Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Organizações protocolam ação civil pública contra construção de nova estrada do Acre ao Peru

Organizações protocolam ação civil pública contra construção de nova estrada do Acre ao Peru

Vista de drone do Rio Moa no Parque Nacional da Serra do Divisor, e conjunto montanhoso na divisa com o Peru (Foto: Andre Dib)

Cinco organizações protocolaram uma ação civil pública, na última terça-feira,7, pedindo a anulação da licitação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para contratação de uma empresa que será responsável pelos estudos, projetos, implantação e execução da nova estrada que vai ligar o Brasil ao Peru, saindo de Mâncio Lima, no Acre. Entre outras questões, a ação defende a falta de um estudo de viabilidade, antes da publicação do edital, além de questionar os impactos ambientais que a obra deve gerar.  A obra foi tema de audiência pública na Assembleia Legislativa do Acre em outubro deste ano.

O edital do DNIT, publicado em 5 de maio deste ano, foi referente à contratação de uma empresa especializada para a Elaboração de Estudos e Projetos Básicos e Executivos de Engenharia, visando a execução das obras de Implantação, Pavimentação e Adequação de Capacidade e Segurança com Eliminação de Pontos Críticos do trecho rodoviário, planejado na Rodovia BR-364/AC. No final de outubro, foi divulgada a vencedora do edital, a empresa Consórcio Única-Iguatemi pelo valor de R$ 6.076.000,00.

Com 110,6 km de extensão, o projeto é que a estrada saia no município de Mâncio Lima até a divisa com a Província de Pucallpa, no Peru. Assinada pela ONG SOS Amazônia, Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), Comissão Pró-índio do Acre (CPI- Acre), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a ação questiona a falta de Estudos de Viabilidade Técnico, Econômico e Ambiental (EVTEA), e um plano de avaliação socioeconômica da região antes da publicação do edital.

Entretanto, segundo o documento, o Edital dispensa a realização de tais estudos, alegando que, por se tratar de uma rodovia que será construída em uma região de fronteira “constata-se que as obras relativas são dispensadas a apresentar avaliação prévia da viabilidade econômica (EVTEA), em razão de ser considerada de interesse social e segurança nacional”.

Dessa forma, a Ação pede a nulidade da licitação e a determinação de que a União e o DNIT se abstenham de realizar qualquer outro procedimento licitatório com a mesma finalidade enquanto não realizarem os Estudos de Viabilidade Técnica e Ambiental (EVTEA); não realizarem uma consulta prévia, formal, livre e informada, nos moldes em que determina a Convenção n°. 169, da OIT, aos povos indígenas e comunidades tradicionais que serão impactados pelo empreendimento ora questionado; e enquanto sejam desenvolvidas pela FUNAI as ações necessárias para confirmar a presença de povos indígenas isolados na área de influência do projeto da BR-364.

Impactos Ambientais

Organizações protocolam ação civil pública contra construção de nova estrada do Acre ao Peru
Parque Nacional da Serra do Divisor é um dos locais que será prejudicado casa haja a construção da estrada. (Vista de drone do Rio Moa/ Foto: Andre Dib)

As organizações questionam ainda se, de fato, a construção da estrada trará impactos econômicos significativos em relação ao tamanho dos impactos ambientais que ela pode causar. O documento destaca que, caso executada, a obra vai cruzar o Parque Nacional da Serra do Divisor, além de interferir no Projeto de Assentamento Florestal Havaí – PAF Havaí e nas terras indígenas Nukini, Poyanawa, e Jaminawa do Igarapé Preto.

A ação utiliza também dados de um Relatório Técnico Sobre os Impactos Socioambientais da Rodovia BR-364: Interligação Cruzeiro do Sul – Fronteira Brasil/Peru, elaborado por professores da Universidade Federal do Acre (Ufac) que aborda diferentes dimensões dos impactos sinérgicos que decorrem de grandes empreendimentos como rodovias.

Por fim, o documento afirma ainda que o processo histórico de ocupação da região amazônica, aponta altos riscos socioambientais envolvidos com a abertura do trecho rodoviário. “Trata-se de clara ameaça a um dos territórios com maior biodiversidade do mundo, agravado pelo contexto de mudança climática. Além disso, a presença de povos indígenas na área de influência do empreendimento, configura ameaça aos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais, inclusive de povos indígenas isolados e que podem ser dizimados pelo contato brusco com agentes externos, em razão de sua alta vulnerabilidade epidemiológica”, consta na Ação.

Leia também: Comissão do Ipea vem ao Acre estudar viabilidade da Rota Interoceânica que passa pela BR-317

Sair da versão mobile