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Trilhas, cachoeira e cultura: conheça o Parque Nacional da Serra do Divisor

Vista do mirante do Parque Nacional da Serra do Divisor (Foto: Daniel Scarcello)

“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, já dizia o famoso escritor russo Leon Tolstói. Essa frase pode servir para muitos acreanos que conhecem pouco do próprio estado, mas se viajam Brasil afora e até para outros países. Se a desculpa era não ter lugar para conhecer por aqui, te apresento o Parque Nacional da Serra do Divisor. Com cachoeiras, trilhas, muita natureza e belas paisagens, esta é a única serra que existe no estado, fazendo do Parque um lugar mágico e único, com imagens que você só encontra lá.

Com uma área de 837 mil hectares, o Parque Nacional da Serra do Divisor foi criado em 1989 com o objetivo de proteger a beleza cênica e a diversidade biológica excepcional da Serra do Divisor, composta pelas formações geológicas da Serra do Môa, Juruá-Mirim, Serra do Rio Branco e a Serra da Jaquirana. Se estendendo por cinco municípios acreanos (Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Marechal Taumaturgo e Porto Walter), o Parque é a segunda maior unidade de conservação do estado do Acre e o quarto maior Parque Nacional brasileiro.

Segundo um relatório da ONG SOS Amazônia, na época da criação do Parque, estudos apontaram que a área está inserida em uma zona de altas concentrações de espécies da fauna e da flora. Vale destacar, que o local também faz limite com propriedades privadas, três terras indígenas, cinco assentamentos rurais e uma unidade de conservação de uso sustentável.

Aos poucos, os moradores locais e apoiadores do turismo ambiental no Acre têm incentivado cada vez mais a visita ao Parque. Hoje, existem três pousadas para o público e passeios e roteiros cada vez mais ricos para quem deseja se desconectar do dia a dia e se conectar com a natureza e com a Terra. Destacamos aqui o percurso de ida e volta ao Parque e algumas da principais atrações que você pode conferir por lá e aproveitar o período de férias sem sair de “casa”.

De Rio Branco ao Parque

Claro que nem tudo é maravilha, e para chegar em um lugar tão rico e preservado, é preciso se afastar bastante da cidade. Por isso, antes de ir, planeje e organize-se para ficar pelo menos três  ou dois dias completos no Parque, para compensar o deslocamento.

Saindo de Rio Branco, é preciso ir até à cidade de Cruzeiro do Sul, de avião (dentro de 1h), de carro, ou ônibus (cerca de 12h de viagem).  De lá, é preciso pegar um barco no porto da cidade de Mâncio Lima (entre 30 a 40 minutos de carro de Cruzeiro). É de lá que vários barcos chegam e saem todos os dias com pessoas e mercadorias. O ideal é sair o mais cedo possível, por volta das 7h ou 7h30.

Barcos no Porto de Mâncio Lima.
Barcos no Porto de Mâncio Lima. (Foto: Daniel Scarcello)

O percurso de barco é o mais cansativo da viagem, pois, dependendo da época do ano e do nível do Rio, leva-se cerca de oito horas para chegar as pousadas, com algumas pequenas paradas. Pode haver muitos balseiros que dificultam ainda mais o percurso, que é contra o sentido do rio. Com várias curvas no caminho, a vegetação fechada encanta com grandes árvores e espécies entrelaçadas, além de casas e comunidades ribeirinhas que surgem percurso.

Para uma viagem mais confortável, é bom que sejam seis passageiros por barco. Para este momento, a recomendação é ir com roupas leves, mas que protejam a maior parte do corpo. As camisas de proteção UV são uma ótima opção para evitar tanto os raios solares  quanto os mosquitos. Outra dica é embalar a bagagem com um saco de lixo e levar uma capa de chuva. Repelente e protetor solar também são indispensáveis.

Pousada do Miro

Pousada do Miro é um dos melhores lugares para se hospedar na Serra.

Uma das três pousadas do local, a Pousada do Miro é das mais antigas, onde o dono, Seu Miro, já hospedava visitantes há muito tempo em sua própria casa. Hoje, o lugar está cada vez mais estruturado com capacidade de até 30 pessoas. Com quartos duplos e pequenos chalés para casais, os cômodos são simples, mas bem cuidados e limpos diariamente e com o necessário para uma estadia curta.

Seu Miro nos recebe ainda como se fosse a sua casa e, se você estiver disponível, o que não vai faltar são histórias e relatos sobre a vida na Serra.  É preciso saber que para esta viagem você precisa querer imergir naquela realidade em que não há sinal de telefone celular e muito menos wi-fi, é um momento de desconexão digital, mas muita conexão com a Terra e a natureza. Na pousada há energia elétrica até as 22h, quando um gerador é ligado para cômodos específicos.

Árvore e deck na entrada da Pousada (Foto: Daniel Scarcello)

A comida, sempre muito bem servida, é preparada em uma pequena cozinha com fogo a lenha. Com café da manhã, almoço e jantar as refeições são variadas, sempre com mais de uma opção de carne, pratos regionais e uma farofa do jeito que o acreano gosta. Um destaque é um deck montado em volta de uma grande árvore na entrada da pousada, ótimo canto para observar as estrelas, conversar e interagir com outros visitantes. O lugar também fica na beira do Rio Moa com uma faixa de areia que acaba formando uma pequena praia onde pode-se tomar banho e curtir o sol ou  a lua.

Pousada do Miro
Refeições na Pousada do Miro
Pousada do Miro

O Rio Moa funciona como uma grande avenida no Parque e é por ele que acessamos todos as atrações.

Cachoeiras do Pirapora

Queda do Pirapora.

Dentro de 10 a 15 minutos de barco é possível chegar na Cachoeira Pirapora, formada por duas pequenas quedas de água (aprox. três metros), mas que são charmosas e um bom ponto para iniciar os passeios pela Serra.  Nas águas geladas é possível tomar banho e até ver alguns peixinhos, além ser se linda para tirar fotos, pois você consegue ficar bem embaixo e até atrás das quedas.

Cachoeira do Ar-Condicionado

Cachoeira do Ar- Condicionado possui cerca de 6,2m de altura. (Foto: Daniel Scarcello)

Com aproximadamente 6,2 metros de altura, a Cachoeira do Ar Condicionado ganhou este nome pelas águas com temperaturas mais baixas. Com o solo de areia, uma pequena piscina se forma embaixo da queda e é possível ficar sentando ou deitado no local para relaxar. Outra proposta, que vem sendo oferecida pela empresa Nomad Adventure Expeditions, é a realização de um canionismo (rapel em cachoeira).  A atividade é realizada com equipamentos específicos e com a condução de um guia autorizado para a atividade, descemos

Prática de Rapel é  uma das atividades que pode ser realizada na cachoeira.

“O rapel executamos na cachoeira do ar condicionado, pois é a única que oferece possibilidade de realizar as ancoragens das cordas com o máximo de segurança possível, com acesso fácil e relativamente fácil de operacionalizar. E também porque é baixa, sendo ótimo para iniciantes”, explica o guia Mack Willison.

“É a única que oferece possibilidade de realizar as ancoragens das cordas com o máximo de segurança possível”, explica o guia Mack Willison.

Buraco da Central

Buraco foi furado na tentativa de encontrar petróleo na região.

Outra atração interessante, não apenas pela beleza e pelas águas, mas também pela história, é o Buraco da Central. Perfurado pela Petrobrás durante uma exploração de petróleo na década de 30, o Buraco emerge água com temperatura mais alta, em relação às cachoeiras da Serra. Com a emersão da água, duas pequenas piscinas se formaram e é uma ótima maneira de relaxar no final do dia. A caldeira utilizada pela Petrobrás ficou abandonada no local e acabou se tornando um artefato histórico.

Caldeira da Petrobrás no Buraco da Central
Buraco da Central

Cachoeira e Trilha da Formosa

Cachoeira da Formosa possui três quedas d’água. (Foto: Daniel Scarcello)

Uma das mais belas a maiores cachoeiras do Parque fica mais distante de todas as citadas acima, mas vale todo o percurso. A Cachoeira Formosa possui três quedas d’água com 8m, 6m e 2m de altura cada.  Localizadas a 405 metros de altura em relação ao nível do mar, é necessário percorrer 15,5 km de trilha, a partir da margem do Rio Moa, para chegar na Formosa. Sendo que os últimos 2km percorrem, boa parte, por dentro do Igarapé Anil.

Assim, a ida até a Formosa pode contemplar até três passeios em um só: a trilha, a cachoeira e um acampamento. A trilha dura cerca de 5h a 6h de caminhada, passando por mata fechada e algumas ladeiras, mas não é um percurso difícil de se fazer.

Já o acampamento é oferecido como alternativa para não precisar fazer a ida e volta da trilha no mesmo dia, o que é mais cansativo. Além disso, permite uma experiência imersiva na cultura das comunidades que vivem nas regiões ribeirinhas e na mata. Todo o passeio é oferecido pela Pousada do Miro, que fornece barracas e guias para fazer tanto a trilha quanto o acampamento, incluindo alimentação.

Igarapé Anil, no Parque Nacional Serra do Divisor
Acampamento na trilha da Formosa
Acampamento na trilha da Formosa

O acampamento é armado à beira do Igarapé Anil e a comida é levada semi pronta e preparada em uma pequena fogueira. Durante a noite, a experiência pode render muitas histórias, conversas e aprendizados populares resgatando a cultura local e oralidade. Uma vivência única.

Cachoeira da Formosa
Cachoeira da Formosa

Cachoeira do Amor  

Cachoeira do Amor tem história divertida e água ‘mágica’. (Foto: Daniel Scarcello)

                  

Por falar em história, de acordo com Seu Miro, a Cachoeira do Amor ganhou este nome por uma história divertida. O morador conta que foi ele quem achou a cachoeira e o ponto acabou virando lugar para “lua de mel” dos casados na região. “Aqui a gente não tem motel ou hotel, então quando o cara casava ia passar a noite na Cachoeira do Amor”, relata.

Com aproximadamente 22 metros de altura, a grande pedra chama atenção. E reza a lenda que basta beber um gole da água da Cachoeira para encontrar o seu grande amor.

Mirante

Nascer do sol visto do mirante da Serra do Divisor.

Para além das cachoeiras, outra atração que vale a visita é o mirante da Serra, que está localizado a 404 metros de altura em relação ao nível do mar. Para acessá-lo, são 850 metros de caminhada, com variantes de 30 a 40 graus de inclinação. Para o mirante as experiências são duas: o nascer e o pôr do sol. Seja em qual você for, conseguirá ter uma visão ampla da natureza e exuberância do Parque. É o momento de admirar, contemplar e se emocionar.

Vista do Mirante do Parqur
Mirante no Parque Nacional Serra do Divisor

Excursão “Destino Acre”

Duas novas excursões serão realizadas pela Destino Acre em dezembro e janeiro.

Todo este roteiro pode ser feito de forma autônoma e diretamente com os donos das pousadas, mas outra possibilidade é realizar toda a excursão com os pacotes da “Destino Acre”. Para este ano ainda haverá um pacote para o Réveillon e em janeiro uma excursão de cinco dias em que é possível fazer todo o roteiro descrito nesta matéria. Os pacotes incluem alimentação, todo o percurso de Mâncio Lima à Serra, passeios, seguro saúde e muito mais:

30/12 a 02/01/2022 – 4 dias sem ida para a Cachoeira Formosa- Especial Réveillon

27 a 31/01/2022 – 5 dias com camping na Cachoeira Formosa

Contato Destino Acre (68) 992030358

Os pacotes incluem alimentação, todo o percurso de Mâncio Lima à Serra, passeios, seguro saúde e muito mais.

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