Jornalista há 15 anos, com foco em pautas ambientais, o acreano Fábio Pontes encontrou, na pandemia do novo coronavírus, uma forma de gerar renda e apoiar uma das causas que mais defende e acredita: a cultura indígena. Em agosto deste ano ele abriu uma loja virtual para vender artesanato produzido por cinco povos acreanos diferentes.
Brincos, colares e pulseiras de miçanga e sementes, dos mais simples aos mais exuberantes, são os principais produtos oferecidos na loja. Todos são produzidos e comprados diretamente de artesãos indígenas acreanos, dos povos Huni Kuĩ (Kaxinawa), Puyanawa, Nukini, Yawanawa, Shanenawa. A ideia surgiu a partir da relação de amizade que Fábio construiu ao decorrer dos anos com vários indígenas e a percepção de como a falta do turismo, durante a pandemia, afetou a renda desses povos.
“O turismo movimenta muito as aldeias. O principal público para qual eles vendiam eram os turistas, pessoas que vinham para participar dos festivais, realizar vivências nas aldeias, etc. Mas como ficou proibido acabou que as pessoas não foram mais (…) Como tenho muito contato com eles, até pelas redes sociais, um dia vendo, as fotos das peças que eles postavam, me veio a ideia, vi que tinha um potencial”, relata Fábio.
Foi então que o jornalista iniciou o empreendimento junto com a irmã. As vendas funcionam da seguinte forma: Fábio vai as aldeias, identifica as produções disponíveis, compra diretamente com eles, pelo preço comum cobrado, e revende no site com entregas para qualquer lugar do mundo. Quando não consegue ir pessoalmente, ele conta que os próprios artesãos lhe contatam pelas redes sociais e enviam os produtos.
“É uma forma de ajudar, pegar o artesanato estocado nas aldeias pela pandemia e colocar nessa vitrine chamada internet. E assim, manter as vendas mesmo em um momento adverso como esse, movimentando renda, para as comunidades que depende muito do artesanato, além de ser uma fonte renda para mim também, que sou repórter autônomo. Com o site, é possível expor o artesanato para um leque de publico muito maior, sobretudo fora do Acre”, comenta o jornalista.
Acesse o site AQUI e o perfil do Instagram AQUI.
(Des)valorização da arte indígena
Para Fábio, levar os produtos indígenas para a internet é essencial para atingir os clientes que valorizam a arte das aldeias acreanas que, segundo ele, não estão no Acre. “Infelizmente essa arte aqui não recebe o devido valor da população local. Sou acreano e não tenho receio em dizer isso, a gente percebe uma postura preconceituosa e de desdém com a cultura indígena”, critica.
Com preços variados, Fábio defende o valor do trabalho produzido e afirma que todas as peças que ele compra para o site são adquiridas a custo padrão, sem descontos, pois o intuito maior é o apoio aos artesãos. “É uma arte lindíssima, algo difícil, e tem um trabalho artístico. Não é qualquer pessoal que consegue montar uma pulseira daquela, um colar… Não tem apenas um desenho, mas tem uma história ancestral, milenar de cada um desses povos”, defende.
O jornalista diz se identificar com a causa há anos e define os povos indígenas como o maior símbolo do Acre. “Eles são os verdadeiros donos das terras, já estavam aqui antes de qualquer ocupação do homem branco, ocidental e invasor”, afirma Pontes.