No novo ano que se inicia muitas inquietações povoam a mente das pessoas. Temos planos, desejos, sonhos que animam a vida. E isso é sorte, pois o ser humano é o único animal capaz de viver em dois momentos simultâneos: o sonho e a realidade. E, assim, com esses momentos, é possível a cada pessoa construir um mundo melhor para si e viver bem harmonizada com os demais mundos.
Penso que o sonho, aquele que temos dormindo, seja uma propriedade do cérebro. Dizem que outros animais também sonham, mas isso é outra história. Agora, o sonho, no sentido figurado, aquele que chamamos plano de vida ou fantasia, esse parece ser uma função apenas da mente humana. É sobre esse que falamos neste artigo.
O sonho parece ser a mais genuína das formas do ser humano expressar seus desejos, anseios, inclinações e motivações. Eu diria, ainda, sem conhecer profundamente a origem desse fenômeno, que são os sonhos que movem os seres humanos. Talvez sejam mensagens de Deus, plantadas em nossa mente, que sirvam para nos direcionar na vida, para dar sentido à existência. Por isso, sonhar é tudo. Não sonhar mais, talvez seja uma das primeiras evidências de que abandonamos a vida e esperamos a morte.
Sonhar não é algo novo da vida moderna. Desde épocas remotas, o ser humano vem se questionando a respeito do sonho. A própria Bíblia, está permeada, tanto no Velho como no Novo Testamento, de histórias onde um “ser” aparece na noite para indicar caminhos, quebrar grilhões, trazer soluções. Mesmo os povos primitivos costumavam descer ao recôndito de suas cavernas e dormir sobre os túmulos dos antepassados ou sobre as peles de animais oferecidos em sacrifícios, na esperança de conseguir curas através dos sonhos.
Estudos, de diversas naturezas, apontam os sonhos como remédios à vida. Muita gente deixa de sonhar pelas razões mais diversas: perdem a fé na vida, perdem entes queridos, mudam de seus espaços naturais, se afastam do seio da família etc. Tudo isso lhes parece trazer junto à insatisfação pela vida. E quem não tem satisfação pela vida, logicamente, deixa de sonhar. E, esse fato, segundo especialistas, chamado “Síndrome do Ninho Vazio”, faz com que crianças e adultos abandonem seus sonhos. Podem levar vida pacata, porém sem atração ou motivação, é como se não existisse a autoestima. Por isso tanta gente entra em depressão quando se afasta de pessoas e lugares queridos. Isso acontece com os pais quando os filhos partem, com as mulheres e homens abandonados por seus parceiros.
Pelos anos que vivi e por tanto que experenciei, nunca deixei de sonhar. Isso é sinal de que a vida me vale muito. E o nosso destino, enquanto pessoas, é não perder os sonhos. Até sou capaz de compreender as fragilidades humanas, respeitando-as, mas nunca as alimentando. A desilusão, o comodismo, o “mesmismo”, não deve ser o destino das pessoas. O nosso destino é bem maior e deve ser mais bem aproveitado. E só conseguimos observar isso quando uma pessoa deixa de sonhar e desejar, deixando-se levar pela vida. Acomoda-se, não faz esforço nenhum para mudar e transformar realidades em ambientes melhores, capazes de propiciar uma vida mais feliz.
Indaga-se, então, o que faz uma pessoa conseguir seus sonhos e outra não? O que ela fez de diferente? A resposta está na própria pergunta: FAZER! Quando as pessoas iniciam sua jornada de buscar realizar seus sonhos e ideais, a grande diferença é FAZER! Há aqueles que se responsabilizam pelos próprios sonhos e buscam conhecimentos, recursos, ajuda, tempo, etc, para realizá-los. E há aqueles que deslocam seus sonhos para um ambiente chamado de fantasia, e se contentam com a idéia de acalentá-los sem fazer nada no mundo real para se aproximarem deles. Essa gente costuma fracassar e lamentar-se das próprias fragilidades. Como se fosse pouco, culpam os outros por aquilo que elas não são capazes de idealizar, de ser. São parasitas da vida.
Depois, é bom perceber, curiosamente, o que mais traz satisfação nem é atingir completamente os objetivos, caso o destino não permita, mas é lutar e se empenhar em realizá-los. As pessoas mais frustradas não são aquelas que não conseguiram atingir seus objetivos e sim aquelas que não fizeram absolutamente nada para buscá-los. Essas são infelizes e procuram, ainda, entristecer o ambiente em sua volta. Os outros são culpados, a pessoa mesma está convencida da culpa alheia, mesmo quando vive de braços cruzados, olhando os dias passarem sem contribuir, em nada, à realização de seus sonhos. Espera que os outros façam tudo, ela não faz nada. Esse é um tipo de gente verdadeiramente fracassada, que não faz nada por si, espera tudo dos outros, pais, amigos, vizinhos, parentes.
Todavia, nunca é tarde para alguém sonhar e lutar pelos sonhos. Os sonhos não caem prontos do céu, eles necessitam de braços, mãos, vontade, energia, força, ousadia, coragem. Sonhos não são feitos para gente covarde que amputa ideais, valores. Então, neste ano de 2008, qual o conselho para transformar sonhos em realidade? O segredo é muito simples: FAZER, AGIR, PLANEJAR, APRENDER. Depois, outro passo, é reformular a vida, a partir de metas, propósitos, objetivos. Pergunte-se:
1 – Qual é o meu sonho? (isso resgata o sentido da existência).
2 – O que posso fazer, a partir de agora, para realizar meus sonhos? (isso resgata a dimensão afetiva e motivacional da realização: o impulso necessário).
3 – Quando começo a realizar meus sonhos? (isso dinamiza a vida, fazendo-a, de fato, mudar).
Não buscar nossos sonhos é como viver as vidas de outras pessoas, esquecendo-se de sua própria vida. Mas o sonho humano é algo tão profundo e, ao mesmo tempo, tão necessário, porque existe em vários estágios, e pode manter vivas pessoas como aquele gênio cientista inglês, se não me engano especializado em robótica, que é tetraplégico, e mesmo assim é um dos seres humanos mais úteis e produtivos do planeta, criando inclusive as próprias engenhocas eletrônicas que lhe permitem comunicar-se apenas com a cabeça.
Desta forma, a capacidade de sonhar pode colocar o ser humano diante de situações que só a sua imaginação pode considerar real. Alberto Einstein sempre colocou a imaginação à frente da razão em seu trabalho científico, levando a extremos o que é muito comum, em termos artísticos, chamarmos de insights criativos. Todos nós temos esses insights, eles não são exclusividade de gênios, pertencem às pessoas comuns. O importante é percebê-los e segui-los à luz da razão.
Por isso tudo, sonhar é acreditar nas nossas possibilidades. Tornar os sonhos reais é só uma questão de mudar a nossa concepção tradicional do que seja “realidade”. Sonhar é fruto do gênio que habita dentro de cada um de nós, e que aos poucos ou apenas remotamente se manifesta visivelmente. Então, porque deixar uma ferramenta, como os sonhos, enferrujada? Por que deixar a caixa fechada, quando é um presente que nos foi dado? Um presente com poderes que podem alterar nossas vidas. Vamos, pois, sonhar e realizar nossos sonhos. A felicidade da vida reside na força interior que temos, na possibilidade de construir, sempre, dias melhores. Somos, cada um, um pequeno mundo e dentro dele estão o sol, a lua e as estrelas. Que sejamos felizes!
DICAS DE GRAMÁTICA
UM AGRAVANTE, UM ATENUANTE?
– Agravante e atenuante são palavras femininas. Portanto, uma agravante, uma atenuante. Sempre.
TODO MUNDO?
– Todo o mundo erra essa. Todo o mundo precisa saber que o correto é “todo o mundo” em qualquer situação.
A JANTA ESTÁ NA MESA?
– A janta está quase consagrada pelo uso, como se costuma dizer nos meios gramaticais. Mas, se você preferir uma forma mais correta, diga sempre: O jantar está na mesa.
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Luísa Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ: Membro da Academia Brasileira de Filologia; Presidente da Academia Acreana de Letras.