédio sexual. E não só na minha profissão. Na rua, em vários lugares”, diz Taís. A ideia do programa é ajudar testemunhas e vítimas a intervirem e a denunciar com segurança casos de assédio, baseadas no que chamam de 5 Ds: distrair, delegar, documentar, direcionar e dialogar. O treinamento está disponível online, é gratuito e pode ser feito por qualquer pessoa. Hoje, Dia Internacional da Violência contra a Mulher, vale lembrar que esse é o tipo de ferramenta que pode ser de ajuda no combate a esse sério problema social.
Nesse momento, a atriz trabalha também em sua última criação. HotMamma nasceu com o desejo de Taís de encontrar roupas de praia confortáveis para brincar com os filhos, mas que fossem femininas ao mesmo tempo, e está crescendo para se transformar em uma plataforma criada especialmente para mulheres, discutindo temas que vão de moda a finanças pessoais. Ela conta um pouco mais nesse bate-papo.
Forbes: Você tem abraçado causas e assumido um papel ativista para além da sua carreira como atriz. Como Ceo da HotMamma, o quão importante (ou mesmo complicado) é ter esse papel social ao mesmo tempo que se está à frente de um negócio?
Taís Araújo: Eu acho que tem que ser o princípio de uma marca, sabe? As marcas têm seus princípios e valores e isso surge logo no nascimento daquela ideia. Como estamos vivemos em um mundo que estamos repensando diversos pontos, acredito que seja natural esse processo de repensar os seus valores. A mudança precisa ser interna dentro das empresas para depois sair para a rua.
F: Como faz para gerir o tempo entre todas as funções, incluindo a de empreendedora? O que você prioriza no seu dia e como?
TA: No meu dia a dia, eu priorizo os meus filhos e a minha família. Eu tenho uma mãe muito presente que me ajuda muito e isso faz com que eu consiga focar na minha carreira. Se eu estou ausente em casa, a minha mãe assume esse lugar.
F: Sobre a plataforma para apoiar mulheres a ter independência financeira, o quão importante é isso em sua vida? Como você acha que as mulheres podem começar a cuidar das finanças e quando?
Eu tenho falado muito sobre dinheiro e a minha decisão foi quando eu comecei a pensar sobre equidade salarial entre homens e mulheres, entre pessoas negras e não-negras. Como é que eu vou saber se as pessoas ganham menos ou mais que eu se eu não falar sobre dinheiro? É a partir daí que surgem as discussões sobre a igualdade de remuneração.
F: Como você vê a importância seu papel de apoiar mulheres (especialmente mulheres negras) a serem independentes, a ocuparem espaços que não podiam ser delas no passado, a terem visibilidade? Onde quer chegar?
TA: Eu ocupei um lugar em que eu tenho uma obrigação moral e social de abrir esse espaço para várias mulheres porque é isso que vai fazer a mudança. Não adianta só eu pertencer a esse espaço e me sentir confortável nele. A mudança vai vir a partir do momento que todas as pessoas possam circular e sentir-se confortáveis em qualquer lugar e onde elas desejarem. Eu quero chegar em um mundo com possibilidades iguais para todos. O meu trabalho é para isso.
F: Você apareceu mais uma vez na lista dos afrodescendentes mais influentes do mundo. Que espaço isso abre na sua carreira dela e de outras mulheres pretas?
TA: Eu acho isso bonito porque diz que o trabalho não está sendo em vão. Isso é muito importante porque cada vez me estimula.