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Influências culturais no vocabulário português

Uma língua viva incorpora, no dia-a-dia, palavras advindas de  outras culturas. Esse fenômeno acontece com todas as línguas faladas no mundo e cuja sociedade esteja em processo de evolução, interação e contato cultural, por força das necessidades da vida humana. Uma sociedade isolada leva a língua à estagnação e, conseqüentemente, à morte.

Assim é que o vocabulário de uma língua de civilização, como a portuguesa, é extremamente complexo na sua composição, pois resulta de um trabalho multissecular de elaboração e de seleção, cujos princípios se situam bastante para além da época em que o português se manifesta como instrumento literário nos primeiros documentos escritos.

Dessa forma, mesmo havendo importantes estudos sobre a constituição do vocabulário da língua portuguesa, nós nunca seremos capazes de descrever, com exatidão, as contribuições de outras culturas. O léxico de uma língua de civilização está em contínuo processo de construção, mudança, transformação. Pois assim como os homens nascem, vivem e morrem assim também  acontece com as  palavras.

Entre as formas faladas-populares e as cultas-literárias, observa-se uma permuta contínua e fertilizadora, em ambos os sentidos. Ao caudal vocabular do primitivo patrimônio afluiu, em ondas sucessivas, uma infinidade de elementos estrangeiros, europeus e extra-europeus, entrando em linha de conta praticamente todas as línguas com que os portugueses, no decorrer da  história, estiveram, direta ou indiretamente, em contato. Desse modo, encontramos, no léxico da língua portuguesa, palavras dos matizes mais diversos, conforme falamos em artigos anteriores e voltamos a ilustrar hoje:

Origem italiana: aquarela, balcão, banco, brigada, burlesco, calção, escopeta, fachada, fiasco, infantaria, ópera, piano, pitoresco, soneto;

Origem visigótica:  bando, espeto, espia, espora, luva, roca, ufano;

Origem espanhola: airoso, bandarilha, boina, cabecilha, castelhano, caudilho, cavalheiro, chiste, faina, tertúlia, mantilha, trecho, tijolo, moçoila, hediondo, moreno;

Origem francesa: abajur, tricô, echarpe, vernissage, filé, bisturi, boné, toalete, purê, bufê, restaurante, manchete, garçom, chofer, butique, buquê;

Origem africana: tanga, miçanga, maxixe, quilombo, cacimba, mocambo, senzala, berimbau, samba, macumba, jiló, quiabo, camundongo, marimbondo, carcunda, capenga, bunda, banguela, marimbondo;

Origem tupi: Capixaba, jururu, lenga-lenga, mocó, pererê, oi, pororoca, sururu, tiririca, tapera, tatu, capivara, bubuia, cuia, coité;

Origem grega: bolsa, corda, caixa, ermo, gruta, órfão, tio, bispo, anjo, crisma, igreja, mosteiro, telefone, farol, guitarra, telepatia, sugestão, academia, cara, cola, pedagogo, bíblia, diabo, paróquia;

Origem árabe: arraial, arrebate, atalaia, alfândega, algodão,alecrim, laranja, açucena,alfaiate,algoz,arroba,alcatraz, javali, almofada, alfinete, azeite, álcool,tabefe,chafariz, alvenaria;

Origem inglesa: marketing, software, hardware, e-mail, off-set, franchising, spray, grid, hot-dog, light, diet, hambúrguer, outdoor, celular, fashion, corner, escanteio, chute, beque, pênalti, gol;

Origem asiática: chá, chavena, biombo, bengala, leque, pagode, biombo, andor, chita;

Origem holandesa: amarrar, bacalhau, bombordo

Há inúmeras contribuições que um breve artigo não pode enumerar. Ademais, é bom não perder de vista que o léxico de uma língua é um sistema in fieri e, como tal, vive em permanente expansão.

Conclui-se o texto de hoje dizendo que toda a sabedoria do homem está expressa na sua linguagem. A língua de um povo fornece seu vocabulário e o vocabulário é uma bíblia bastante fiel de todos os conhecimentos desse povo. E tanto isso é verdadeiro que apenas a comparação do vocabulário de uma nação, em diferentes tempos, é suficiente para se formar uma idéia de seus progressos. Tudo  o que existe na natureza e é conhecido do homem está por ele designado, denominado, segundo a sua cosmovisão de mundo.

DICAS DE GRAMÁTICA

ABAIXARAM OS PREÇOS ou BAIXARAM OS PREÇOS ?

– Baixar e abaixar são sinônimos em alguns sentidos: 1) tornar mais baixo (baixar ou abaixar a voz); 2) fazer descer (baixar ou abaixar as persianas); 3) reduzir preço (abaixaram ou baixaram os preços). Então uma loja pode baixar ou abaixar os preços. Tanto faz, ganha o consumidor.  Todavia, tome cuidado, pois às vezes baixar não se confunde com abaixar: O ministro baixou (expediu) instruções. O doente baixou (internou-se) ao hospital.

GANHO  ou GANHADO?

– A gente usa o particípio regular (terminado em –ado e –ido), com os auxiliares ter e haver. E o irregular com o ser e estar. É o caso de matado e morto: Paulo tinha (havia) matado  a companheira quando a polícia chegou. Ela está (foi) morta. Ganhar não foge à regra. A forma ganhado pode ser usada (com ter e haver). Mas a pobre caiu em desuso. Modernamente só dá ganho com qualquer auxiliar: Tenho ganho pouco dinheiro. O jogo está ganho. Nenhuma partida é ganha por antecipação.

PODE UM PROBLEMA SER RESOLVIDO A NÍVEL FEDERAL?

– Não. Qualquer problema será mais bem resolvido em nível federal. A expressão  não tem início com a, mas com em. Por isso, resolva tudo em nível federal, em nível estadual, ou em  nível municipal. Ou seja, em alto nível (Alguém já resolveu alguma coisa a alto nível?) Não obstante a evidência dessa resposta, há muita gente que vive com o a nível na boca  ou na pena.

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Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ: Membro da Academia Brasileira de Filologia; Presidente da Academia Acreana de Letras.

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